Prevenir a gravidez não desejada e ficar livre de incômodos da menstruação como mau-humor, hipersensibilidade, cólicas e outros inconvenientes é certamente o desejo de muitas mulheres. Isso já é uma realidade com as pílulas de contracepção de uso contínuo. Um estudo com o Gestinol 28 (gestodeno/etinilestradiol), que será apresentado este mês no 8º Congresso da Sociedade Européia de Contracepção em Edimburgo, na Escócia, comprovou mais um benefício deste tipo de medicamento: ele é eficaz na prevenção da endometriose, uma doença que atinge uma em cada dez mulheres no mundo todo e que pode levar anos para ser diagnosticada.
O estudo, realizado no Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana (CEPARH), em Salvador (BA), mostrou que 38% das mulheres operadas de endometriose que não utilizaram o contraceptivo voltaram a apresentar cistos endometrióticos, enquanto no grupo tratado com Gestinol 28, medicamento produzido pela Llibbs Farmacêutica, não houve nenhuma recorrência. O estudo prova que é possível tratar as dores e prevenir a recorrência da endometriose a partir de um método simples, barato e com poucos efeitos colaterais.
?Além de evitar a gravidez e prevenir a recorrência e progressão da endometriose, a adoção da pílula anticoncepcional de uso contínuo minimiza os incômodos da menstruação e da tensão pré-menstrual, diminui os riscos de doenças como câncer de ovário, câncer de endométrio, e ainda evita o aparecimento de miomas e cistos de ovário?, declara o coordenador do estudo Dr. Hugo Maia Filho, professor do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e diretor de pesquisas do CEPARH. Segundo ele, do ponto de vista clínico, uma paciente que foi operada recentemente e que não deseja engravidar em um futuro próximo, tem um risco alto de voltar a apresentar recorrência desta patologia quando reiniciar os ciclos menstruais.
A doença
Durante a menstruação acontece a descamação do endométrio (parede interna do útero). Essas células, no entanto, em mulheres predispostas, podem se implantar em outros locais do organismo, como por exemplo na cavidade abdominal, no ovário e nas tubas uterinas, gerando os chamados implantes endometrióticos. ?O grande problema é que as mulheres hoje em dia estão adiando a primeira gravidez e optando por ter menos filhos, por causa do trabalho e de outros fatores próprios da vida moderna e, com isso, menstruando mais?, opina Dr. Hugo.
Para Dr. Hugo a repetição exagerada da menstruação não é uma coisa natural: ?Natural é se reproduzir. As mulheres primitivas menstruavam cerca de 60 vezes a vida toda, o resto do tempo estavam grávidas. Mas a mulher moderna tem cerca de 400 menstruações ao longo da vida?.
A doença atinge mulheres na idade reprodutiva, que geralmente têm fluxo menstrual intenso e doloroso, e também aquelas que já apresentaram e trataram a patologia. Esse tipo de paciente, explica o especialista, é orientada a suprimir a menstruação por meio do contraceptivo de uso contínuo. O tratamento também pode ser feito por meio de hormônios, e videolaparoscopia, para a retirada dos cistos endometrióticos, mas, dependendo da gravidade do caso, há necessidade de retirar o órgão afetado.
Apesar de a maioria das mulheres não apresentar sintomas, a endometriose pode causar intensas dores pélvicas e lombares, sangramento na urina, cólicas e até infertilidade. ?As dores podem se tornar crônicas, e isso causa uma incapacitação que pode até levar à depressão?, comenta Dr. Hugo.