Rio de Janeiro – A pesquisa para a criação da primeira vacina brasileira contra o vírus HIV, causador da aids, será um dos temas abordados no 13º Congresso Internacional de Imunologia, aberto nesta terça-feira (21) no Rio de Janeiro.
Desde 2001, 15 pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), coordenados por Edecio Cunha-Neto, trabalham na vacina, feita a partir de vários fragmentos do vírus da aids reconhecidos pelo sistema de defesa de pacientes infectados. O método foi patenteado no Brasil e, de acordo com Cunha-Neto, os testes da vacina em camundongos tiveram resultados positivos.
?Imunizando esses animais com a vacina, baseada em DNA que codifica os pedacinhos de HIV, eles passam a ter uma resposta imune muito forte contra os componentes do HIV presentes na vacina. Nós já testamos isso com camundongos convencionais e humanizados, que têm parte do sistema imunológico humano?.
Segundo ele, a vacina tem capacidade de dar proteção a um número maior de pessoas em relação as que vêm sendo testadas no mundo.
“Começamos com pedaços do vírus que o sistema de defesa de mais de 90% das pessoas infectadas já reconhece. Isso nos garantiria que, se fizéssemos a vacina com esses fragmentos e injetássemos em pessoas antes de serem infectadas, um número muito grande delas iria ter uma resposta de defesa contra essa vacina e, em conseqüência, contra o vírus?.
Cunha-Neto explicou que, usando pequenos pedaços de várias partes diferentes do vírus, é possível obter uma cobertura maior para a vacina. Utilizando uma única parte maior, a resposta de defesa contra o vírus é limitadas, como ocorre com grande parte dos experimentos testados até agora.
Até o momento, 200 vacinas foram desenvolvidas, mas nenhuma das testadas em humanos foi capaz de garantir proteção contra o vírus da aids, doença que já causou mais de 20 milhões de mortes e hoje afeta cerca de 40 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, há cerca de 500 mil infectados pelo vírus.
A perspectiva é que dentro de um ano e meio a vacina brasileira possa ser testada em humanos saudáveis, depois que a experimentação for autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e por conselhos de ética em pesquisa.
Será preciso cerca de 10 anos para que a eficácia da vacina possa ser comprovada e o medicamento possa ser oferecido à população.
De acordo com Cunha-Neto, ainda é cedo para precisar qual seria o preço final da vacina. Ele adiantou apenas que seria mais cara que as usadas na vacinação infantil de rotina – a dose individual poderia chegar a ?algumas dezenas de dólares pelo menos?.
Cerca de U$ 600 mil foram investidos até agora na pesquisa da vacina. Desse total, U$ 350 mil foram recursos do governo federal, repassados via ministério da Saúde e da Ciência e Tecnologia.
Também apóiam o projeto a Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a entidade internacional ICGEB, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo Cunha-Neto, ainda não há financiamento completo para as próximas fases da pesquisa, que são mais caras e envolvem o registro de patente internacional.
O 13º Congresso Internacional de Imunologia ocorre no Riocentro até sábado (25), com várias atividades paralelas em outros pontos da capital fluminense. O evento foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Mais informações podem ser obtidas no site: www.immunorio2007.org.br