Os olhos são as nossas janelas para o mundo. Só que muitas coisas podem tornar essas janelas ineficazes ? elas podem se quebrar, embaçar, desgastar, emperrar. Muitos fatores contribuem para que isso aconteça e qualquer que seja a causa, normalmente as pessoas se preocupam com o principal efeito dos problemas óticos em longo prazo: a cegueira, uma das maiores preocupações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para Valdecir Casamalli, 30 anos, monitor de uma granja de produção em Dois Vizinhos, no sudoeste do Paraná, essa preocupação chegou cedo quando, por acidente, um colega de trabalho ligou uma bomba de cal e uma mistura de cal, amônia e óleo atingiu seus olhos. ?Na hora não enxerguei mais nada, mas logo recuperei a visão em um olho?, conta. A outra, após meses de tratamento, foi considerada perdida. Até que Valdecir encontrou no transplante de células-tronco uma última esperança para recuperá-la. Foi encaminhado para especialistas que desenvolvem a técnica no Hospital de Olhos de Curitiba, realizou a cirurgia e voltou a enxergar e trabalhar. ?Às vezes a claridade ainda me atrapalha, mas já estou me acostumando?, vibra.
Compromisso social
Hamilton Moreira, diretor clínico do hospital, também comemora, afinal este centro de excelência em oftalmologia, em seus trinta anos de fundação, se sobressaiu por estar na linha frente do atendimento dos problemas da visão, ora utilizando técnicas inovadoras ou participando ativamente de pesquisas científicas, ora inovando com equipamentos de última geração e, principalmente, focando o lado social da oftalmologia. Não é para menos: nas últimas três décadas, o hospital, que se tornou referência nacional da especialidade, realizou cerca de 35 mil atendimentos, dos quais mais de 60% a pacientes originários do SUS. ?Nosso aniversário coincide com importantes ações que queremos preservar: o envolvimento nos principais mutirões e campanhas de combate à cegueira, promovidos no país?, realça o médico.
Este compromisso social ganhou importância neste ano, pois coincidiu com a preocupação da OMS, que pretende acabar com a cegueira reversível nos próximos 15 anos. Este desafio é mais do que justificável, já que entre 70% a 80% dos casos de cegueira existentes no mundo são evitáveis. Atualmente, são portadores de algum tipo de deficiência visual mais de 180 milhões de pessoas no mundo.
Da conjuntivite às células-tronco
Os declínios da visão se devem a diversos fatores, entre eles, os problemas de refração (miopia e hipermetropia), degeneração macular, glaucoma e catarata. Os pacientes que sofrem com essas doenças encontram no hospital as mais modernas técnicas e os mais avançados equipamentos para combatê-las. ?Costumamos dizer que atendemos desde casos de conjuntivite e prescrição de óculos a implantes de anéis intracorneanos, uso de células-tronco e cirurgias a laser com tecnologia utilizada pela Nasa para o programa espacial norte-americano?, comenta Hamilton Moreira.
A cirurgia de implante do anel intracorneano é considerada atualmente como um dos maiores avanços da medicina para tratar portadores de ceratocone. Neste quesito, a técnica aperfeiçoada no Hospital de Olhos do Paraná serve de linha mestra para tal tratamento no mundo.
COMO TUDO COMEÇOU
Carlos Moreira teve a intenção de montar um serviço padrão em oftalmologia. Na época, os hospitais gerais passavam por grandes dificuldades, não tendo condições adequadas para a realização de cirurgias oftalmológicas. ?No término de uma cirurgia gastrointestinal, entrávamos com uma cirurgia de catarata, por exemplo?, lembra o médico. Os problemas eram quase inevitáveis.
Em quase todos os hospitais, as tentativas de criar uma ala exclusiva para a oftalmologia fracassaram. Então decidi criar meu próprio serviço oftalmológico. Encontrei um imóvel adequado, numa região central de Curitiba, uma casa velha de dois andares onde funcionava um armazém de secos e molhados. Comprei o imóvel, remodelei e este foi o embrião do hospital. O empreendimento foi crescendo nos últimos 30 anos e hoje reúne profissionais de primeira linha. A sede é localizada em um edifício de seis mil metros quadrados, com espaços apropriados, aparelhos de última geração à disposição dos pacientes do SUS, convênios e particulares sem distinção. Todas as áreas da oftalmologia são atendidas, inclusive o transplante de córnea. Outro orgulho de Carlos Moreira é a residência em oftalmologia. ?Muitos dos nossos ex-residentes dirigem serviços oftalmológicos pelo Brasil afora?, jubila-se.
O hospital vai ganhando novos sobrenomes
Em Curitiba, o casal Carlos e Saly Moreira, seus filhos: Carlos Jr., Hamilton e Luciane, seguiram a vocação do avô, pai de Carlos: são todos oftalmologistas e professores universitários. Carlos Moreira Júnior é, inclusive, o atual reitor da Universidade Federal do Paraná. A família foi construindo o Hospital de Olhos do Paraná aos poucos nos anos 1970. Carlos, o pai, faz de tudo; Saly receita lentes de contato e óculos; Carlos Jr. dedica-se à retina; Hamilton a transplantes de córnea e cirurgias refrativas e de catarata; Luciane é especialista em cirurgia refrativa e lentes de contato; e a nora Ana Teresa é oftalmopediatra e se dedica ao glaucoma.
Só que a família Moreira vai agregando novos sobrenomes e não pára de crescer. O hospital se tornou um centro de excelência em oftalmologia e conta com o trabalho de 57 oftalmologistas associados. ?É um corpo clínico voltado para o estudo e para atividade científica?, reconhece Hamilton Moreira. Dos quatorze doutores em oftalmologista de Curitiba, dez atuam no Hospital de Olhos. ?Além deles, são inúmeros os mestres e especialistas?, completa.