Os paranaenses são os mais fiéis entre todos os estados do Brasil. Homens e mulheres do Paraná alcançaram os menores índices (19,3% e 42,8%, respectivamente) de relacionamentos extra conjugais ?oficiais?. A conclusão é de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, realizado no final do ano passado. No estudo, outro tema em que o estado se destaca é no uso de preservativos. Em torno de 32% dos homens e cerca de 18% das mulheres fazem uso da camisinha esporadicamente. A pesquisa ouviu 7.103 homens e mulheres das cinco regiões do país.
Para a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do estudo, uma importante indicação, obtida no levantamento, é de que dois terços dos casais que enfrentam problemas na relação sexual não falam sobre o assunto por desconhecer a forma de começar a conversa. Com os dados computados, especialistas em sexualidade começam a analisar as informações, levando em conta as características de cada estado brasileiro, sua cultura e hábitos pessoais.
Com a divulgação dos resultados, é de se esperar que o assunto seja cada vez mais discutido entre os profissionais ligados à área. Para a psiquiatra é cômodo para o governo, médicos e outros profissionais de saúde deixar a responsabilidade dos bons ou maus relacionamentos sexuais somente para os casais. ?Muitos deles ainda têm vergonha ou sentem constrangimento em trazer o tema sexo à tona, o que não pode acontecer”, analisa. No seu entender, com os dados específicos de cada região, é possível estabelecer metas próprias de intervenção, em parceria com especialistas de cada estado.
Qualidade é essencial
Segundo a terapeuta sexual Maria Mercedes Cerci, uma das principais queixas das mulheres em relação ao parceiro, ouvidas no seu consultório, é a falta de diálogo e de liberdade para expressar os sentimentos e desejos. Para a especialista, a retribuição afetiva é essencial para que o relacionamento sexual seja um momento de união e prazer, e não ?uma rotina cansativa e sem emoções?, alerta.
Para a médica, o declínio da freqüência das carícias preliminares entre as faixas etárias dos 30 aos 60 anos é um dos fatores que contribuem para a insatisfação sexual da mulher. No estudo, elas afirmam que a qualidade da eroticidade do parceiro se perde com o passar dos anos. Muitas se queixam que o jogo de sedução antes do ato sexual é rápido demais e isso acaba interferindo sobremaneira na qualidade do ato em si.
Outra importante queixa, citada pela médica, diz respeito à pura e total falta de desejo. Nada de novo nem de particular. Entre os fatores que contribuem para essa complicação, Maria Cerci destaca a influência dos hormônios sexuais, educação e valores culturais. Com o avançar da idade, mais e mais mulheres perdem gradativamente esse desejo. No estudo realizado pela USP, na faixa acima de 60 anos, um quinto delas não quer mais saber do assunto sexo.
Outra questão predominantemente feminina é a dificuldade para se chegar ao orgasmo. Esse distúrbio, de modo geral, atinge cinco vezes mais mulheres do que homens. Outro dado levantado pelo estudo é de que um percentual significativo de mulheres tenta agradar o companheiro com manobras eróticas, mesmo que não haja retribuição. De acordo com os depoimentos, elas já se satisfazem com o fato do parceiro ter ejaculado, apesar delas próprias não terem conseguido atingir o orgasmo.
Maria Cerci diz que é importante a mulher investir na sexualidade. A médica orienta para que as pessoas procurem auxílio especializado, no primeiro momento em que sentirem algum tipo de dificuldade no relacionamento sexual, não deixando cronificar o problema. ?Ninguém pode desprezar uma nova chance de resgatar o interesse pelo sexo?, enfatiza. Para tanto, a especialista frisa que é preciso estabelecer seus paradigmas e reformulá-los quantas vezes for necessário.
SITUAÇÕES QUE INTERFEREM NEGATIVAMENTE NO DESEMPENHO SEXUAL
SITUAÇÃO HOMENS MULHERES
Cansaço 50,1% 57,3%
Atividades diárias 28,1% 34,3%
Pouco tempo 19,4% 26,2%
Parceiro (a) antigo (a) 27,3% 24,8%
Ansiedade 24,9% 21,4%
Falta de atração 17,2% 16,8%
Medo de falhar 18,4% 6,2%
Dificuldades do(a) parceiro(a) 14% 9,9%
Fonte: Livro: Descobrimento sexual do Brasil ? Para curiosos e estudiosos.