Campeão

A morte não é nada, prega Santo Agostinho. Bem por isso, em Confissões, tratou a vida como uma miséria humana. Bem mais tarde, Fernando Pessoa escreveu que “tão cedo passado tudo quanto passa. E cala. O mais é nada”. E daí veio Vinícius de Moraes: “Bom dia amigo, Que a paz seja contigo. Eu vim somente dizer, que eu te amo tanto, que vou morrer, Amigo… adeus.”

Não é fácil tratar da morte. Não sou poeta, nunca serei santo. Consigo ser solidário, mas às vezes me confundo, porque é estranho ser solidário à dor dos outros. Procura-se dar conforto, onde não há lugar para conforto, porque está cheio pela dor da perda. A dor dos outros sempre é mais profunda que a nossa solidariedade. Essa dor já foi ou será a nossa dor. E nenhuma solidariedade irá consolá-la.

Desculpe o leitor, mas confesso-me despreparado para escrever sobre a tragédia da Chapecoense. Não é por falta de fé e nem de espírito. É que por ser humano, sou um fraco.

O desastre não foi diferente de todos os desastres: um avião caiu e pessoas morreram. Mas a reação do povo brasileiro, que em certo momento alcançou o estágio de trauma, foi porque morreu um time de um clube pequeno, de uma cidade pequena, e que o brilhantismo o tornou grande. O futebol tem a capacidade de provocar todos os sentimentos, inclusive, o de comover um povo como se todos fossem Chapecoense.

No máximo posso expressar o meu respeito pela dor. Para ilustrar, destaco Caio Júnior. Porque os tempos eram outros, não convivemos. Encontrava-o no elevador do meu prédio, quando ele chegava para visitar seus tios Mário Pereira e dona Marlene, e rever seus primos, entre eles, o doutor Luiz Fernando Pereira, o Pereirinha.

Como treinador viveu intensamente como todo o treinador. Sempre no limite, ganhou e perdeu, chegou ao estado da euforia e desceu ao da decepção. Como todo o treinador viveu no limite.
Caio não ficou sabendo, mas morreu como campeão.

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