Voltando ao ritmo com o fim do horário de verão

A estudante do ensino fundamental Laura Helena Lustosa, 12 anos, lamenta que, com o término do horário de Verão – neste final de semana – tem menos tempo para aproveitar o dia claro.

“Uso essas horas a mais de sol para me divertir e ficar com as minhas amigas”, diz. Bruno Conte, de 15 anos, diz não ter problemas de adaptação. “Não me importa se é horário de Verão ou não, o que é bom é ter mais tempo para sair antes que comece a escurecer”, observa. O mesmo não acontece com Juliane Batschke, de 12 anos. “Às vezes, eu me sinto um pouco perdida com os novos horários e, também, é mais difícil sair da cama cedo”, afirma.

Em determinados horários sentimos fome, em outros nosso cérebro indica a hora que devemos dormir ou despertar. Além disso, convivemos com os ritmos que se repetem a intervalos de aproximadamente um mês, como o ciclo menstrual e os mais longos, como as estações do ano.

Estes ritmos são regulados por uma espécie de “relógio biológico” e precisam estar afinados como uma orquestra para nos proporcionar uma plena condição de saúde.

O biólogo Ivo Hartmann explica que em nosso organismo existem glândulas que ajustam o corpo ao horário, por meio do ciclo claro/escuro ou pelas atividades regulares que fazem parte de nossa vida, como os horários de alimentação e de trabalho.

Problemas de saúde

Desregular esse tempo biológico, como por exemplo, no horário de verão, faz com que o cérebro seja obrigado a produzir outras reações a fim de se reprogramar. Isso não acontece de imediato.

“Assim como o organismo não está preparado para dormir de dia, também não está adaptado para acordar no escuro da madrugada”, observa o especialista. As pessoas cujo estilo de vida implique grande irregularidade de horários por longos períodos de tempo estão sujeitas a problemas de saúde, como estresse, distúrbios do sono e do sistema digestivo, entre outros.

Crianças e adolescentes sofrem menos que adultos para se adaptarem a mudanças de horários.

Mesmo assim, é preciso tomar alguns cuidados para evitar problemas como perda de concentração e ansiedade.

Com o término do horário de verão, que aconteceu neste final de semana, as dicas básicas são praticar exercícios físicos, manter os horários de sono e evitar alimentos estimulantes antes de ir dormir.

Readaptação variável

Segundo a psicóloga do Grupo Educacional Bom Jesus, Caroline Sobocinski Paes Pereira, a atenção é necessária em dois períodos de adaptação. Tanto quando os relógios são adiantados, no início do horário, quanto quando são atrasados, como agora.

Para as crianças, a adaptação exige mais pelo lado emocional. Já para os adolescentes, a adaptação física é mais difícil. “As alterações no sono podem provocar cansaço e sonolência em sala de aula”, comenta.

Outra probabilidade é o surgimento de problemas com a alimentação. De acordo com a especialista, não dá para prever quanto tempo é necessário para se sentir à vontade no novo horário. A adaptação é variável. Pode levar desde poucos dias até um ou dois meses, lembrando que crianças e adolescentes se adaptam mais facilmente do que adultos.

Para evitar que as noites de sono sejam prejudicadas com o fim do horário de verão, a orientação da psicóloga é para que se evitem alimentos e bebidas estimulantes antes de ir dormir. Também é preciso manter o horário de deitar e acordar.

“É importante explicar a eles sobre o assunto e fazer com que toda a família busque o mesmo ritmo”, reconhece Caroline. Outra dica é dormir com as cortinas e janelas abertas, pelo menos nos primeiros dias, pois a luminosidade natural ajuda na sincronização.

Desempenho comprometido

Para neurologista e especialista em distúrbios do sono, Márcia de Assis, dormir bem é essencial para a boa saúde.

Segundo a especialista, são as horas que o organismo reserva para descansar do desgaste do tempo em que passamos acordados, recuperando os hormônios vitais para o funcionamento do corpo e da mente.

A privação do sono traz o risco do surgimento de diversos distúrbios. A médica também reconhece que sacrificar horas de sono compromete o desempenho físico e mental, tornando as pessoas mais sujeitas aos acidentes. Outro alerta serve para a pessoa acostumada a dormir pouco, mesmo que não sinta sono. Algumas delas, quando frente a estímulos do ambiente, mascaram a necessidade de repouso – não obrigatoriamente sentindo sonolência.

“Isso é uma falsa e perigosa impressão de alerta, o que leva a pessoa a estar mais propensa a cometer erros e permanecer desatenta”, ressalta a neurologista Rosa Hasan. Com efeito, tarefas complexas que exigem atenção, tomada de decisões e reflexos, como conduzir automóveis, por exemplo, tornam-se mais arriscadas.

Ideia antiga

O principal objetivo do horário de verão é a economia de energia elétrica no horário de pico – entre 18 e 21 horas. Mas a ideia da medida nasceu antes mesmo da criação da eletricidade.

Em 1784, o inventor e jornalista norte-americano Benjamin Franklin sugeria que as pessoas acordassem mais cedo para aproveitar melhor a luz do dia e evitar o consumo exagerado de velas.

Na época, a ideia não foi bem aceita, sendo adotada na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, em 1914. Depois, seguiram-se outros países, inclusive os Estados Unidos.

No entanto, o horário de verão foi deixado de lado até a Segunda Guerra Mundial, em 1939. Hoje, mais de 70 países adotam a medida, entre eles os da União Europeia, Estados Unidos, Austrália e Rússia.

No Brasil, o horário de verão entrou em vigor, pela primeira vez, em 1931, no governo Getúlio Vargas. Naquele ano, durou cinco meses. Até 1967, a medida foi adotada por 11 vezes no País. Somente em 1985, por conta da falta de água nos reservatórios das hidrelétricas, os relógios passaram a ser adiantados em uma hora anualmente.

No Paraná, segundo a Copel (Companhia Paranaense de Energia), a estimativa de economia de energia elétrica durante o horário de pico nesta edição do horário de verão é de 5%. Além do Paraná, mais dez estados brasileiros adotaram a medida, que passou a vigorar no dia 18 de outubro do ano passado.

Efeitos colaterais

* Insônia
* Sonolência diurna
* Cansaço
* Fraqueza muscular
* Dores de cabeça
* Mau-humor
* Alteração do apetite
* Distúrbios estomacais
* Confusão mental
* Irritabilidade
* Queda da imunidade

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