O especialista participou do Endorse, um estudo multinacional, apoiado pela sanofi-aventis, que mostrou que a maioria dos pacientes hospitalizados pesquisados tem risco de sofrer o distúrbio e não recebem a profilaxia recomendada. O TEV – que representa um espectro de doenças que inclui a trombose venosa profunda, a trombose associada a cateteres venosos centrais e, a sua mais grave complicação: o tromboembolismo pulmonar – mata mais do que a somatória das vítimas de aids, câncer de mama, de próstata e os acidentes automobilísticos. ?A questão é que o distúrbio pode ocorrer como conseqüência secundária a outro problema de saúde pelo qual o paciente foi hospitalizado?, observa o Timi.
Epidemia silenciosa
A explicação dos médicos é de que, ao sofrermos algum tipo de ferimento, o organismo reage e aciona um sistema de coagulação para estancar o sangue. São plaquetas se dirigem para o local do ferimento e formam uma barreira, conhecida por trombo. Depois de algum tempo, este coágulo se dissolve e a circulação volta ao normal. A situação se complica no organismo de algumas pessoas que, por algum motivo, criam esses bloqueios em locais onde não houve sangramento, ficando mais sujeitos à trombose.
O TEV engloba duas manifestações clínicas distintas: a trombose venosa profunda – quando o coágulo obstrui o fluxo sangüíneo das veias dos membros inferiores – e sua maior complicação, a embolia pulmonar, situação em que o trombo se desprende, migra para os pulmões, podendo levar ao bloqueio parcial ou total das artérias pulmonares e, inclusive, à morte. De acordo com Jorge Timi, se isto ocorrer em uma artéria que irriga o coração poderá obstruir a passagem de sangue e fazer com que o órgão parar de funcionar.
Essa verdadeira epidemia silenciosa está presente no dia-a-dia dos hospitais brasileiros, cujos médicos, muitas vezes, desconhecem a magnitude do problema. No estudo Endorse no Brasil, 5% dos médicos não tinham conhecimento sobre o tema e 40%, apesar de conhecer, não faziam a profilaxia corretamente. Algumas medidas preventivas são recomendadas para os pacientes com risco de TEV, entre elas, elevar os pés das camas do paciente, recomendar o uso de faixas ou meias de compressão, fisioterapia e acelerar a retirada do paciente do leito, quando possível. ?Nos casos mais complicados, a profilaxia deve começar pela indicação de anticoagulantes?, recomenda Jorge Timi.
Diretriz precisa ser mais disseminada
O foco da diretriz é alertar os médicos para a incidência alarmante da TEV e facilitar a identificação dos pacientes com risco de desenvolver o distúrbio. “Infelizmente, a avaliação dos pacientes por parte dos médicos ainda é precária”, ressalta o coordenador do grupo formado enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas e médicos de diversas especialidades. Paiva compara a incidência da trombose a um iceberg, cujo maior perigo não está visível, já que 80% dos casos não causam sintomas que chamam a atenção e em mais de 70% dos doentes a causa mortis só é detectada em autópsia.
A diretriz recomenda, entre outros coisas, que todo paciente com idade igual ou superior a 40 anos, internado por mais de três dias, com mobilidade reduzida e outros fatores de risco associados deve receber tratamento preventivo para evitar a TEV e suas conseqüências.
Fatores de Riscos
Algumas condições podem predispor o paciente a sofrer de trombose
* Idade acima de 40 anos
* Traumatismos e imobilização prolongada
* Obesidade e fumo
* Varizes grandes
* História anterior de trombose
* Alterações genéticas que afetam o mecanismo de coagulação
* Cirurgias de grande porte
* Infecções e doenças graves
* Gravidez e pós-parto