Dentro de uns cinco anos os pacientes com esclerose múltipla poderão ser beneficiados por novidades que facilitarão seu tratamento.
?Estamos trabalhando para produzir o inferferon beta 1a em spray nasal, desenvolver tratamentos com um menor número de injeções, ou ainda uma fórmula eficaz e segura de medicamento oral?, anunciou na última semana, em São Paulo, o Prof. Dr. Ali Frederic Ben-Amor, diretor médico mundial da divisão neurológica da Serono, terceira maior companhia de biotecnologia do mundo, com sede na Suíça.
A empresa trabalha na decodificação dos genes envolvidos no processo da esclerose múltipla, pesquisas que provocarão novas descobertas e até mesmo tratamentos individualizados.
O Dr. Ben-Amor esteve em quatro capitais brasileiras (Salvador, Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo) realizando palestras para neurologistas sobre o tratamento da esclerose múltipla, doença auto-imune e crônica, que afeta o sistema nervoso central e a cada surto provoca comprometimentos neurológicos como perda de movimentos e da visão.
A doença acomete adultos jovens, principalmente mulheres e é de difícil diagnóstico. Não tem cura, mas atualmente existem medicamentos que podem diminuir o avanço da doença e manter o paciente sem grandes comprometimentos e com qualidade de vida.
As pesquisas do instituto incluem a decodificação dos genes envolvidos na esclerose múltipla, no entanto o SGI também trabalha em descobertas sobre outras doenças auto-imunes como artrite reumatóide, psoríase e diabetes tipo I.
No último mês de março a Serono anunciou a decodificação de 80 genes envolvidos no processo de inflamação e degeneração neurológica da esclerose múltipla, com base no estudo de 900 pacientes com a doença e 900 saudáveis. Ainda no primeiro semestre de 2.006 o estudo será concluído e anunciado.
?Se conhecermos melhor a doença, as particularidades genéticas desses pacientes, seremos capazes de encontrar novas proteínas que possam ser utilizadas como novos alvos terapêuticos ou como novos medicamentos?, explicou o Dr Ben-Amor.
Segundo o médico, já em 2.010 serão anunciadas novidades nas formas de tratamento da esclerose múltipla. Para ele, não existem dúvidas de que o interferon beta 1 a (Rebif), em altas doses, é o mais seguro e eficaz tratamento. No entanto, são necessárias três injeções semanais.
?Deveremos conseguir diminuir essas injeções para uma a cada 15 dias ou chegar a fórmula de spray nasal. Assim como estão evoluindo as pesquisas de um medicamento oral (em comprimido). É muito interessante olhar para o futuro, mas não podemos nos esquecer que há 10 anos não havia tratamento para a esclerose múltipla. E hoje já conseguimos alterar o curso da doença, diminuir sua progressão. A doença nunca dorme. Por isso as pesquisas têm que evoluir sempre?.
Falar em cura? É muito difícil, segundo o Dr. Ben-Amor. Mas até mesmo vacinas para doenças auto-imunes estão sendo pesquisadas. Serão vacinas que protegerão o organismo de atacar a si mesmo, processo que ocorre em doenças como a esclerose múltipla, a artrite reumatóide, a psoríase e a diabetes tipo I.
A esclerose múltipla atinge 1 milhão e 200 mil pessoas em todo o mundo. No Brasil não há dados precisos sobre o número de portadores, mas estima-se que seja da ordem de 25 mil pessoas.
A doença caracteriza-se pela inflamação e destruição da mielina, substância que envolve os neurônios e permite a normal condução de impulsos nervosos para o cérebro e todo o corpo. Na esclerose múltipla a mielina lesada se transforma numa placa esclerosada (como se a região ficasse com uma consistência semelhante a de uma cicatriz). Isto dificulta o controle de várias funções orgânicas, que resultam em distúrbios visuais, da sensibilidade, paralisia e perda da coordenação motora.
O processo pode ocorrer em diferentes partes do sistema nervoso, sob a forma de múltiplas placas, daí a denominação esclerose múltipla. Os sintomas podem regredir espontaneamente e retornar meses ou anos depois. A doença atinge duas vezes mais mulheres do que homens, na faixa dos 20 aos 40 anos de idade. Não existe causa definida, mas existem influências de fatores genéticos, imunológicos e até ambientais, como o clima frio.