Todo cuidado é pouco quando se trata de doença de Alzheimer

Não existe um teste clínico específico que permita a detecção de um diagnóstico correto da doença de Alzheimer. O diagnóstico é efetuado por meio de uma boa conversa com o especialista e de dados clínicos e laboratoriais que ajudam a excluir a suspeita de outras doenças. O grande desafio da medicina neurológica é o subdiagnóstico, ou seja, quando o paciente começa a apresentar alguns dos sintomas da doença, como: perda de memória de fatos recentes, dificuldade na execução das atividades domésticas e manuais, desorientação, dificuldade em fazer contas, em geral. Nessas situações, a primeira reação dos familiares é dizer que a idade está pesando para vovós e vovôs.

Isso porque a maioria das pessoas encara esses distúrbios de comportamento como ?episódios? naturais da idade e custam a entender que devem levar o paciente ao médico com a máxima urgência. Com o passar do tempo, quando os familiares percebem que os distúrbios de comportamento se tornaram mais sérios, pode ser tarde demais, e a doença já estar em uma fase considerada grave. Por essa razão é muito importante conscientizar a população de que aos primeiros sinais dos distúrbios comportamentais da velhice, os pacientes devem ser submetidos a uma consulta com especialista e, se for o caso, iniciar o tratamento rapidamente.

Declínio intelectual

O mal de Alzheimer é uma doença degenerativa que afeta o cérebro e ainda não tem cura. Ela causa comprometimento da memória, do raciocínio e do comportamento, atingindo aproximadamente 15 milhões de pessoas em todo o mundo, e de 600 mil a 1 milhão no Brasil. Em geral, o declínio das funções intelectuais ocorre num período de dois a dez anos, culminando com a total dependência e até mesmo a morte. A boa notícia é que a ciência começa a encontrar alternativas para adiar o processo de degeneração dos neurônios, característica da doença, proporcionando melhor qualidade de vida aos pacientes e aos familiares.

Conforme o doutor em neurologia Paulo Caramelli, o tratamento dos sintomas comportamentais em pacientes com demência deve obedecer a uma seqüência de atitudes por parte do médico. Inicialmente devem ser investigadas possíveis causas, além da própria doença neurológica. Ele cita, por exemplo, infecções do trato urinário ou do trato respiratório ou ainda mudanças no ambiente em que o paciente vive. ?Essas são causas reconhecidas de piora comportamental em pacientes com demência?, observa. Nesses casos, no seu entender, a rápida identificação e intervenção – muitas vezes não farmacológica – podem solucionar o problema.

Antipsicóticos

Nos casos em que não há nenhum fator desencadeante além da própria doença, o tratamento medicamentoso está indicado. ?Sabemos que as medicações de ação colinérgica, que são aprovadas para o tratamento dos sintomas da doença de Alzheimer leve a moderada, também são eficazes para os sintomas comportamentais, como apatia, alucinações, delírios, agitação?, ressalta Caramelli, salientando que há consenso hoje de que essas medicações sejam a primeira opção terapêutica nesses casos.

Nos pacientes que não exibem melhora dos sintomas comportamentais ou ainda naqueles em que a melhora é parcial, os antipsicóticos são comumente prescritos, e preferência é dada usualmente aos antipsicóticos atípicos, pelo fato de apresentarem menos efeitos colaterais. Entretanto, após recentes constatações feitas pelo FDA, o uso desses medicamentos em pacientes idosos com demência deve ser revisto.

Antidepressivos

O especialista explica que há muitos pacientes com demência, especialmente doença de Alzheimer, que fazem uso de antipsicóticos atípicos para controle de sintomas comportamentais e, nos quais, a introdução desses medicamentos trouxe claro benefício. Naqueles pacientes em que os sintomas comportamentais persistem, o desafio para os médicos continua. ?Teremos que atuar de maneira mais cautelosa e buscando identificar as melhores alternativas de tratamento, tanto farmacológico quanto não farmacológico?, insiste Paulo Caramelli. Os chamados antipsicóticos clássicos ou típicos, de acordo com o médico, poderão ser empregados, sempre com extremo cuidado nas doses prescritas e com acompanhamento freqüente. ?Algumas medicações antidepressivas têm efeitos sobre determinados sintomas comportamentais das demências e podem ser empregadas em casos selecionados?, frisa.

Paulo Caramelli faz questão de salientar que o tratamento dos sintomas comportamentais das demências deve sempre incluir também medidas não farmacológicas. Mudanças no ambiente (por exemplo, mudança de quarto ou dos móveis com os quais o paciente está acostumado) ou formas inadequadas de assistência (por exemplo, durante o banho) são fontes comuns de agitação ou mesmo de agressividade. A identificação dessas possíveis causas de piora comportamental depende de uma entrevista detalhada por parte do médico, que em seguida poderá fornecer aos familiares e cuidadores orientações mais adequadas e individualizadas para aquele caso em especial.

Cerca de 100 doenças podem causar demência

Demência é o termo médico usado para definir uma condição em que ocorre declínio do funcionamento cognitivo (intelectual) de uma pessoa, de intensidade suficiente para prejudicá-la na realização de atividades profissionais, sociais ou de lazer. As demências afetam entre 5% e 10% das pessoas com idade igual ou superior a 65 anos. Há um claro avanço dessa freqüência com o aumento da idade: a cada cinco anos, a freqüência de demência aproximadamente dobra de valor. Essa é uma questão extremamente importante em um país como o nosso, em que o número absoluto e relativo de idosos vem aumentando rapidamente. Cerca de 100 doenças podem causar demência. As duas causas mais comuns são a doença de Alzheimer e a demência vascular. As duas são responsáveis – isoladamente ou em associação – por cerca de três quartos de todas as demências que incidem nos idosos, sendo a doença de Alzheimer a mais freqüente delas (de 55% a 60% dos casos).

Embora o governo tenha definido, há alguns anos, a criação de centros de referência para o atendimento ao idoso, ainda há muitas regiões sem esse tipo de assistência especializada, sobretudo no interior. Assim, há necessidade de maiores investimentos na área, aparelhando novos centros e qualificando maior número de profissionais de saúde para o atendimento de pacientes idosos com transtornos neuropsiquiátricos.

Fonte: Paulo Caramelli, neurologista

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