Um país de cabelos brancos

Se a corrente expectativa de vida tendência continuar, mais da metade das crianças nascidas em países ricos desde o ano 2000, vai viver até 100 anos de idade, e terão, ainda, mais qualidade de vida e menor risco de contrair doenças do que as pessoas idosas em gerações anteriores.

Essa é a conclusão de pesquisadores que descobriram que os aumentos na expectativa de vida evidente em países ricos, notadamente a partir do século 19 não mostram sinais de desaceleração. O estudo foi divulgado na publicação científica The Lancet.

De acordo com Kaare Christensen, coordenadora das pesquisas realizadas numa universidade da Dinamarca, a expectativa de vida vem aumentando em ritmo acelerado e exigindo que a sociedade se prepare para um novo arranjo entre jovens e velhos.

Ela ressalta que o se o século 20 foi um período de redistribuição de renda, o século 21 deverá promover a redistribuição de trabalho.

Uma das soluções propostas é diminuir a carga horária de trabalho semanal, aumentando o tempo de dedicação ao lazer e à educação.

No entanto, conclui a pesquisadora, a abordagem nos tratamentos de pessoas com mais de 80 anos que deverá sofrer grandes mudanças. Com o envelhecimento da população e a tendência dos casais preferirem ter cada vez menos filhos, não só a ciência já se deu conta das novas demandas que se apresentam, como outras esferas da sociedade começam a introduzir mudanças com base nessa realidade que se apresenta. “Isso acontece também no Brasil, onde a expectativa de vida aumentou consideravelmente nos últimos anos”, reconhece o cardiologista Otávio Gebara.

Alto astral

O especialista afirma que, além de insistir na prevenção de doenças, a classe médica deverá adotar novas abordagens nos próximos anos para garantir que pacientes com mais de 80 anos possam controlar problemas de saúde e ainda assim ter uma boa qualidade de vida.

“Independentemente da idade e da expectativa de vida, a ciência já se dá conta da importância de se adotar algumas medidas que preservem o bem-estar do paciente”, avalia Gebara. Essa estratégia tem levado aos importantes avanços em termos de diagnóstico precoce de doenças e a tratamentos mais assertivos.

De acordo com o cardiologista, o sedentarismo se tornou epidêmico na terceira idade, já que aproximadamente 80% das pessoas com mais de 65 anos não praticam quaisquer exercícios físicos, contribuindo de maneira significativa para a obesidade.

Outro vilão é o excesso de peso, distúrbio intimamente ligado à síndrome metabólica – um conjunto de fatores de risco que pode desencadear diversas doenças e abreviar a vida.

Hipertensão, altos níveis de açúcar, colesterol e triglicerídeos no sangue. De acordo com o médico, todo esse conjunto de marcadores não parece estar somente diretamente ligado a doenças do coração e do cérebro, mas também ao aumento de casos de câncer.

“Em regra, quem quer viver mais e com saúde deve abandonar definitivamente o cigarro, evitar o consumo excessivo de álcool, combater o sedentarismo a todo custo, adotar uma dieta rica em vegetais e pobre em açúcar e sal”, enumera Gebara, lembrando da importante necessidade de manter alto astral e o estresse sob controle.

Qualidade que se conquista

Já vai longe o tempo em que ser idoso implicava em ficar fechado em casa, esperando a vida passar pela janela. Hoje em dia, e cada vez mais o pessoal mais “experiente” pode e deve levar a vida com o corpo e a mente em perfeita saúde.

A qualidade de vida a ser vivenciada nessa fase é influenciada pelos hábitos das pessoas, já que o envelhecimento se dá ao longo de toda essa trajetória.

Os fatores genéticos e hereditários, a influência do meio ambiente, os hábitos de vida e os comportamentos influenciam o envelhecimento.

Para o ,geriatra Gilmar Calixto, as principais recomendações para que a idade não interfira na qualidade de vida são manter o peso sob controle e o colesterol em níveis aceitáveis.

“Além disso, consultar um médico periodicamente e realizar exames de rotina fazem parte das recomendações”, comenta. Uma alimentação equilibrada também influencia na manutenção da saúde, promovendo energia, vitalidade e diminuindo os riscos de aterosclerose, doenças cardiovasculares e câncer.

O geriatra sugere uma dieta rica em frutas, vegetais e cereais. “Alimentos gordurosos pedem moderação, assim como não se deve abusar de doces nem do sal”, recomenda.

Nova realidade

Para o geriatra Luiz Bodachne, praticar atividades físicas é meio caminho andado para alcançar o bem-estar. “O exercício proporciona qualidade de vida e autonomia”, atesta.

Outra recomendação do médico é de que não se pode estocar a atividade física, isso é, ao abandonar os exercícios, todo o tempo despendido com eles anteriormente perde a sua finalidade, não apresentando efeito cumulativo. “Exercício é como um investimento: quanto mais, melhor; deixou de investir, o capital vai gradativamente perdendo o valor”, compara.

Contudo, mesmo que envelhecer seja uma fatalidade, nada impede a busca pela qualidade de vida, não no sentido econômico, mas de saúde e bem-estar. A adoção de um estilo de vida saudável passa, também, por uma alimentação equilibrada.

“Normalmente, na dieta do idoso, há uma diminuição do valor calórico total – em média, 1.600 calorias aos 65 anos”, exemplifica o geriatra. O envelhecimento populacional determina problemas de aspectos médico, social e econômico. Bodachne adverte que devemos nos preparar para enfrentar uma nova realidade com a qual devem se familiarizar os profissionais das áreas sociais e de saúde.

Hábitos saudáveis entre os idosos

* Quatro a cinco refeições diárias
* Consumo de muitas frutas e verduras
* Redução no consumo de sal e açúcar
* Ingestão de muito líquido (água, suco de frutas)
* Manutenção do peso dentro do IMC, em torno de 25
* Atividades físicas diárias com orientação médica
* Ficar longe do cigarro e do álcool

Divisão do trabalho

No estudo publicado na The Lancet, os pesquisadores sugeriram o encurtamento da semana de trabalho para que o prolongamento da vida ativa das pessoas possa ser ampliado, proporcionando aos idosos mais qualidade de vida e saúde.

Além disso, na visão dos pesquisadores, a iniciativa pode ajudar as nações a lidar com as implicações econômicas que é uma velhice cada vez mais longa traz.
Somente a “redistribuição” do trabalho, no entanto, não será suficiente para enfrentar os desafios que hão de vir. “É bem provável que haja um aumento de encargos, se o número total de pessoas beirando os 100 anos aumentar”, concluíram os pesquisadores.