Em alguns centros de pesquisa mundiais, os novos estudos não se dão no campo das células-tronco ou da clonagem terapêutica. Os estudos realizados por renomados cientistas nesses laboratórios nos remetem a um passado, até certo ponto distante: o uso de sanguessugas na remoção de sangue de áreas específicas em pacientes que passaram por cirurgias reconstrutivas. Esses anelídeos de corpo achatado vêm sendo usados através dos séculos no tratamento de várias moléstias. Pesquisas recentes demonstram que a técnica pode ajudar no combate de certas doenças, desde osteoartrite e algumas doenças coronárias até ulcerações e varizes.
Além disso, as sanguessugas, especialmente a da espécie de água doce Hirudo medicinalis, são empregadas para promover sangrias ou outras terapias. Até o século XIX, predominou a teoria dos humores para explicar todos os fenômenos biológicos e a sangria se destinava a eliminar as impurezas contidas no sangue, causadoras do estado mórbido. O uso dos vermes, que vivem em águas paradas e se alimentam do sangue de animais, foi muito utilizado em substituição à sangria. Eles são dotados de uma ventosa que pode sugar entre 10 a 15 ml de sangue.
Benefícios animadores
O tratamento é indolor. "Ao aplicá-las, os pacientes sentem uma leve fisgada, mas em seguida não sentem dor ou qualquer outra sensação desagradável", explica o pesquisador alemão Andreas Michalsen, que estuda os efeitos da sanguessuga na osteoartrite, uma doença degenerativa que causa inflamações e dores e afeta cerca de 20% das pessoas com mais de 65 anos. Até agora, os benefícios são animadores: em cerca de 80% dos pacientes houve uma significativa redução das dores. O cientista comprovou, também, que a terapia não traz efeitos colaterais ou infecções.
Os vermes chegam a ingerir sangue até dez vezes seu peso corporal. Os pesquisadores querem agora resultados mais conclusivos que indiquem os motivos do efeito verificado. As sanguessugas não apenas tiram sangue, mas injetam um complexo coquetel de proteínas no hospedeiro, por meio da saliva. "Isso pode ser responsável pelos efeitos terapêuticos", explica Michalsen, esclarecendo que a saliva do verme contém moléculas antiinflamatórias e uma proteína que impede a coagulação do sangue.
A tendência parece certa. Os pesquisadores acreditam que muitos outros remédios derivados da sanguessuga serão descobertos no futuro. Por isso, algumas empresas já estão criando sanguessugas em cativeiro para usos clínicos, injetando importantes investimentos e ajudando no desenvolvimento de novas técnicas.