Acostumamo-nos, quase sem pensar, a atribuir aos políticos as práticas mais nefastas e repulsivas: corrupção, nepotismo, incompetência, favorecimentos, conluios, entreguismo, etc. De certa forma, esta catarse de expressões, ditas sempre em um tom mais alto do que o normal, alivia e quase conforta. “São eles os pulhas!”; “São eles os que fazem com que o Brasil não vá pra frente!”. E assim, nós, o povo, acostumamo-nos a imaginar um país em dois planos: os eleitores, os cidadãos, sempre enganados e os eleitos, os com mandato e/ou função pública, sempre enganando.
Ah, se fosse assim! Como a saída seria então fácil e rápida. Fecha-se o Congresso, exoneram-se os governantes, destituem-se os juízes e todos os outros operadores públicos. E aí chama o povo e devolve-lhe a soberania e a tarefa de recompor os espaços de poder. E pronto. Seria possível que os mesmos erros fossem cometidos mais de uma vez? Ou, no máximo, mais de duas vezes? Não, né?
Mas não se trata de nada disso. A probidade não é um lugar, uma categoria, um estrato social. A honestidade não é uma faixa da população. A idoneidade não é uma escala de formação acadêmica. É, simplesmente, uma ideia que se cultiva e se exercita. Individualmente. Um dia de cada vez. Sem férias ou feriado religioso. Apenas isso.
E, exatamente por ser assim, por mais que gostemos de generalizar e estigmatizar, a conduta ética é algo que pode faltar em qualquer lugar. Basta a oportunidade. Seja uma greve de policiais militares, seja uma fiscalização frouxa dentro de uma Universidade Pública, seja uma garrafinha de água esquecida em cima da mesa. Não há ilusões. O punguista, o larápio, o fraudador, o chantagista, o saqueador, estão onde a oportunidade permitir. A ocasião revela o ladrão. E eles são gente muito atenta e observadora.
Mais de 7 milhões de reais foram desviados da Universidade Federal do Paraná na forma de pagamento de “bolsas de pesquisa”. Um esquema que achaca o esforço de centenas e centenas de estudantes, professores, pesquisadores em buscar receber, com seus esforços e conquistas, o reconhecimento e o financiamento de suas atividades. Achaca, cospe na dignidade dessas pessoas e na sociedade como um todo. No Espírito Santo, a greve da Polícia não colocou somente a população em risco. Fez muitos assumirem o risco de serem presos em suas experiências como ladrões. Os “arrependidos” justificaram-se: “agi por impulso”.
Dizer que há uma crise de valores é ridículo. Há uma exacerbação de valores! Os valores de uma sociedade que prega o sucesso e a riqueza a qualquer custo. O que é necessário é rever, urgente, urgentissimamente, esses valores. Ou locupletarmo-nos todos.
* Daniel Medeiros é Doutor em Educação Histórica pela UFPR e é professor no Curso Positivo.