Começo de jogo

No futebol, por ser um jogo sem roteiro, e por isso tornar-se às vezes caótico, tudo o que é novo impõe riscos. E são riscos extraordinários, porque o futebol, perdendo o romantismo como esporte ao transformar-se em um milionário negócio, fez com que o fato ganhasse mais relevância do que a versão. O bom senso deve, então, intervir na critica e considerar, também, o erro humano como componente dos fatos.

Dentro desse critério Paraná, Atlético e Coritiba começam bem o ano de 2017. Não no sentido de que os movimentos iniciais sinalizam certeza de sucesso, mas no sentido da coerência que se exige dos dirigentes tomando como referência os erros e as virtudes do ano que passou.

Atlético e Coritiba praticaram o ato mais importante que as circunstâncias, por tratarem-o condição essencial, não transigiam: manter Paulo Autuori e Paulo César Carpegiani no comando técnico. Com dois técnicos capazes e independentes, e que já estavam dentro de casa, irá se ganhar o tempo de observação e estudos para a formação do time, que é dado a um novato.

O Furacão pegou uma sobra do bom negócio com Hernani e adquiriu o meia Felipe Gedoz, um nômade brasileiro, cuja barraca andava armada em um terreno belga. Se vi Felipe jogar, não me lembro de Felipe. É aí que entra o fator risco, que às vezes traem as análises que motivaram a contratação. Ao contrário de Grafite. A sua idade avançada (37) é absorvida pelo talento com a bola e a inteligência para cortar caminho, ficar próximo do gol e marcar.

O Coritiba trouxe Rildo, que com Kleber e Berola formará um ataque técnico e de velocidade. Com Jonas vai dar proteção à zaga. Mas faltam laterais e, em especial, um meia, que não é Tiago Real. Mas o grande problema o Coritiba pode resolver agora: o G-5. Quando a solução depende da opinião de cinco dirigentes, torna-se lenta. E o futebol exige decisões rápidas.

Não é razoável afirmar que o Paraná não começou bem por ter dispensado quase todos os jogadores, técnico e executivos do futebol. No futebol, a coerência é como na vida: ela não se mostra apenas quando se mantém certo. Ao contrário, a coerência mais vigorosa está em mudar tudo o que está errado, porque a motivação é o reconhecimento da própria culpa. O grande erro do Paraná em 2016 foi no início do ano, quando contratou em massa, sem critério, como sistema e conjunto fossem impostos por uma vontade isolada e de improviso.