Em regra, antes da Lei Pelé o termo final do contrato dos jogadores coincidia com o mês de dezembro. Para estabelecer um limite de valores na renovação dos clubes com aqueles jogadores que ostentavam a condição de líderes.
Desse tempo, guardo dois exemplos.
No Fluminense o falecido advogado José Carlos Vilela, “rei do tapetão”, primeiro renovava com Delei, Romerito e Ricardo Gomes. Depois com Assis e Washington. Resolvendo essas renovações complexas, o Fluminense de 1983 a 1985 ganhou o tricampeonato carioca.
Desde que chegou em 1970, Hidalgo sempre foi a “menina dos olhos” de Evangelino da Costa Neves, o imortal presidente do Coritiba. Pessoa de bem, líder por sua natureza e capaz jogando futebol, Hidalgo se transformou em capitão do time. A renovação do seu contrato era um amortecedor para Evangelino.
O presidente Mario Celso Petraglia, do Athletico, embora tenha o direito de exercer a faculdade de mandar readequar os salários dos jogadores, em razão da pandemia, nem mesmo em caráter possível, tratou de fazê-lo. No entanto, Thiago Heleno e Jonathan provocados por sindicatos (é fato público), responderam que os jogadores atleticanos não aceitarão a redução. Os dois e Wellington são influenciadores no CT do Caju.
Não me surpreende essa indisposição de não aceitar uma possível proposta de redução. O que me surpreende é que ela tenha o comando de Thiago Heleno e Jonathan.
Não há na história do futebol um exemplo de solidariedade como a que o Furacão dedicou a Thiago Heleno no episódio do doping. A consciência voluntária de se auto culpar, mesmo que Thiago soubesse do risco que estava correndo; o pagamento integral de toda a sua remuneração e de prêmios pelas campanhas, a sua defesa moral e jurídica e, depois, a renovação do seu contrato.
O lateral-direito Jonathan, com certeza, é o jogador de maior custo benefício para o Athletico. A desproporção entre o que joga e o que ganha torna o seu contrato o mais caro do Caju. Sempre de “chinelinho” por contusões, há tempo não pode ser considerado como uma opção regular para a lateral-direita.
A origem da solidariedade está na consciência que provoca os sentimentos. Mas, também, na lucidez, pois a solidariedade, às vezes, tem um caráter retributivo, quando surge a oportunidade de agradecer o que o outro lhe ofertou, mesmo que o tenha feito por obrigação.