Coxas honestos

Certa vez escrevi, e os coxas não gostaram, que um dos grandes males do Coritiba é reunir uma vez por mês o Conselho Deliberativo. O mal torna-se mais grave pelo sistema ser adotado em uma época de fracassos no campo. Se não houver o mínimo equilíbrio emocional, o regime passa para o estágio de irresponsabilidade.

É o que ocorre. Os dirigentes eleitos comandados por Samir propuseram e os conselheiros aceitaram apurar a responsabilidade de Rogério Bacellar, José Fernando Macedo, Gilberto Griebeler, Alceni Guerra, Celso Andreatta, que constituíram o Conselho que administrou o clube até 2017. Por uma questão pessoal, porque não causa jurídica, criaram a figura do dirigente “de fato”, para alcançar Ernesto Pedroso.

Bem resumidos, o ofício nº 003/2018-GP, por citação da lei do PROFUT, quer que seja apurada a responsabilidade dos ex-dirigentes. Não entro no mérito, embora afirme que mandar apurar responsabilidade sem que o fato tenha uma consequência final, como é o caso, no futebol é abuso de direito.

O fato que os novos administradores imputam aos ex-dirigentes é o de que deixaram de recolher encargos tributários, o que sujeitaria o Coritiba a perder os benefícios do parcelamento federal.

O ofício não é instruído com nenhuma prova de que há ameaça formal para a exclusão do clube. E, se houvesse, a própria lei autoriza-se uma nova composição nas mesmas condições anteriores.

Os afobados dirigentes irão aprender que no futebol os fatos não se projetam ao público na forma de verdade, mas na forma de versões que são criadas pela conveniência de cada um. E quando se trata de apurar a responsabilidade, a primeira idéia do torcedor é a de que houve subtração ou desvio de valores, alcançando os valores da personalidade humana.

Se há irresponsabilidade a ser apurada não é dos dirigentes que saíram, ao contrário, Bacellar está tendo que colocar stents no coração, e Pedroso está com uma muleta na mão, sem considerar os sacrifícios financeiros que fizeram, por um idealismo que já não se encontra mais nos homens.

O pedido de providência encerra uma verdade: logo, não haverá mais coxas disponíveis para assumir o comando do clube. Qualquer um que deixa o cargo, logo é acusado de improbidade por quem é eleito, criando-se um ciclo tão vicioso, que às vezes dá a impressão de que “não existe coxa honesto”. Já tinha ocorrido com Vilson Ribeiro de Andrade e seu G-5, e agora ocorre com Bacellar e a sua turma.
Voltarei ao assunto.