Muitas pesquisas apontam que o padrão alimentar da população brasileira mudou nos últimos 30 anos.

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A população deixou de consumir ou diminuiu o uso de alguns alimentos e incorporou novos hábitos alimentares. Segundo a nutricionista Adriana Hocayen de Paula, alguns alimentos, como o arroz, feijão, batata, carne e açúcar foram reduzidos da dieta, enquanto alguns aumentaram, como o caso do refrigerante, água mineral, iogurte, comida pronta e refeições fora de casa.

Os estudos também indicam que a saúde do brasileiro não vai bem. O pior é que a alimentação é uma das maiores responsáveis pelo péssimo estado nutricional da população.

Juntamente com outros hábitos nada saudáveis, como sedentarismo, tabagismo e alcoolismo. Nos últimos anos, diversas pesquisas avaliaram como os hábitos podem interferir na qualidade de vida e no desenvolvimento de doenças crônicas.

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ingestão insuficiente de frutas, legumes e verduras é um dos fatores de risco para a maioria das mortes por doenças crônicas não transmissíveis, como osteoporose, hipertensão, síndrome metabólica, diabetes, doenças relacionadas ao sistema nervoso central, diminuição da imunidade (doenças do sistema imunológico), doenças cardiovasculares, câncer de cólon (comprovado, no caso da falta de cálcio).

Fome oculta

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Para Adriana de Paula, passamos por uma transição nutricional. “Situações graves de carências nutricionais importantes e, por outro lado, o aparecimento da preocupante síndrome metabólica”, reconhece.

A última pesquisa de orçamentos familiares do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão verificou que o consumo de refrigerantes pelos brasileiros aumentou 400%, além disso, houve diminuição do consumo de peixes (-50%) e ovos (-84%) e um aumento significante (300%) do consumo de embutidos (mortadela, lingüiça, salame e outros alimentos com alto teor de gordura e sal).

Andréa Ramalho, consultora do Ministério da Saúde e autora do livro Fome oculta – Diagnóstico, tratamento e prevenção explica que não se trata da desnutrição de quem passa fome, mas sim da ingestão de vitaminas e minerais em quantidade insuficiente para o bom funcionamento do organismo.

A especialista esclarece que o consumo de micronutrientes abaixo da necessidade do organismo compromete várias etapas do processo metabólico, especialmente as alterações observadas no sistema imune, nas defesas antioxidantes e no desenvolvimento físico e mental das pessoas.

“A insuficiência de micronutrientes pode levar ao que chamamos de fome oculta, que acomete uma em cada quatro pessoas no mundo, segundo dados do International Life Science Institute (ILSI), por isso, considerado o problema nutricional mais prevalente, atualmente, no planeta”, constata.

Micronutrientes

A autora esclarece que a fome oculta não apresenta sintomas específicos, mas pode ser traiçoeira.

“Quando é percebida, já se transformou em doenças crônicas, algumas de difícil controle”, adverte.

Notadamente, é a carência que o corpo tem de certos nutrientes que ajudam a prevenir inúmeras doenças. Muitas vezes, no entender da especialista, o problema pode estar escondido por uma aparência de normalidade ou de exageros. “Aí é que está o perigo: além de não comermos o que é necessário, comemos em excesso o que não é preciso”, constata.

Este ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga a atualização do estudo Brazos, desenvolvido por pesquisadores da Unifesp em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da USP, que avaliou 65 mil domicílios.

A pesquisa evidenciou que o consumo de frutas, verduras e legumes se mostrou bastante aquém do mínimo recomendável para a manutenção da saúde, alcançando apenas 1/3 da recomendaç&atilde,;o de consumo diário pelo Guia Alimentar para a População Brasileira.

Nas regiões economicamente mais desenvolvidas, no meio urbano e entre famílias com maior rendimento houve excesso de gorduras em geral e de gorduras saturadas. Especialistas observaram que dois em cada três brasileiros não ingerem a quantidade adequada de micronutrientes considerados essenciais.

Porção mínima

Entre os nutrientes apontados como deficientes, destaca-se o cálcio, consumido três vezes abaixo da quantidade diária recomendada internacionalmente e a vitamina D, consumida até seis vezes menos do que o necessário para prevenir doenças como a osteoporose e a hipertensão.

Situação semelhante acontece com vitaminas E, A, K, potássio e betacaroteno. Em 30% da população observou-se excessiva ingestão de gorduras e menor consumo de carboidratos.

O Vigitel – Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico -, do Ministério da Saúde, divulgado em 2008, confirma essa realidade. O consumo recomendado de frutas e hortaliças, conforme a OMS de no mínimo 400g, o equivalente ao consumo de cinco porções desses alimentos.

No Brasil é de somente 15,7% dessa quantidade (sendo 12,6% para homens e 18,3% para mulheres). Entre as capitais, variam de 8,1% em Rio Branco – o pior índice – e 22% em Florianópolis, a capital que apresentou o maior consumo.

Outros hábitos nocivos

* As pesquisas também apontaram que falta atividade física na rotina dos brasileiros. O Brazos alertou para alta taxa de sedentarismo, 76%, sendo maior nas classes A e B (37%), do que nas classes D e E (15%). O Vigitel apontou 26,3% de inatividade física.

* O tabagismo foi informado por 25% dos entrevistados do Brazos. A freqüência de fumantes no Vigitel é 15,2%, além disso, 4,5% declararam fumar 20 ou mais cigarros por dia.

* A obesidade, fator de risco, para diversas doenças como a síndrome metabólica, está presente em 13% dos brasileiros, segundo o Vigitel, que apontou que 43,3% de excesso de peso. Os homens estão mais acima do peso que as mulheres (47,3% homens e 39,5% mulheres).

Números do Vigitel

* 15,7% consomem o recomendado de frutas e hortaliças
* 12,6% dos homens consomem o recomendado de frutas e hortaliças
* 18,3% das mulheres consomem o recomendado de frutas e hortaliças
* 33,8% consomem carnes com excesso de gordura
* 27,8% consomem regularmente refrigerantes (cinco ou mais dias da semana)
* 26,3% são inativos fisicamente
* 16,4% praticam atividades físicas com a frequência ideal
* 47,3% dos homens estão acima do peso
* 39,5% das mulheres, também
* 15,2% são fumantes (20 ou mais cigarros por dia)

Fonte: Estudo Vigitel 2008