Não conheço pessoalmente Paulo Autuori. Dispenso conhecê-lo se for para afirmar que é uma expressão rara de honestidade de propósitos no futebol brasileiro.
As suas reações públicas contra o sistema, que já lhe custaram suspensões, não são provocadas pelos impulsos emotivos, que no futebol já vêm acompanhados do perdão. São reações impulsionadas pela consciência que se submete aos princípios do justo e, portanto, do bem.
Essa sua virtude não está na sinceridade em expor as suas ideias, em especial, críticas. Talvez, entenda, também, que a sinceridade não é necessariamente uma virtude. Às vezes, o ser humano se apresenta como sincero para esconder uma conduta censurável.
As críticas de Autuori ao sistema prostituido do futebol brasileiro são sempre manifestadas com base em fatos que ninguém tem argumento para tornar controvertidos. Não é sincero por já ter se realizado na vida. É sincero por ter caráter.
Na época, a única voz discordante pela volta do futebol nas condições em que voltou, foi Autuori. Nenhum outro treinador, nenhum jogador, todos subservientes dos interesses de cartolas e clubes.
Depois do jogo no Mineirão, Autuori, sem diminuir o prestigio da vitória do seu Athletico, não pode deixar de associá-la, também, à crise sanitária causada pelo Covid-19, que abala o Galo.
Falou Autuori: “competição injusta”, e que “o interesse se sobrepõe à razão”. Conclusões que parecem simples por serem lógica diante dos fatos, mas que ninguém teve a coragem de apresentá-las.
A expressão “competição injusta” recepciona tudo o que de mal ocorre neste campeonato e no futebol brasileiro. Os cartolas, os jogadores e os clubes para atenderem os seus interesses materiais, preferem correr riscos expondo-se à influência mortal do vírus. É injusto que um time ganhe porque, além das suas virtudes, o seu adversário estava contaminado. Amanhã, pode ser ele próprio a vítima.
Às vezes em tenho pena de Autuori. Prega a verdade, mas, ele é quem acaba sendo condenado.