Três pessoas são submetidas a um certo desconforto que pode causar dor. Cada uma delas poderá ter uma percepção diferente do fenômeno. Uma pode não sentir dor nenhuma, outra sofrer intensamente, e uma terceira um sinal leve. A percepção da dor é assim mesmo. A pessoa sente uma dorzinha em algum lugar do corpo. Imediatamente, desconfia de uma lesão e não encontra nada. Nem sabe dizer o local exato em que ela está mais forte. Quem já não passou por uma situação dessas? São tantos os pacientes que se queixam de dores, que elas passaram a ser o quinto sinal vital mais importante a ser pesquisado por médicos. "Como a dor é subjetiva e pessoal, e não é necessário haver uma lesão para a sua existência, cada paciente vai se expressar de uma forma diferente", explica Pedro Paulo Tanaka, presidente da Sociedade Paranaense de Anestesiologia.
Assim, dá para confirmar a definição do que é dor, divulgada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP). Nela, a dor é definida como "uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a lesões reais ou potenciais, descritas em termos de tal lesão". Ou seja, a dor não é apenas um fenômeno físico, mas também emocional. Os estudos comprovam que a simulação da dor é muito rara, menos de 5% dos casos. Por isso, de acordo com o presidente, os profissionais de saúde devem avaliar o paciente pela regra e não pela exceção. "A principal atitude para quem trata a dor é acreditar no paciente", ensina.
Abordagem completa
A dor é um fenômeno que se caracteriza por sua intensidade ou pela sua periodicidade. Ela pode ser aguda e passar rapidamente, ou se tornar crônica e, conseqüentemente, persistente. A dor aguda, conforme Tanaka, tem um momento definido de início, sinais físicos objetivos e atividade exagerada do sistema nervoso. A dor crônica, em contraste, continua além de um determinado período, com o sistema nervoso se adaptando a ela. "A dor exige uma abordagem que contemple não somente o tratamento de suas causas, mas, também, tratamento das conseqüências psicológicas e sociais a ela inerentes", realça.
Segundo o anestesiologista Ayrton de Andrade Júnior, a medicina é baseada em procurar lesões. "É preciso acreditar no paciente mesmo que não exista lesão aparente", frisa. Ele cita como exemplo a cólica nefrética, onde não se detecta uma lesão aparente, mas a dor é real. Para o especialista, infelizmente ainda existem muitos pacientes que sofrem de dores que podem perfeitamente ser tratadas. Como exemplo ele cita as dores pós-operatórias. No seu entender, os principais motivos desse sub tratamento são a falta de conhecimento sobre os analgésicos e o receio exagerado dos efeitos colaterais dos opióides. "Mas, o que mais impressiona ainda é a insensibilidade de alguns profissionais de saúde frente ao paciente com dor", reconhece.
Negligência médica
Ayrton de Andrade explica que, a princípio, todo médico deveria saber lidar com a dor, mas ele não vê isso na prática. Existem dores difíceis de ser tratadas e que necessitam de especialistas com maior conhecimento na área. Já existem muitos médicos especialistas amparados pela experiência de vários anos de tratamento. A partir deles surgiram as clínicas de dor, que se dedicam a tratar o distúrbio quando ele passa de sintoma a ser a própria doença. Exemplo disso são as dores oncológicas e dores músculo-esqueléticas.
Para o especialista, mesmo existindo limitação para o tratamento de alguns tipos de dores, o médico não deve abandonar o paciente à sua própria sorte. Deve utilizar mais os medicamentos opióides, juntamente com os meios não farmacológicos ou mesmo encaminhar o seu paciente para um especialista. "O não-tratamento da dor pode ser considerado uma negligência médica, e todos os pacientes merecem nosso respeito e esforço para que ele tenha a sua dor amenizada", finaliza.
Agulhas contra a dor
Dentre os diversos efeitos terapêuticos conseguidos com a acupuntura, o tratamento da dor é o mais destacado. Todos os tipos de dores podem ser tratados pela acupuntura, que tem o seu princípio básico na regulação do movimento da energia e do sangue em uma pessoa. Em alguns casos, como lesões, traumas mais graves e doenças degenerativas a utilização do método não é a primeira opção para o tratamento, mas, nesses casos, pode atuar associada tanto com a alopatia quanto com a homeopatia. Mauro Carbonar, especialista em acupuntura, recomenda o método para tratamento de dores funcionais, decorrentes do funcionamento inadequado do organismo. "Só há dor quando ocorre a obstrução da circulação do sangue, dos líquidos orgânicos e da energia que faz o corpo funcionar. A estimulação refaz no organismo a produção da endorfina, substância química com propriedade analgésica e imuno-estimulante", explica.
Os números da dor
* 50 milhões de pessoas sofrem de dor crônica no Brasil. Mais da metade delas estão sujeitas à depressão.
* Mais de 45 milhões de brasileiros têm, ao menos, um episódio de dor de cabeça na vida.
* O número de mulheres que sofrem de enxaqueca é o dobro do que o de homens.
* Mais de 80% da população mundial sofrerá de algum tipo de dor ao longo da vida.
* A maioria dos doentes de câncer apresenta dor intensa ou insuportável.
* Existem registrados cerca de 200 tipos de dor de cabeça.
Para cada tipo de dor uma causa
DOR DE CABEÇA – Pode surgir quando a pessoa não se alimenta adequadamente, pelo estresse no trabalho ou depois de muitas horas de sono.
LER/DORT – São lesões por esforço repetitivo que acometem pessoas que trabalham por diversas horas sem qualquer descanso.
LESÕES MUSCULARES – São provocadas por traumas, pancadas, torções ou fraturas.
COLUNA – Geralmente é produzida por má postura, excesso de peso ou carga, traumatismos provenientes de quedas e outros acidentes.
DOR OROFACIAL (na mandíbula e no rosto) – É ocasionada por algum tipo de traumatismo, estresse, infecções, problemas na mastigação e postura corporal, entre outros.
FIBROMIALGIA – É a mais difícil de ser diagnosticada, já que nenhum tipo de exame aponta o problema.
ARTROSE – É uma doença degenerativa das articulações. Ataca a coluna cervical e lombar, os joelhos, os quadris – tende a provocar ciática, dor que se irradia para as pernas – e as pequenas articulações dos dedos das mãos.
ONCOLÓGICA – Ocorre em decorrência do câncer e das complicações pós-cirúrgicas.