Assim que a vendedora C. S. B, de 30 anos de idade, percebeu que os “pigarrinhos” que a incomodavam há mais de três semanas se transformaram em uma tosse que não cessava, prejudicando seu trabalho e o seu sono, buscou ajuda médica.
“Eu nem suspeitava que pudesse sofrer de tuberculose, é claro que levei um susto quando o médico informou o diagnóstico”, conta.
A maior preocupação dela era saber se a doença tinha cura e como era o tratamento. O seu médico explicou que o tratamento da tuberculose é efetivo, apesar de ser um tanto longo: cerca de seis meses.
Neste período, a vendedora foi orientada a não ter contato próximo com familiares e que a adesão ao tratamento seria a sua garantia para se livrar da doença.
“Não relaxei, segui o que o médico indicou e, apesar de considerar o tratamento muito difícil, consegui ir até o final e pude abraçar meu marido e filhos novamente”, comemora.
De acordo com o médico e professor adjunto de pneumologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rodney Frare Silva, a tuberculose é uma doença infecciosa causada por um bacilo, que é uma bactéria que se chama Mycobacterium tuberculosis e que está no mundo há pelo menos 4 mil anos.
Conscientização e alerta
Em países, como a Suécia, Holanda e Noruega, por exemplo, não se tem notícia da incidência da doença.
A tuberculose é uma doença que acomete a camada mais desprovida da população, que mora em cômodos pequenos, não tem o recurso da água encanada e acesso à vacinação.
“Por isso, quando um diagnóstico da doença é confirmado, o médico deve indicar o exame para a família toda, já que a transmissão se faz de pessoa para pessoa”, alerta o especialista.
O dia 24 de março é a data da mobilização contra a tuberculose. Foi nesse dia que, em 1882, foi descoberto o bacilo causador da doença.
É a ocasião em que o mundo tem a oportunidade de expandir a conscientização, alertar e mostrar à população uma realidade que tantas vezes passa despercebida. Frare lamenta que o Brasil faça parte dos 22 países que detêm 80% dos casos de tuberculose no mundo. “A doença pode atacar crianças, adultos e idosos, mas a faixa etária de maior incidência é dos 20 aos 40 anos, quando a pessoa se encontra na fase mais produtiva da vida”, observa.
Tosse por três semanas
Rodney Frare compara com uma gripe, em que, por mais que tenha tosse e catarro, ela não deve passar de 10 dias.
“Mas se está tossindo há mais de três semanas, é preciso procurar recurso médico para ser examinado, fazer uma consulta e passar por um exame de escarro”, adverte.
Outro sintoma é uma febre vespertina, de fim de tarde. A pessoa se sente indisposta e vai dormir, transpirando a noite toda. De manhã, acorda bem. No fim da tarde, de novo, volta a ter febre.
“Os sintomas estão completos: tosse, expectoração, febre vespertina e sudorese noturna”, avalia o pneumologista, salientando que quando a doença avança pode ser observado sangue no escarro. O especialista observa que é nessa fase – antes que surja o escarro com sangue -que o recurso médico deve ser procurado.
Remédio de graça
Antigamente a tuberculose era considerada quase uma condenação na vida de uma pessoa, pois não existia tratamento eficaz.
Com efeito, ainda hoje, morrem cerca de 3 milhões de pessoas por ano no mundo devido à doença. Hoje em dia, já se sabe que a tuberculose é curável desde que o paciente faça tratamento correto e sem interrupção.
Seu índice de cura é superior a 95%, quando realizado adequadamente. No Paraná, todos os postos de saúde estão aptos a tratar da doença e os remédios são distribuídos também gratuitamente.
“A melhora acontece já no segundo mês de controle, quando o paciente não manifesta mais os sintomas e deixa de transmitir a doença”, esclarece Rodney Frare, lembrando que, por terem os sintomas diminuídos, as pessoas abandonam a medicação e prejudicam o tratamento.
Principais sintomas da tuberculose
* Tosse com expectoração por mais de três semanas
* Febre vespertina
* Suores noturnos
* Falta de apetite
* Perda de peso
* Fraqueza
* Dor no tórax
* Escarro com sangue
Os tristes números da doença
NO BRASIL
* Ocorrem, em média, 116 mil novos casos por ano
* Somente 85 mil deles são notificados
* O País ocupa o 14.º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de registros de tuberculose do planeta
* A doença representa a 9.ª causa de internação
* É a 7.ª maior causa de gasto com saúde pública
* Representa a 4.ª causa de morte por males infecciosos
NO MUNDO
* Todos os anos são registrados em torno de 8,8 milhões de novos casos
* Anualmente ocorrem 2,7 milhões de óbitos em decorrência da doença