Ser cego e surdo já não era o bastante. Os dirigentes Rogério Bacellar e Alceni Guerra pediram aos coxas que também fossem ingênuos: os dois passaram um mês prometendo o impossível, que era trazer Ronaldinho Gaúcho. Agora, querem fazer os torcedores de idiotas. Não há outra interpretação que se possa dar à nota em que o clube deu por encerrada a negociação: Ronaldinho assumiu outros compromissos. Só um idiota desconhecia que Ronaldinho tinha uma proposta milionária por dez anos para voltar ao Barcelona como a atração maior de um projeto publicitário no Oriente e na Ásia.
Mas nós, jornalistas, também erramos: muitas vezes, preferindo uma análise singular e cômoda, vemos só o óbvio e ignoramos o essencial. Sempre apontamos as criticas para os dirigentes, porque esses, culpados ou não, são sempre responsáveis em razão da hierarquia. No caso, o essencial é saber como enquadrar Juliano Belletti, trazido por Alceni Guerra para promover internacionalmente o Coritiba.
Não se podem dissociar as intenções e os atos de Belletti com a equação financeira do seu contrato. É fato notório que para “promover internacionalmente o Coritiba”, Belletti vai ganhar durante um ano 13 salários de 100 mil reais, e mais uma comissão de 10% em cada negócio que participar. Quero dizer: se Ronaldinho aceitasse, o Coritiba teria que pagar ao seu diretor internacional, além do salário fixo, mais 10% sobre o lucro integral que o seu amigo gaúcho ganhasse, incluindo venda de camisas, publicidades e sócios.
Há um escancarado conflito de interesses no contrato de Belletti. Surpreende-me que o presidente Bacellar, com o seu grau de inteligência, não perceba que o risco integral é só do Coritiba – porque, na pior das hipóteses, não fazendo nenhum negócio, Belletti terá garantido 13 salários de 100 mil reais em um ano.
O que Belletti é, é despreparado para exercer a função. O fato de ter sido jogador do Barcelona e do Chelsea não lhe dá qualificação que se exige. A prova é que, agindo para benefício próprio, sem medir as consequências negativas, o que fez foi reduzir ainda mais o prestígio do Coritiba, que já anda abalado com a sua vida de recente de fracassos e com as trapalhadas dos dirigentes.
Em mais de 100 anos, ninguém ousou chamar o Coritiba de “time pequeno”. Pois, Belletti conseguiu que o jornal As, da Espanha, usasse esse adjetivo para lhe imprimir esse tratamento. Agora, o diretor de relações internacionais, com seu padrinho Alceni, anuncia o plano B. Um garçom me contou que estão querendo o centroavante Luiz Fabiano. Os garçons sabem de tudo.
Se Rogério Bacellar tiver respeito pela história do Coritiba (presumo que tenha), Belletti não continuaria no clube. O ambiente de desconfiança que se criou é tão grande, que amanhã ou depois não faltará quem diga que os interesses do diretor internacional são divididos com o interesse de algum dirigente.