Tuberculose: um bacilo e um segundo

Vermelhinho, correndo nas veias de seu corpo, o sangue é sinal de vida. Mas se ele aparecer em seu catarro ou no escarro, é sinal de alerta. Pode estar assinalando que você está com alguma coisa errada no corpo. Se sua tosse vier acompanhada de sangue, cuidado. Até mesmo na gripe. “Na pneumonia é obrigatório haver o escarro com sangue, na tuberculose pode ou não aparecer, e existe alguma doença de coração, a estenose mitral, que também pode provocar sangramento pulmonar”, afirma Francisco Huete Briones, tisiologista e pneumologista, de Curitiba.

O médico relata o caso de uma moça que tossia muito desde outubro do ano passado. Estava com tuberculose, mas o médico se conformou com um exame de escarro que deu negativo. Achou que não era tuberculose e era. Ela conviveu com marido e filhos durante todo esse tempo. Agora é preciso que eles também se tratem.

A tuberculose é uma das doenças mais antigas da humanidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, existem aproximadamente de 8 a 9 milhões de casos novos por ano e três milhões de óbitos pela doença no mundo (Ruffino-Netto, 2001). No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde (2002), a incidência é de 129 mil novos casos por ano, e o coeficiente de mortalidade é de cerca 3,5/100.000 habitantes, atingindo indistintamente diversas faixas etárias e classes sociais. O Paraná teve 1.384 casos em 1999, ficando em segundo lugar quanto aos estados do sul. Estima-se que existam mais de 50 milhões de brasileiros infectados e calcula-se que cada novo doente infecta, em média, dez pessoas e destas uma desenvolverá a doença pela queda de resistência orgânica.

Os sintomas associados à tuberculose pulmonar são tosse, febre, sudorese noturna, anorexia, perda de peso, sintomas que podem estar ausentes no caso do idoso imunocomprometido. A transmissão ocorre por via aérea. Quando as pessoas que estão com tuberculose tossem, espirram, falam, cantam ou escarram, os bacilos saem de dentro dos pulmões para o ar onde eles podem ficar suspensos por horas. Se alguém inalar um único bacilo de tuberculose pode ficar infectado, mas normalmente é necessária uma exposição prolongada. Para ficar tuberculoso, diz o dr. Francisco, é preciso “um bacilo e um segundo”. Os familiares e amigos dos doentes de tuberculose têm maior risco de ser infectados. (Ministério da Saúde, 2003).

Para o tratamento, os antibióticos utilizados no esquema inicial são: isoniazida, rifampicina e pirazinamida. Caso seja necessário, utiliza-se o tratamento de reserva, que é uma combinação de medicamentos, como o etambutol ou injeções de estreptomicina. O tratamento de curta duração leva longo tempo (de seis a nove meses), com novo exame de escarro a cada dois meses. Em geral, as pessoas não precisam ficar internadas. Quem utilizar a medicação prescrita tem 95% de probabilidade de controlar a doença. A pessoa deve tomar os medicamentos até o final do tratamento, mesmo se estiver se sentindo melhor, pois os bacilos mais fortes resistem e são perigosos.

O pneumologista comentou que a Ásia, a África inteira e a América do Sul têm necessidade de ajuda tanto de pesquisa na área quanto de orientação médica para prevenção e tratamento. Só para se ter uma idéia, não saiu nenhum remédio novo para o tratamento da tuberculose desde a década de 60. A especialidade de tuberculose desapareceu nos anos 81-83, quando retiraram a cadeira de Tisiologia nas faculdades.

O Ministério da Saúde lançou, entre os anos de 1996-1997, o Plano Emergencial para o controle da doença nos municípios que apresentavam 75% dos casos estimados para o Brasil. Em 1998, como havia continuidade do problema porque havia altas taxas de abandono de tratamento, foi lançado o Plano Nacional de Controle da Tuberculose com nova forma de repasse de recursos para os municípios sob a forma de bônus. Para cada caso de tuberculose descoberto, tratado e efetivamente controlado, o município informa o Ministério da Saúde e o repasse de R$ 100,00 é feito automaticamente. O médico Ruffino-Netto (2001), da USP-Universidade de São Paulo, deixa claro que adotar a estratégia do tratamento supervisionado é forçar uma reflexão sobre a estrutura e o processo dos serviços de saúde em geral; a seu ver, aí reside o ponto fundamental da questão da adesão e/ou abandono do tratamento da tuberculose.

A tuberculose é uma doença velha, mas que precisa urgentemente de um novo olhar. Um olhar capaz de enfrentar tabus e preconceitos, trazer novas alternativas de controle e tratamento e resgatar a auto-estima dos profissionais e pacientes. A melhor prevenção de novos casos é o tratamento completo dos casos existentes e, segundo o dr. Francisco, é o tratamento da maior de todas as “doenças”, a fome.

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, especialista em Mídia e Despertar da Consciência Crítica e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (zeliabonamigo@uol.com.br).

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