Ladrão de ídolos e livros

A nova geração de torcedores que nasceu nas arquibancadas da Baixada como Arena se não sabe, precisa saber.

Jofre Cabral e Silva foi jogador do Atlético. Eram os anos 30, quando já tomavam forma as intenções do Reich Alemão. Às vésperas de um Atletiba, no Belfort Duarte, associando a origem alemã do Coritiba, falou: “Vamos lá pra cima e dar uma surra naqueles coxas-brancas”. Se o fundo da afirmação foi de ironia ou de desprezo, a verdade é que o Coritiba adotou essa identidade. Não se diz a torcida coritibana, mas “coxa-branca”.

Foi quem idealizou e executou o projeto do Clube Curitibano, que passou a ser uma das referências de clubes sociais no Brasil. Foi quem idealizou e executou o projeto do Santa Mônica Clube de Campo.

Em 1967, obrigou-se a antecipar o seu sonho de ser presidente do Furacão. É que não conformado de vê-lo rebaixado para a segunda divisão estadual, aceitou ser eleito. Rasgou o regulamento em um programa da TV Iguaçu, sensibilizando a opinião pública. Com o Furacão mantido na primeira divisão, formou o time histórico de 1968, que, entre outros, tinha Djalma Santos, Bellini e um menino de nome Zé Roberto. No seu projeto ambicioso, o Atlético iria absorver o Santa Mônica Clube de Campo, que na época era o maior clube social do Brasil, com 30 mil sócios.

Mas, aí, aconteceu: em 2 de junho de 1968, não suportando a provocação da emoção negativa da falha do goleiro Muca, em jogo do extinto Paraná de Londrina contra o Atlético, Jofre morreu do coração no VGD. Antes do último suspiro falou: “Não deixem nunca morrer o meu Atlético!”. A frase, transformando Jofre em lenda, foi adotada pelos atleticanos como exemplo da manifestação mais pura de ideal.

Seu enterro foi uma das maiores manifestações públicas de toda a história de Curitiba. Mais de 100 mil pessoas o seguiram, cantando o hino da camisa que só se veste por amor. Todas as ruas do trajeto entre Baixada e Cemitério Municipal foram tomadas por um povo triste e emocionado, que queria despedir-se de Jofre.

Uma matéria do jornalista Napoleão de Almeida, no UOL, obriga-me a resumir essa história. É que sob o pretexto de neutralizar as críticas pelo esvaziamento popular do Atlético, à propósito da frase “não deixem nunca morrer o meu Atlético”, Mario Celso Petraglia escreveu: “O pedido de Jofre já foi atendido… (sem muita moral teve esse senhor para pedir isso pois nunca ganhou ou fez alguma coisa séria pelo CAP!)”.

A frase de Petraglia é própria de quem está alcançando uma desorganização mental pelas investigações policiais, risco da Baixada ir à leilão, e esvaziamento popular do clube. Consciente, só escreveria o que escreveu se fosse um idiota, coisa que provou não ser.

Os atleticanos não podem queimar ídolos e livros da história do Furacão, como Petraglia está fazendo. Precisam protegê-los e guardá-los como valores intocáveis. É preciso, porque no futuro alguém pode escrever contra Petraglia, querendo mandá-lo para a história como um ladrão.