Tratamento domiciliar contra doença renal reduz custos

Considerada um problema de saúde pública, a doença renal crônica atinge mais de 13 milhões de brasileiros, em diversos estágios de disfunção. Pensando nisso, a  Universidade Federal de São Paulo realizou um estudo que comparou os gastos totais referentes aos tratamentos desta doença em fase avançada, utilizando como parâmetro duas terapias: a hemodiálise e a diálise peritoneal.

A pesquisa comprovou que o gasto total do tratamento em pacientes tratados com a segunda opção, que se caracteriza por ser domiciliar, no Brasil, é 5% menor.

Durante o período de um ano, o estudo comparou os gastos relativos ao tratamento de quase 500 pacientes com doença renal crônica, sendo que 55% foram tratados com hemodiálise convencional e 45% utilizaram a diálise domiciliar.

Foram avaliados os custos referentes aos diagnósticos, terapias dialíticas, internações, medicamentos, honorários dos profissionais de saúde, transporte e perda de produtividade do paciente.

O custo total estimado por paciente anualmente foi de R$ 54 mil para o tratamento com hemodiálise e R$ 51 mil com diálise peritoneal, resultando uma diferença de quase R$3 mil reais por paciente, por ano.

Esses dados comprovam uma economia potencial com a ampliação do tratamento domiciliar e podem representar uma redução significativa de custos para os cofres públicos.

Qualidade de vida

No Brasil, cerca de 67 mil pacientes renais crônicos faziam diálise pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2009. Atualmente há cerca de 80 mil, porém, apenas 10% desses pacientes fazem a diálise domiciliar.

Embora ela faça parte do protocolo de tratamento da doença e seja integralmente custeada pelo SUS, o índice de pacientes que utilizam esse método terapêutico no país ainda é muito baixo.

Se o número de doentes renais em tratamento por meio desse tipo de terapia aumentasse para 20%, em um período de 5 anos – considerando a taxa anual de crescimento de pacientes diagnosticados com a doença em estágio avançado, que é de 4% -,  o governo economizaria cerca de R$ 69 milhões nesse período.

Segundo o nefrologista Ricardo Sesso, responsável pela pesquisa, o valor total economizado equivale à ampliação do tratamento dialítico para mais de 1.300 pacientes no período de 5 anos.

Desta forma, é possível aumentar o acesso ao tratamento da doença sem grandes investimentos por parte do governo. Essa economia apontada no estudo deve-se à diminuição dos custos diretos e indiretos em pacientes tratados com diálise domiciliar, independentemente da idade e comorbidades relacionadas.

Outra forma de diálise peritoneal também usa o peritôneo como membrana dialisante, só que é utilizada uma máquina para efetuar as trocas das soluções automaticamente.

Normalmente, esse procedimento é feito durante a noite, enquanto o paciente dorme. “Esse procedimento preserva por mais tempo as funções renais, permite dieta alimentar mais livre e causa menos sofrimento se comparada com a hemodiálise normal”, avalia o nefrologista.

Economia significativa

O especialista ressalta ainda que essa medida é viável e beneficiaria tanto o SUS, como os doentes renais crônicos, uma vez que a diálise peritoneal proporciona qualidade de vida superior em vários aspectos ao paciente quando comparada à hemodiálise convencional.

“Com a terapia domiciliar, além de o paciente ter mais liberdade para realizar suas atividades de rotina, como trabalhar e estudar, existe um ganho relevante em relação à preservação d,a função renal e aos gastos com transportes e medicamentos relacionados ao tratamento”, reconhece Sesso.

Para Marcos Bosi Ferraz, co-autor do estudo, o aumento de indicação de diálise domicilia, por menor que seja, pode representar uma economia significativa para o tratamento.

“A ampliação desse tipo de terapia para 20% dos pacientes representa a economia de cerca de R$ 69 milhões em 5 anos, mantidas as condições atuais, e é uma alternativa eficaz para ampliar o número de vagas para o tratamento da doença renal crônica no Brasil”, explica o especialista.

Em países, onde a diálise peritoneal é considerada a primeira opção de tratamento, o número de pacientes pode chegar a 80,4%, como na China, 65,8% no México e 46% na Colômbia.

“É necessário otimizar a aplicação dos recursos já existentes, e incentivar a adesão a serviços de diálise eficientes para que resultem num melhor atendimento aos doentes renais crônicos”, ressalta Ferraz.

Sobre o tratamento

A diálise peritoneal é uma alternativa de tratamento para pacientes portadores de insuficiência renal crônica. Diferente da hemodiálise, terapia que exige o deslocamento do paciente três vezes por semana para fazer o tratamento na clínica.

Na diálise peritoneal o paciente é treinado e realiza o procedimento em casa. Dessa forma, fica livre para realizar suas atividades diárias normalmente. No tratamento domiciliar, a solução de diálise é infundida na cavidade abdominal do paciente.

Conforme o sangue circula pelo tecido semipermeável que reveste internamente o abdome – as impurezas e a água do sangue são absorvidas pela solução. Depois de certo tempo, a solução é drenada, desprezando as substâncias tóxicas presentes no sangue. Em horários pré-estabelecidos, uma nova solução é colocada no abdome e o processo de limpeza recomeça. Tanto a hemodiálise quanto a diálise domiciliar, como também o transplante renal são custeados na maioria dos casos pelo Sistema Único de Saúde – SUS.

Função dos rins

O rim mantém estável o meio interno do organismo por meio das seguintes funções:

* Remove as substâncias indesejáveis do organismo, filtrando uréia e ácido úrico

* Reabsorve a albumina e sais desejáveis, como sódio, potássio, cálcio

* Descarta substâncias desnecessárias como o fósforo e o hidrogênio

* Mantém hormônios para o controle do volume, da pressão arterial, do cálcio e fósforo e da formação de hemácias

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