Uma pesquisa, publicada em forma de artigo científico, demonstra que mais de 90% dos portadores de Hepatite C tratados em centros de tratamento assistido sentem-se confortados pela troca de experiências e por isso continuam o tratamento até o final. O artigo é assinado pelos professores Dr. Fernando Ruiz (Infectologista do Conjunto Hospitalar de Sorocaba – PUC) e Dr. David Zylbergeld Neto (ex-Secretário de Saúde de Carapicuíba). O artigo foi publicado na última edição da Revista Brasileira de Medicina.
A pesquisa contou com entrevistas de 253 pacientes de oito centros de tratamento assistido da capital, região metropolitana e interior de São Paulo. Nesses centros os pacientes são tratados por uma equipe multidisciplinar e recebem, semanalmente, o medicamento alfa-peguinterferona 2-b (PegIntron), único interferon peguilado aplicado de acordo com o peso do paciente, possibilitando maior economia através do compartilhamento das ampolas. Nesses oito centros de tratamento assistido 96% dos 253 pacientes pesquisados apresentaram plena adesão ao tratamento. Ou seja, os pacientes tomaram todas as doses prescritas por seus médicos.Segundo o artigo científico, "compartilhar experiências com pessoas portadoras da mesma doença estimula a grande maioria dos pacientes a continuar o tratamento. Na visão dos pacientes, o bom atendimento, a economia com o compartilhamento do medicamento e a presença de enfermagem treinada e especializada foram os três pontos positivos mais mencionados."
Para o presidente da ONG "C Tem que Saber C Tem que Curar", da cidade de São Manoel (SP), Chico Martucci, "o tratamento assistido e compartilhado, cientificamente e praticamente, é o melhor caminho atual para a cura da Hepatite C". Essa ONG é responsável por um vídeo sobre o sucesso do tratamento da Hepatite C no centro de tratamento assistido da Unesp de Botucatu (SP). Outras duas ONGs do Rio Grande do Sul ? Grupos Adote e HepatChê ? também realizaram um vídeo sobre a satisfação no centro do Sanatório Partenon de Porto Alegre. Tanto em Botucatu, quanto em Porto Alegre, a adesão dos pacientes ao tratamento atinge os 98%.
Martucci destaca ainda que além da satisfação e da aderência ao tratamento, o compartilhamento do medicamento nos pólos proporciona grande economia aos cofres públicos. "Com o mesmo recurso trata-se o dobro de pacientes".
Na semana passada a Secretária de Saúde do Rio de Janeiro anunciou a criação do primeiro centro de tratamento assistido, no Hospital Central do Iaserj. E para os próximos três meses a secretaria prevê a abertura de mais três centros nos hospitais da Lagoa, Fundão e Bonsucesso. Para o presidente do Grupo Otimismo, do RJ, Carlos Varaldo, "os centros de tratamento são serviços que já se mostraram de grande importância para a adesão do portador ao tratamento, segundo relato de algumas ONGs e de médicos". No Brasil existem 34 ONGs voltadas para a defesa de portadores da Hepatite C.
Em todo o Brasil estima-se a existência de 53 centros de tratamento assistido. São 42 centros no Estado de São Paulo, dois no Rio Grande do Sul, dois na Bahia, dois no Ceará, dois no Acre, um no Espírito Santo, um em Brasília e um no Rio de Janeiro. Nesses pólos estão em tratamento mais de 3 mil pacientes. Estima-se a existência de 4 milhões de brasileiros infectados pelo vírus da hepatite C, no entanto apenas 10% têm conhecimento da doença.
De acordo com portarias do Ministério da Saúde, todo o tratamento de pacientes com Hepatite C deve ser fornecido gratuitamente pelas secretarias de saúde dos estados. Atualmente o tratamento mais eficaz para o vírus genótipo 1 (mais comum e mais agressivo) da Hepatite C é o que se baseia no uso de interferon peguilado associado com ribavirina.