A vida sexual das meninas tem começado cada vez mais cedo. Atualmente, em média 30% das adolescentes com 15 anos de idade, independente da classe social, já tiveram a primeira relação sexual. A informação é da professora do departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marta Rehme.
“Em média, as meninas têm iniciado a vida sexual aos 15 anos de idade. Porém, já recebi em meu consultório garotas de 12 e 13 anos que já haviam transado e, muitas vezes, estavam sofrendo as conseqüências do início precoce e da falta de maturidade”, afirma.
Segundo a professora, muitas meninas começam a se relacionar sexualmente por influência do grupo de amigos e não porque sentem vontade. Por um lado, elas têm vergonha de dizer para as amigas que ainda são virgens. Por outro, sentem-se constrangidas de contar aos pais que não o são, mantendo relações em segredo e sem orientação médica.
A precocidade também é influenciada pela mídia. Uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e divulgada este mês, revela que jovens que assistem com freqüência a programas de TV com conteúdos eróticos são duas vezes mais suscetíveis a ter relacionamentos sexuais precoces do que aqueles que não assistem. “A pesquisa é americana, mas o mesmo vale para o Brasil”, comenta a professora. “Muitas vezes, as adolescentes assistem a programas onde se faz sexo, mas não se fala em gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. Elas escutam que sexo é uma coisa boa, mas quando fazem sentem dor ou não gostam e acham que há alguma coisa de errado com elas ou com os parceiros, que muitas vezes também são inexperientes.”
Na opinião de Marta, as adolescentes têm acesso à informação, mas continuam achando que nada de mal vai acontecer com elas e não praticam sexo de forma segura. Os resultados podem ser tanto um bebê indesejado, quanto aids e outras doenças contraídas sexualmente. “Tudo isso pode gerar tanto conseqüências físicas quanto psicológicas à menina, que irão se refletir sobre a vida adulta.”
Para evitar que as adolescentes sejam vítimas das conseqüências de relacionamentos sexuais precoces e imaturos, a melhor alternativa é a manutenção de um diálogo aberto com os pais. A professora explica que os pais não devem tentar esconder a realidade de suas filhas, mas sim se mostrar dispostos a esclarecer dúvidas e transmitir informações.
“Uma dica é deixar alguns livros educativos aleatoriamente espalhados pela casa, sem imposição de leitura. A visita à ginecologista também deve ser apresentada às jovens como uma alternativa”, diz. “Quanto aos programas de TV, os pais devem analisar o conteúdo e decidir o que os filhos podem ou não assistir, sempre mantendo uma conversa franca.”
Grávida
A adolescente P.P.A., de 17 anos, iniciou sua vida sexual aos 16, com o primeiro namorado. Ela estava há nove meses com o rapaz quando teve a primeira relação. Tempos depois, descobriu que estava grávida. Desesperada, tentou esconder o fato dos pais. “Escondi durante todo o primeiro mês de gravidez, mas minha mãe já estava estranhando o fato de eu não estar menstruando. Um dia, passei mal e precisei ser levada ao hospital. Daí não tive mais como esconder”, lembra.
A garota conta que os pais ficaram muito chocados com a gravidez, mas a apoiaram na decisão de ter o bebê. O mesmo fez o namorado, que não se recusou a assumir a paternidade da criança. Hoje, aos nove meses de gestação e prestes a dar à luz um menino, P.P.A. conta que muita coisa mudou em sua vida. “Tive que deixar a escola, onde cursava o segundo ano do ensino médio. Agora, só vou poder retomar meus estudos no ano que vem, depois que o nenê nascer e já estiver maiorzinho”, revela. “Estou feliz com meu filho, mas se pudesse voltar no tempo tomaria providências para evitar a gravidez.”
Especialistas debatem o tema
Cerca de mil especialistas, oriundos de diversas regiões do País, vão estar participando, entre os dias 22 e 25 deste mês, da oitava edição do Congresso Brasileiro de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência. O evento acontece no Embratel Convention Center, em Curitiba.
Na ocasião, estarão sendo debatidos temas como a iniciação sexual e a importância da educação sexual na escola e na família; as dificuldades da anticoncepção e estratégias para o uso de métodos contraceptivos; a incidência das doenças sexualmente transmissíveis e a aids; cuidados na gestação de adolescentes; a violência sexual na infância e na adolescência; programas de assistência à adolescente; aspectos de crescimento normal e anormal, obesidade e distúrbios alimentares. (CV)
Serviço: Mais informações sobre o congresso podem ser obtidas através do site
www.adolescente-sogia.com.br.