Quando ocorrem situações imprevisíveis, assustadoras, de forma repentina e intensa, sem que haja tempo de se preparar, as pessoas são acometidas de fortes emoções. Sentem o quanto a vida é frágil e imprevisível, se questionam a respeito da morte, fazem um balanço de suas vidas, ficam inseguras. Nestas situações, conforme a psicanalista Laís de Lima, chama atenção a necessidade que existe de relembrar a cena (que provocou horror e susto) várias vezes. É comum, após mais um acidente aéreo, relatos de pessoas que ficaram horas assistindo aos noticiários da televisão, ouvindo os relatos pelo rádio, buscam informações na internet e nos jornais, procurando, incessantemente, fotos ou outras situações que tratem da tragédia. "Mesmo que tais lembranças tragam sofrimento e angústia", afirma a terapeuta.
Acidentes desse tipo causam perplexidade porque explicitam muito claramente a fragilidade da condição humana. A psicanalista comenta que as pessoas estão vivendo suas vidas normalmente, indo e vindo dentro da rotina diária e, de repente, o chão desaba sob seus pés. "Quando a pessoa sabe que passará por uma situação difícil, o corpo e a mente transmitem sinais, como angústia, temor, ansiedade e apreensão, que ajudam a enfrentar melhor a situação que está por vir", comenta Laís de Lima. Ao contrário, quando alguém é pego de surpresa, não há tempo para tais reações e, por isso, muitas vezes, a situação torna-se traumática. O trauma, portanto, tem como uma de suas características, a ausência de um preparo da mente para enfrentar a tragédia ou acontecimento intenso e difícil. A morte das pessoas que se encontravam nas imediações do acidente é triste, difícil de ser assimilada e, inegavelmente, irreversível. É uma tragédia para a qual não há remédio, uma horrível fatalidade.
Estresse pós-traumático
O impacto de uma notícia como a do dia 17 de julho, no Aeroporto de Congonhas, pode trazer conseqüências bastante graves para a saúde mental e para o estado geral das pessoas. Por algum tempo muitas delas afirmam que nunca mais viajarão de avião, outras dizem que nem chegar perto de um aeroporto chegarão. Muitas se encontram em estado de pânico, sentindo-se apavoradas e com medo de viver porque se sentem diante de um perigo imprevisível e imaginário, como um fantasma.
Laís de Lima afirma que, nesse sentido, a necessidade de reviver a cena não é sinal de patologia. De acordo com a especialista, a repetição das cenas apresenta, como uma de suas finalidades, a tentativa do psiquismo em dar conta de uma situação traumática. "É como se a mente tentasse elaborar o susto diante de um fato que não teve tempo de ser previsto", constata, acreditando que é como se fosse preciso reviver a situação várias vezes para se preparar emocionalmente, para poder elaborá-la e controlá-la, tornando o imprevisível, previsível.
Algumas pessoas, após passarem por uma situação traumática (tais como: assalto, acidente grave, estupro), podem apresentar o que se chama de transtorno de estresse pós-traumático, um distúrbio que pode ocorrer logo após o trauma ou mesmo após um lapso de tempo maior. "A pessoa tem a sensação constante de estar passando novamente pela tragédia e isso dura um tempo além do esperado", comenta a terapeuta.
Esse tipo de transtorno tem cura, por meio da psicoterapia, mas pode ser evitado. Para isso, é preciso que as pessoas aprendam a conhecer melhor seus próprios mecanismos internos para tentar modificar aqueles que provocam reações que lhe são prejudiciais. Nesses casos, sugere-se a procura de um profissional. É preciso que a pessoa possa dizer a respeito de seu trauma, lembrar de cenas esquecidas, escutar o que o fato representou para ela, elaborar o luto caso tenha acontecido uma situação de morte ou perda.
Características do transtorno pós-traumático
* Pensamentos, lembranças (flashbacks) e pesadelos;
* Fugir das condições que lembrem o trauma;
* Excitação e ansiedade;
* Insônia e irritabilidade;
* Reações exageradas a situações leves;
* Dores no peito e taquicardia;
* Hipervigilância.