Os especialistas em educação infantil condenam, mas o famoso tapinha ainda é usado como método de ensino por pais que acreditam que esta seja uma maneira eficiente de impor respeito e educar.
O problema são os prejuízos físicos e afetivos que a atitude provoca aos pimpolhos. “O que é um tapinha para um adulto, não é para uma criança, bater nunca é a solução”, explica a psicóloga infantil Marina Vasconcelos, que conduziu um estudo pelo Instituto de psicologia da USP, em conjunto com a psicóloga Viviane Nogueira de Azevedo Guerra , relatando os efeitos negativos do tapinha e explicam que seu uso é uma questão cultural.
A pesquisa, que originou o livro Mania de Bater – A Punição Corporal Doméstica de Crianças e Adolescentes no Brasil concluiu que das 894 crianças entrevistadas, mais da metade revelou ter levado ao menos um tapinha em casa e, na maioria dos casos, foram as mães as responsáveis pela palmada. “As crianças sentem dor física e psicológica. Muitas das crianças avaliadas se mostraram revoltadas com os pais que, para elas, tinham se esquecido de que já foram crianças um dia”, explica Viviane de Azevedo.
Tapinha dói sim
A dor sentida pela criança quando ela leva uma palmada não é apenas física. As palmadas costumam ferir os sentimentos da meninada, que não entende a razão de ter apanhado. Para elas, o que fica da lição é a violência como forma de punição. “A criança não deve ser punida fisicamente.
Deve ser educada. Se ela cresce sendo repreendida com violência, vai ser violenta também. Educação é antes de tudo, repetição”, explica a psicóloga Marina Vasconcelos. “Os pais ficam chocados quando chegam reclamações da escola sobre o comportamento agressivo dos filhos, mas basta ver que a reação é um dos efeitos da violência do tapinha usado por eles para educar.”
A secretária Juliana Martins, mãe de Beatriz, 6 anos, conta que nunca havia dado palmadas na filha por achar que não era uma boa forma de educar, porém, um dia, de cabeça quente, a secretária deu um tapinha em Bia, que reagiu chorando muito. Desesperada por achar que tinha machucado a filha, Juliana perguntou o que houve, e a menina disse que doía mais no coração. “Nunca mais encostei um dedo nela. Até hoje me lembro dela falando com lágrimas nos olhos. Depois disso, percebi que conversar é sempre a melhor opção”, conta a mãe.
Postura firme
Marina Vasconcelos explica que, muitas vezes, voz e postura firmes são suficientes para repreender os pimpolhos e que apontar os motivos da bronca é fundamental para que o processo de educação seja efetivo. “Não adianta colocar de castigo ou gritar. Se você não mostra o erro, nada irá funcionar, além do mais, a criança aprende o que é ensinado a ela. Se ensinar conversa, ela aprenderá conversa. Se ensinar com tapas, pode receber tapas em troca um dia”, alerta a psicóloga.
Além disso, os pimpolhos podem encarar a punição à base de tapas como um caminho para confrontar os pais e, o método, que tinha como objetivo educar, acaba provocando o efeito contrário: “Como o tapa nunca vem seguido de explicações, desperta birra na criança, que vai cometer o mesmo erro para ver até onde os pais aguentam. Vira uma espécie de desafio”, explica Marina. “Uma boa opção para o problema é nunca sair do eixo, assim, seus filhos não vão te testar, porque sabem que você perde o equilíbrio diante das travessuras deles”, continua.
De acordo com a idade
Conversar com uma criança de dois anos não é a mesma coisa do que conversar com uma de 6 anos. Crianças muito pequenas entendem que estão sendo repreendidas, mas não conseguem perceber os motivos da bronca, por isso, Marina recomenda a paciência e a mudança de hábitos dos pais. “Tente mostrar por meio de atitudes o que está tentando explicar com palavras. Se ela não deve brincar na tomada, tire-a de lá e diga que não pode. Se ela bagunçou o brinquedo, tire-o dela e mostre onde ele deve ser colocado. Elas aprendem pela memória visual e pela repetição, falar não vai adiantar”, explica a psicóloga.
Linguagem do afeto é ensinada com atitudes e não com violência
O amor entre pais e filhos se dá na base da construção. São carinhos, brincadeiras, cuidados e até broncas que alimentam estes laços de afetividade.
“Se os pais batem, ela aprende que bater é legal. Se os pais punem com violência, ela vai sempre achar que desejos devem ser punidos e pode se tornar um adulto reprimido e até tímido”, explica a psicóloga.
Hábito que se repete
Sabe aquele velho ditado “Os filhos são espelhos dos pais?” Segundo a psicóloga infantil, Marina Vasconcelos, quando uma criança cresce levando palmadas, pode usar o mesmo método com seus filhos no futuro, gerando um círculo vicioso: “A criança pode até achar ruim quando leva a palmada, mas quando ela cresce passa a achar natural, afinal, seus pais não iriam fazer nada de mal contra ela e, dessa forma, acaba repassando estes valores para os filhos. É pura repetição”, finaliza Marina.
Quando a criança recebe palmadas como punição, aprende que dar palmadas também é bom e começa a construir laços agressivos.
Alternativas
– Demonstre. Se a criança for pequena, tire dela o objeto ou a afaste da situação perigosa dizendo que não pode. Ela irá entender que não pode fazer aquilo.
– Mostre a sua autoridade. Pulso firme e voz ativa podem ajudar na hora de educar sem causar danos emocionais e físicos. “A criança já se intimida com o tom de voz”, diz a psicóloga.
-Converse sempre. “Quando compreendemos nossos erros, evitamos sua repetição. Uma criança que deixa de fazer algo por repressão, mas não por um ato educativo, não aprende, apenas acumula reforços negativos e revolta”, continua a especialista.
-Jogos educativos e brincadeiras podem ajudar a educar sem precisar apelar para o tapinha. Segundo Marina Vasconcellos, os jogos são grandes aliados da educação didática. Com eles, os pais podem ensinar limites e explicar erros brincando.