Vai longe o tempo em que o exame de ultra-som era usado para responder perguntas bastante básicas, como qual o sexo do bebê ou se a gestação era única ou gemelar. Hoje, ele é praticamente obrigatório na rotina do pré-natal.
Para o médico radiologista Arildo Corrêa Teixeira, a ultra-sonografia, além de acompanhar o crescimento fetal e diagnosticar malformações, pode orientar possíveis procedimentos invasivos durante a gestação.
É por isso que, para um acompanhamento integral da vitalidade do bebê e orientados pelos procedimentos do pré-natal, os médicos recomendam basicamente três exames periódicos de ultra-som.
Estatísticas apontam que cerca de 3% dos recém-nascidos são portadores de algum tipo de malformação.
São os casos de alto risco provocados por modificações significativas na gestação, entre elas, o diabetes e a hipertensão, explica o ginecologista Hélcio Bertolozzi Soares, professor assistente da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Para estes, orienta o médico, são necessários exames mais repetitivos. Até mesmo uma ultra-sonografia precoce pode indicar a necessidade da realização de exames mais freqüentes, daí a sua orientação para que a primeira avaliação seja feita até a 13.ª se- mana de gravidez.
Importantes avaliações
Cada vez mais sofisticada, a ultra-sonografia deve ser realizada por profissionais especializados e na maioria dos casos (cerca de 95%) é capaz de detectar de modo exato a ocorrência de anomalias fetais, garante Teixeira.
Além disso, aparelhos para doppler fluxometria, por exemplo, permitem aos médicos avaliar a circulação sangüínea do útero materno, da placenta e do bebê. O exame também pode rastrear pequenos defeitos anatômicos, como fenda labial ou pé torto, por exemplo. Caso a mãe tenha idade superior a 35 anos, o exame nesse período ganha uma importância ainda maior.
Considerada um exame rotineiro em mulheres grávidas, a ultra-sonografia não se limita à área de ginecologia e obstetrícia. São fundamentais para estudos abdominais, urológicos, cardíacos, vasculares, músculo-esqueléticos, cervicais e emergenciais, além de propiciar a orientação precisa de procedimentos invasivos como biópsias, drenagens de coleções e esclerose de nódulos malignos, entre outros.
Em cada área da medicina atual, o estudo ultra-sonográfico vem continuamente ocupando espaço e tornando o diagnóstico mais preciso e confiável. Essa evolução vem acontecendo em decorrência dos avanços na área tecnológica que, na última década, propiciaram a formação de imagens cada vez mais nítidas e esclarecedoras.
Síndrome de Down
Uma das mais recentes aplicações do exame ultra-sonográfico é na detecção da síndrome de Down no começo da gravidez. Uma técnica, mundialmente utilizada e disponível no Brasil, conhecida como “teste de nariz”, avalia a presença de um osso no nasal fetal entre 11 e 14 semanas de gestação.
Especialistas confirmam que a ausência desse osso, nesse estágio da gestação, está altamente correlacionada com a síndrome de Down. O exame traz mais tranqüilidade para as futuras mamães. Para tanto, o médico que acompanha o pré-natal deve solicitar uma ultra-sonografia com exame do perfil fetal durante esse período.
Os serviços de ultra-sonografia especializados em medicina fetal estão utilizando os atuais métodos de rastreamento associados ao “teste do nariz”. Segundo a radiologista Rosangela Trova Hidalgo, a pesquisa do perfil fetal, identificação e medida do osso do nariz já é um procedimento comumente realizado no segundo trimestre, na ocasião da, ultra-sonografia morfológica.
“Porém, avaliar fetos mais precocemente, no primeiro trimestre, e não ficar esperando por uma avaliação mais tardia, traz uma série de benefícios”, avalia Rosangela Hidalgo. O principal deles é o diagnóstico mais precoce de possíveis alterações.
A importância do pré-natal
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo apontou que a ausência de tratamento pré-natal, a internação materna e a presença de doenças durante a gestação (com destaque para a hipertensão e as infecções gênito-urinárias) e idade materna superior ou igual a 35 anos constituem fatores de risco associados ao nascimento de bebês de muito baixo peso ou prematuros em população de baixa renda. A pesquisa foi publicada na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.
Para fazer a análise, os pesquisadores observaram 200 casos de recém-nascidos com peso entre 500 e 1,5 kg. Das crianças verificadas, 45% dos recém-nascidos de muito baixo peso foram classificados como pequenos para a idade gestacional. A mortalidade desses bebês que se encontravam abaixo de mil gramas foi de 68,8%.
Os do que apresentavam peso superior a mil gramas foi de 16,5%. “A principal causa básica de óbito dos recém-nascidos de muito baixo peso foi a hipertensão materna (35,3%) e como causa imediata de óbito predominou a infecção (52,3%)”, afirmam os pesquisadores ao concluírem que “essas mortes podem ser evitadas ou ter os seus efeitos minimizados por meio de uma maior freqüência ao pré-natal e de acompanhamento qualificado à gestante de risco”.
A maioria das gestantes do estudo iniciou suas consultas de pré-natal no segundo trimestre da gravidez, ou seja, tardiamente. Este fato, aliado à dificuldade do SUS em proporcionar exames na rapidez necessária e um atendimento qualificado, tem gerado muitos nascimentos de recém-nascidos de muito baixo peso causados por doenças evitáveis.
“Diferentemente dos países desenvolvidos, onde os nascimentos prematuros têm aumentado devido a um maior número de gestações múltiplas”, reconhecem os pesquisadores.
Outras aplicações
Na obstetrícia – É aconselhada a realização de exames de ultra-sonografia em quatro fases da gestação: entre 6-10 semanas: para avaliação do comprimento do embrião e de sua vitalidade; entre 11-14 semanas: para avaliação da translucência nucal, recentemente incorporada à rotina obstétrica servindo de marcador para malformações; no 2.º trimestre: a melhor fase para avaliação morfológica do feto; e no 3.º trimestre: o objetivo principal é avaliação das condições maternas (placenta e líquido amniótico), do crescimento fetal e dos órgãos fetais internos.
Na ginecologia – Apresenta alta sensibilidade na pesquisa de miomas, lesões endometriais, cistos e tumores ovarianos, sendo indicado de forma rotineira no acompanhamento de mulheres que se submetem à terapia de reposição hormonal, investigação de distúrbios menstruais, dores pélvicas e infertilidade.