Sempre vemos as pessoas com essa dúvida e muitas desconhecem o que os pets podem consumir além de ração. Para sanar essas e outras dúvidas a coluna conversou com a Médica Veterinária Andrea Barros, que é especialista no assunto. Ela atende consultas pet nutri presencialmente em Curitiba e Região Metropolitana, seguem as informações.
Até a década de 80, a ração era um produto quase desconhecido no Brasil. A lendária Bonzo chegou e promoveu uma mudança paulatina na rotina de consumo dos responsáveis pelos pets da época.
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As gerações até 1980 tinham em suas mentes que alimentação pet era sobra de comida pós refeições dos tutores, ou a famosa polenta do Vô, que fazia com que os cães vivessem muito bem de saúde e longevos. A média que me contam é de 12 a 14 anos, mas haja vô nesse país. Todo dia alguém me conta a mesma história, seria o mesmo avô para todos nós? Ah, sim porque meu avô também fazia assim com os cães dele! Eu quero a receita dessa polenta na minha mesa já!
No entanto, com a chegada das rações, a resistência de sua adoção na rotina de alimentação dos pets foi sendo quebrada e coincidiu com um período de grande demanda no mercado de pessoas buscando sua chance no mercado de trabalho, deixando as pessoas mais longe de casa durante a semana.
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Pet nessa época não era ainda tratado como hoje, Muito os tem como filhos, vivem em casa. Nessa época o conceito de família multi espécie que agora está na moda não existia, assim os cuidados eram menores, atendendo apenas as questões básicas.
Pet pode comer comida?
A geração de 90 em diante já tem em sua memória seus pets sendo alimentados exclusivamente com rações. Os mais velhos não deixaram de resmungar, dizendo que aquilo era um absurdo. Os mercados pet e vet passaram a pressionar a população com orientações sobre o uso exclusivo desses alimentos. Nesta guerra, ganhou a ração (e os pets também!)
Exatamente isso, ganharam. Temos que parar de execrar as rações. Elas trouxeram benefícios na padronização de micro e macro nutrientes aos pets, que nenhuma polenta do Vô poderia oferecer. Com isso, além de maior acesso a veterinário e tratamentos, os pets tiveram um ganho substancial na média de vida de população, saíram de 6 ou 8 anos, para 12, 14 anos, a média do Vô, mas para todos os pets, não um ou outro.
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O aspecto técnico a maioria nem considera, mas o que mais conquistou os tutores foi a questão da praticidade e economia, seja de tempo ou dinheiro.
Mas pode ou não pode?
Sim, pet pode comer comida, mas a refeição precisa ser devidamente equilibrada e balanceada. Esse deveria ser o primeiro passo, dado pelo tutor, para migrar seu pet da ração para a alimentação natural.
Comida caseira é aquela feita em casa. A comida natural pet ou alimentação natural (AN) pode ou não ser caseira, pois há empresas e pessoas no mercado que se especializaram no fornecimento de refeições minimamente processadas, com alimentos de grau de consumo humano (que é consumido igualmente pelo humano em sua rotina) e com formas de preparo muito similares.
É cada vez mais frequente ver o retorno da comida caseira. Nas redes sociais há um farto material postado diariamente, por centenas de pessoas, cada qual com suas receitas mágicas e com alta aceitação pet. Isso não significa muito, pois as crianças, por exemplo, adoram comer coisas aparentemente gostosas, como fast food por exemplo, mas nada nutritivas. O mesmo se verifica com muitos pets em inúmeros lares.
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O risco da comida caseira, sem qualquer supervisão profissional, é o de promover danos à saúde de seu pet. Alguns destes problemas vão se instalando lentamente e a principal consequência é a diminuição da expectativa de vida de seu pet em meses.
Eles já vivem pouco comparativamente aos humanos e com uma alimentação feita em casa, baseada em sugestões leigas, podemos não ter o mesmo resultado do Vô com sua famosa polenta.
A comida natural ou AN comprada, em geral pode ser adquirida congelada e entregues prontas por empresas especializadas, com a responsabilidade técnica de um veterinário ou zootecnista. Se optar por esses serviços, se certifique sobre este detalhe importante.
Mas porque a comida natural pode voltar?
Dois fatores estão pressionando esse retorno à comida. O primeiro motivo é mais nobre: melhoria e busca de uma qualidade nutricional maiores, dispensando os industrializados. Já o segundo motivo é preocupante de qualquer ângulo que eu veja: custo.
Baratear o custo da alimentação do pet, substituindo rações premium ou super premium, por AN, ok, sem problemas, desde que entenda que para substituir uma ração dessas, o seu equilíbrio deve atingir os mesmos níveis nutricionais que a ração que está deixando para trás tem.
Você consegue rações baratas, com formulações muito simples e que mesmo assim ainda garantem o mínimo nutricional para o pet. Destaco aqui o “mínimo”. Consultar um veterinário que trabalhe na área. Uma AN que seja de formulação premium e super premium, em geral, pesa no bolso, mas o profissional será capaz de uma formulação chamada de manutenção. Aqui teremos o mínimo da parte nutricional sendo alcançado.
O ponto mais preocupante é que nas formulações executadas em casa, muitas vezes a receita acaba sendo descaracterizada e perdendo seu potencial nutricional devido as substituições. O tempo também leva a descuidos e relaxamento da disciplina no preparo, e quando menos se percebe, você já está aderindo às sobras de comida no pote do seu pet.
Comida pode sim ser dada ao pet, mas antes de mais nada responda a si mesmo a seguinte pergunta: qual meu objetivo – saúde x economia? Terei condições de respeitar as formulações profissionais? Não irei cair na tentação do “vou no que tem na geladeira”? Quero levar a sério e irei consultar um profissional para essa mudança?
Respondidas essas e perguntas afins a mudança segura de ração para AN pode ser muito bem-vinda para sua vida e do seu pet. Você passará bons momentos cozinhando para ele. É muito gratificante e divertido.
- Andrea Barros é médica veterinária, Mestre em Saúde Pública e Saúde Animal, Diretora da Pathas Nutrição Animal, Proprietária da Prato Pett Alimentação Natural Comercial para Pets, autora da série Pet Bom de Pote, colunista da Revista Dog Design.