Adeus às ilusões

Volto de joelhos para saudar Carlos Heitor Cony, que foi embora. Imortal, as suas crônicas que revezavam lirismo, pessimismo e ironia, eram sempre centradas em um dado histórico. O que Pelé era capaz de fazer com a bola em um palmo de grama, Cony com seu notável poder de síntese, fazia com as palavras. Aos 91 anos, morreu escrevendo.

O Clube Atlético Paranaense está se transformando em um tédio. Se nos janeiros passados, comprava a paixão do seu povo com golpes ilusórios, agora a subtraí em troca do nada, em um escancarado crime contra os seus sentimentos.

Bem resumido, lembremos: em dezembro de 2017, Mario Celso Petraglia, que detém a posse do clube, atraiu Seedorf para Curitiba, e exibindo os soberbos CT do Caju e Arena da Baixada, quis sensibilizá-lo a ser o técnico e o dono do futebol do Furacão.

Ignorava que o holandês por ter vivido os seus melhores dias no maior clube do mundo, o Real Madrid, não se sensibilizaria com a matéria, mas com as ideias. E ideias para o futebol, Petraglia nunca teve. Então, Seedorf teve o bom senso, que historicamente sempre esteve ausente nos atos do cartola: não respondendo ao convite, evitou que o Atlético contratasse um técnico inexperiente ao custo de 500 mil reais por mês.

Se faltou a Petraglia bom senso ao querer Seedorf, faltou-lhe racionalidade (o que é mais grave) ao contratar Fernando Diniz. Diniz é um curioso de experimentos táticos. Com seus caprichos autoritários, constrange publicamente os jogadores.

Mas se o problema fosse esse seria fácil resolvê-lo: demitir Diniz no primeiro grande fracasso. Ocorre que o problema é mais grave: Mario Celso Petraglia, ao assumir o comando do futebol, dá provas de que perdeu a noção das coisas. Sem a capacidade específica para tratar de futebol, e queimado perante a classe profissional, reduz o poder de sedução do Furacão, restando o mercado de sobras.

Antes ficassem as ilusões.