Veneno de aranha facilita descoberta de medicamento

Cientistas do Departamento de Histologia e Embriologia do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) verificaram que o veneno da aranha armadeira, a Phoneutria nigriventer, é capaz de romper a chamada barreira hemato-encefálica. A descoberta poderá servir de base para futuras pesquisas que visam facilitar o acesso de medicamentos ao cérebro.

A notícia foi publicada pela revista eletrônica ComCiência, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. A barreira hemato-encefálica, responsável por regular o trânsito entre o sangue e o cérebro, é altamente seletiva, pois mantém certas substâncias fora do sistema nervoso central, mas também permite que os nutrientes cheguem aos neurônios. Trata-se de um mecanismo que garante ao sistema nervoso central manter-se preservado de substâncias tóxicas, mas que também impede a entrada de muitos medicamentos no cérebro, o que dificulta o tratamento de doenças neurológicas.

As autoras do estudo, Luciana Le Sueur Maluf, Maria Alice da Cruz-Höfling e Carla Beatriz Collares Buzato, verificaram que o veneno da aranha armadeira ativa uma via de entrada no cérebro, “quebrando” a barreira hemato-encefálica. Isso pode explicar os casos clínicos de convulsões que acometem pacientes vítimas de acidentes com essa espécie de aranha. De acordo com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a armadeira é responsável pela maioria dos acidentes com aranhas em São Paulo.

Além das convulsões, o veneno causa hipertensão. “O que não se sabe ainda é se ele quebra a barreira diretamente ou se é a hipertensão causada pelo envenenamento que resulta no rompimento da barreira hemato-encefálica”, explicam as autoras.

Segundo as pesquisadoras da Unicamp, os estudos preliminares com cultura de células sugerem que a ação do veneno na barreira é direta, o que pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias que permitam a entrada de medicamentos no sistema nervoso central.

As pesquisadoras trabalharam com o veneno bruto da espécie. O próximo passo é isolar a substância que age especificamente na barreira hemato-encefálica, separando-a dos componentes tóxicos do veneno. O trabalho foi premiado no V Congreso de Anatomía del Cono Sur, realizado entre 12 e 16 de novembro na cidade de Temuco, no Chile. (Agência Fapesp)

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