As mulheres são as maiores vítimas da prisão de ventre. Um dos sintomas que mais levam brasileiros aos consultórios, a constipação intestinal – como chamam os médicos – é três vezes mais freqüente no sexo feminino. Especialistas apontam que a incidência do mal nos brasileiros é considerada semelhante aos valores americanos, atingindo por volta de 20% da população, segundo a Associação Americana de Gastroenterologia. Por serem mais atingidas, as mulheres também são as que mais procuram a automedicação, deixando de lado o auxílio médico. Entretanto, para o professor adjunto e chefe da Disciplina de Gastroenterologia da Unifesp, Dr. Sender Jankiel Miszputen, o abuso na utilização dos chamados purgantes – laxantes que estimulam as terminações nervosas da mucosa intestinal – pode trazer sérias conseqüências. “O uso prolongado pode danificar a sensibilidade da parede do intestino, agravando ainda mais o problema”, afirma.
A perda dessa sensibilidade faz com que o usuário tenha a sensação de que o laxante perdeu o efeito, o que leva ao uso de doses cada vez maiores. Segundo o Dr. Sender, a necessidade de aumentar a dosagem é um alerta. “É um sinal de que os mecanismos do intestino envolvidos na movimentação intestinal estariam sendo comprometidos”. Além da dependência, o uso contínuo dessas drogas tende a agravar a prisão de ventre, requerendo quantidades maiores em períodos cada vez mais curtos. Ao usar altas doses em curtos períodos, a consumidora se candidata a problemas mais sérios, como o desequilíbrio da concentração de alguns minerais, como sódio e potássio ou, eventualmente, desidratar-se.
Um mal mais comum do que se pensa
Entre as causas da prisão de ventre, uma das que mais está ligada ao universo feminino é a vergonha. Fatos corriqueiros, como não usar outro banheiro senão o de casa, acabam contrariando o movimento do próprio intestino, levando à prisão de ventre. Além do fator cultural, mudanças repentinas – como viagens ou gravidez – e o uso de medicamentos como diuréticos, anti-hipetensivos, certos analgésicos e antidepressivos também podem causar a constipação. Segundo o gastroenterologista Dr. Lino Rodrigues Junior, “a prisão de ventre é um sintoma com grande variedade de causas. O tratamento correto é indicado somente após anamnese e exames físicos cuidadosos, orientando exames complementares apropriados de cada caso”.
Um dos sinais do problema é o número de evacuações semanais, que normalmente não chega a três para os que têm prisão de ventre. A constipação também é identificada quando, além da baixa freqüência de evacuações, há dificuldades ou dor para evacuar, as fezes são extremamente endurecidas, ou o paciente tem a sensação de evacuação incompleta.
O mercado apresenta boas alternativas para o tratamento da prisão de ventre. Os laxantes estão divididos em quatro classes, de acordo com seu mecanismo de ação. Os formadores de massa, fibras naturais ou sintéticas captam água durante o transito intestinal, aumentando o volume das fezes e melhorando o estímulo para sua eliminação. Os laxantes do tipo osmótico impedem a absorção normal de água pelo intestino. Podem ser substâncias naturais ou, mais recentemente, novas moléculas que retêm água dentro do intestino, amolecendo as fezes. Seu consumo sem prescrição médica e de forma exagerada pode levar à diarréia e à alteração na concentração de minerais no organismo, fato menos freqüente quando também se utiliza preparação equilibrada com estes minerais. Complementam as classes dos laxantes os emolientes – que lubrificam as fezes e diminuem a absorção de água pelo organismo -, e os estimulantes, responsáveis pela sensibilização das terminações nervosas da mucosa intestinal. Além dos laxantes tradicionais, os procinéticos são outra alternativa no combate à constipação intestinal. São drogas que estimulam os receptores de serotonina.
O mercado farmacêutico se prepara para receber novas alternativas para o tratamento da prisão de ventre. São preparados como o policarbofil, polímero sintético com alto poder de absorção da água e um eficiente formador de massa, e o polietilenoglicol, laxante osmótico apresentado em doses menores do que as utilizadas em procedimentos endoscópicos ou cirúrgicos e balanceado com eletrólitos. Entretanto, Dr. Sender avisa que “qualquer um destes medicamentos somente devem ser adquiridos após visita ao médico, para evitar riscos de um diagnóstico inadequado”.