A carta com proposições, que Atlético e Coritiba enviaram ao comando da Primeira Liga, tem um texto amistoso, mas é pesada pelo princípio que adota: o da igualdade entre todos. Nossos clubes nada mais querem que a divisão do dinheiro da televisão obedeça um critério justo, pelo qual 50% são divididos de forma iguais entre os clubes, e outros 50%, aí sim, serem divididos por critérios que protejam marcas, poder de audiência, técnico e de público. Bem resumido: Atlético e Coritiba nada mais querem que se introduza na relação entre clubes, e entre clubes e televisão, o justo equilíbrio.

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O mais grave dessa relação viciada é que a maioria dos clubes não reagem como vítimas, aceitando o sistema que faz sobrepor a tradição ao justo. Ignora-se o fato de que no futebol a tradição não tem origem esportiva, mas na influência provocada pelas divisões geográficas e políticas de um país. Dentro das regras do mercado atual do futebol, a tradição deixou de essa essência absolutista. O futebol evoluiu, o poder foi descentralizado, e outras referências importantes como a tradição surgiram. Sem paixão ou clubismo, é possível afirmar com autoridade que o Clube Atlético Paranaense é a referência desses novos tempos, por sua estrutura física e gerencial. Fosse esse Furacão um clube do Rio ou de São Paulo, não se submeteria à tradição de Flamengo e Corinthians.

Há um grande equívoco quando se culpa a televisão por esse desequilíbrio. Para ela seria indiferente dividir em proporções justas o dinheiro que se propõe a investir no futebol. Desde que adquira os direitos de transmissão, a forma de divisão passa a ser irrelevante. E afirmo mais: até a televisão gostaria de que essa divisão fosse mais justa, pois daria um resultado maior de equilíbrio técnico, e em consequência um campeonato de final imprevisível. O problema são os clubes que discriminam uns aos outros em razão da tradição.

Atlético e Coritiba querem mudar essa cultura através da Primeira Liga, que nasceu para ser uma ordem sem os vícios que maltratam o futebol brasileiro.

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Se essa intransigência tiver como custo a saída dos dois do torneio, valerá a pena. A grandeza se revela, também, expondo o orgulho próprio para praticar atos.