Uma luz no fim do túnel

Um trabalho de pesquisa desenvolvido no Paraná – tomando por base princípio ativo utilizado no combate ao câncer – pode renovar as expectativas no tratamento para quem apresenta perda evolutiva grave e silenciosa da visão, com riscos de provocar a cegueira, por conta da vascularização anormal da córnea. O problema atinge mais de um milhão de brasileiros. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos responde por cerca de 5% de todas as consultas médicas oftalmológicas.

O distúrbio tem causas genéticas, acometendo desde pacientes que realizaram o transplante de córnea, vítimas de traumas, úlceras e infecções provocadas pelo uso de lentes de contato por tempo prolongado e sem o adequado manuseio. Todos esses fatores desencadeiam a formação de vasos que irão obstruir o eixo da visão e, consequentemente, provocarão a opacidade da córnea (a lente transparente dos olhos).

Glauco Reggiani Mello, especialista em transplante de córnea e responsável pelo trabalho de pesquisa que teve início há dois anos no Hospital de Olhos do Paraná e no Instituto de Pesquisas Médicas da Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná (Fepar), diz que, as complicações decorrentes da vascularização da córnea desafiam a oftalmologia, porque essa forma de terapia emprega, essencialmente, medicamentos à base de corticóides que, na maioria dos casos, são indicados por tempo prolongado e, por vezes, de forma indiscriminada. “Esses fatores podem potencializar outras doenças da visão, como a catarata, o glaucoma, entre outras com riscos de causar a cegueira definitiva”, explica.

A boa notícia que o pesquisador aguardava como resposta para ampliar a possibilidade de cura a esses pacientes, livrando-os dos riscos do tratamento convencional, surgiu em 2004, quando o FDA (órgão governamental americano que faz o controle de medicamentos) liberou o uso do bevacizumabe, um princípio ativo que se mostrou importante aliado no combate do câncer colo retal, ao atuar regredindo a vascularização do tumor.

Novo protocolo

Apesar do lançamento da substância ter despertado a atenção de oftalmologistas interessados em saber até que ponto se mostrava eficaz no tratamento de doenças da retina, como a retinopatia diabética, Glauco Mello continuou a aprofundar suas pesquisas. Com a finalização do trabalho, transformou-a em tese de mestrado, aprovada recentemente na Faculdade Evangélica. “A próxima ação é publicá-la em revistas internacionais da especialidade”, considera.

No primeiro passo do estudo, o oftalmologista realizou experimentos com coelhos. A metade deles foi tratada com a nova droga e a outra com placebo (substância inerte). A metodologia utilizada confirmou que a aplicação a droga reduziu a vascularização das córneas no grupo tratado, sem provocar efeitos colaterais. Os mesmos animais pesquisados serão avaliados em prazos maiores, para que o se dê início ao trabalho com humanos.

De acordo com o especialista, a alteração no protocolo de tratamento, com redução importante no número de doses ministradas, contribuirá para que tenhamos um novo cenário de enfrentamento de uma doença que, até então, deixava médicos de mãos atadas pela falta de alternativas que permitissem o seu combate mais efetivo.

Visão obstruída

A córnea é a lente transparente e natural dos olhos. Sua função é permitir a entrada dos raios luminosos para dentro dos olhos e facilitar a formação de uma imagem nítida na retina. Quando ocorre uma vascularização anormal provocada por queimaduras, fatores genéticos, úlceras e infecções, formam-se vasos que a tornarão opaca e obstruirão o eixo da visão.

Doando visão

O transplante de córnea pode ser considerado um dos mais importantes “achados” da medicina. Com efeito, muita coisa mudou desde que há mais de um século, o austríaco Edward Zirm realizou a primeira cirurgia para esse fim. Desde então, as técnicas não pararam de evoluir.

A doação é parte essencial para a resolução desse problema. Dif,erentemente do que ocorre na captação de tecidos vascularizados, como rins, coração ou pulmão, para que a córnea seja obtida não é preciso que o doador tenha sofrido morte cerebral. O tecido pode ser captado até seis horas após o óbito do paciente. “O problema, atualmente, é a captação de córneas”, diz o oftalmologista Paulo Dantas, do Hospital Oftalmológico de Sorocaba. “O que falta nos grandes hospitais, nos grandes centros, e talvez falte ao governo federal, estadual e municipal é um incentivo ao transplante, uma campanha de educação da população.”

Patologias que podem levar ao transplante

* Doenças congênitas
* Traumatismo
* Queimaduras químicas
* Infecções
* Distrofias
* Degenerações

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