A atacante Renatinha, de 24 anos, maior pontuadora da Superliga Feminina de Vôlei 2004/2005, passou pelo maior desafio de sua vida ao vencer um tumor na coluna cervical. Ela conta que tudo começou por causa de sucessivas inflamações nas amídalas. Ao fazer uma cirurgia para retirá-las, o médico percebeu um inchaço e pediu alguns exames. Assim, descobriu um tumor na coluna cervical, próxima da medula. ?Passei por duas operações para eliminar o problema e uma terceira para colocar uma placa de titânio e parafusos no local operado?, comenta. Na época com 19 anos, a atleta ficou um ano e três meses afastada do esporte. ?Algumas pessoas perguntavam o que eu faria caso tivesse de abandonar o vôlei e eu respondia que jamais precisaria deixar de jogar, e estou aqui até hoje", relembra.
O caso de Renatinha ilustra com propriedade o que acontece com uma pessoa com diagnóstico tardio de tumor na coluna: a confirmação da doença só acontece depois de muitos diagnósticos incorretos, causados por avaliações incompletas, exames duvidosos ou dados de difícil interpretação. Os tumores de coluna são uma das principais causas de lesões medulares. Mais da metade de seus casos incide sobre vítimas de acidentes. Apenas 2% dos pacientes com lombalgia (dor nas costas) apresentam algum tumor.
Fim da comunicação
O médico Luis Roberto Vialle, um dos maiores especialistas em coluna do mundo, explica que lesão medular é a interrupção completa ou parcial de estímulos motores da medula em decorrência de trauma ou alguma doença. ?Esse distúrbio produz déficits sensitivos e motores, com maior ou menor comprometimento dos movimentos, da sensibilidade, do funcionamento dos órgãos, circulação sangüínea e até do controle da temperatura corporal?, explica.
De acordo com Vialle, dependendo da gravidade da lesão, o sistema nervoso autônomo também pode ser afetado. ?Com a morte dos neurônios da medula é interrompida a comunicação entre o cérebro e todas as partes do corpo que ficam abaixo da lesão?, ressalta o especialista, confirmando que quando os tumores são diagnosticados no início, não causam danos extremos. Mas se a descoberta for tardia, o tumor pode se infiltrar nos tecidos e até mesmo causar rompimento medular, deixando o paciente paraplégico. Por isso, um tratamento com êxito nos tumores de coluna necessita de um diagnóstico precoce, com muita atenção ao histórico do paciente, exames físicos e exames laboratoriais.
O tratamento dos tumores de coluna objetiva o alívio da dor, a extirpação do tumor, a preservação da função neurológica e a cura do paciente. Porém é muito comum os especialistas se depararem com agravamento do problema em pacientes que foram submetidos a tratamentos equivocados. Porém, especialistas são capazes de perceber e intervir rapidamente, aumentando em muito as chances de cura completa.
Curitiba é referência no tratamento
O Brasil está bem posicionado em relação a outros países no que diz respeito a cirurgias de tumor de coluna. Só que, no entender do médico Luis Roberto Vialle, existe a necessidade de agrupar o conhecimento específico sobre tumores para facilitar o intercâmbio de informações e acelerar os avanços da medicina nessa área. Uma das primeiras iniciativas para essa divulgação foi a formação de uma associação internacional para padronização das técnicas utilizadas no mundo.
Essa instituição, a AOSpine (Associação para Estudos, Divulgação e Padronização de Técnicas de Tumores de Coluna da Fundação AO), instituída no mês de outubro, será coordenada, no Brasil, pelo Curitiba Spine Center, na capital do Paraná. A AOSpine é um ramo da maior instituição de pesquisa em ortopedia e traumatologia, a Fundação AO (Associação para Estudo da Osteossíntese), com sede na Suíça.