O Brasil também pode ser considerado um país de surdos. De acordo com o último censo do IBGE (2000), existem 5 milhões de pessoas com alguma deficiência auditiva no país. Desse total, cerca de 1 milhão têm surdez severa profunda bilateral, que deixa a pessoa incapaz de ouvir em ambos os ouvidos. E o que é pior: para estes casos os aparelhos auditivos externos são ineficazes. No entanto, cerca de 350 mil pessoas poderiam voltar a ouvir, por meio da técnica do implante coclear. O procedimento, que é pago pelo SUS ou coberto por planos de saúde, traz benefícios a pouco mais de mil implantados.
?Apesar de não devolver a condição de audição normal ao paciente, após o processo de reabilitação fonoaudiológica, a percepção dos sons é quase perfeita?, atesta o otorrinolaringologista Orozimbo Costa. Ele lembra que um fator importante na corrida contra a surdez é o tempo. Nessa questão, o diagnóstico precoce é essencial, pois possibilita mais chances de sucesso com a cirurgia. Foi o caso do menino Gabriel Aguiar, que teve a surdez detectada logo aos seis meses de idade. ?Levamos um susto quando soubemos que o Gabriel era surdo e ficamos temerosos quanto ao futuro dele?, diz a sua mãe, Carla. Hoje seu filho ouve e fala tudo, além de estudar em uma escola para crianças ditas ?normais?.
Adeus, solidão
A mesma sorte não teve a manicure goiana Marineide Pereira. Ela ficou totalmente surda aos 14 anos, devido às complicações decorrentes de uma meningite e, só agora, aos 31 anos, depois de passar pelo implante, se considera uma pessoa feliz. ?Trabalho, converso com as pessoas, viajo sozinha, sem medo de não conseguir me comunicar?, diz Marineide. Praticamente o mesmo se deu com o gerente de uma empresa de agronegócios, Fernando Cabral, que aos 24 anos sofreu uma surdez total. ?Estava começando a carreira e a incapacidade explodiu os meus projetos como uma bomba?, declara. Sua carreira só foi retomada após passar pela cirurgia, em 2001.
Orozimbo Costa comenta que o implante coclear é mais indicado a crianças a partir de um ano e adultos com tempo curto de perda auditiva e que os processos de reabilitação pós-operatórios variam de acordo com cada caso. Em pessoas que ficaram pouco tempo sem ouvir totalmente, a readaptação tende a ser bem mais rápida. No caso de crianças em idade pré-lingual (antes de começarem a falar), como Gabriel, isso remete à oportunidade de um desenvolvimento intelectual muito próximo ao daquelas com audição normal e sem privações sociais. Para os adultos que voltaram a ouvir, como no caso de Marineide e Fernando, o procedimento significa esperança. ?O implante me tirou do abismo da solidão, curou minha alma?, garante Marineide.
Como funciona
O implante coclear é um estimulador elétrico que faz o papel do ouvido: capta o som e o transforma em pulsos elétricos, o que estimula o nervo auditivo, substituindo as estruturas orgânicas da audição. O aparelho tem uma parte externa, chamada processador de fala, e outra interna, implantada na cóclea (ouvido interno) por meio de uma simples cirurgia. O paciente volta para casa no dia seguinte ao procedimento.
Sem preconceito
Assim como existe o envelhecimento da visão, e a pessoa passa a ver menos, com a idade ela também passa a ouvir menos. Assim, como é natural o uso de óculos também deveria ser o uso de aparelhos de amplificação sonora (AAS), também chamados de próteses auditivas. ?As pessoas devem perder o preconceito em utilizar equipamentos auxiliares para a audição?, enfatiza Luis Carlos Alves de Sousa, coordenador da Campanha Nacional da Audição. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO), cerca de 30% das pessoas que procuram um otorrinolaringologista apresentam problemas de audição e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 15 milhões de brasileiros têm problemas auditivos, quadro que se agrava ainda mais na terceira idade. É conhecida como presbiacusia. Em alguns indivíduos, por ação de agentes, como a exposição a ruídos, uso de medicação tóxica para ouvidos, herança genética ou doenças, como o diabetes, a diminuição da acuidade auditiva interfere diretamente na sua qualidade de vida.
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