Irinéia Gadonski, auxiliar de higiene, fumou por 11 anos e largou o vício há cinco meses.
Segundo ela, as reuniões do grupo de humanização do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, fizeram com que arrumasse forças para parar de fumar.
Outra influência veio da unidade de quimioterapia local em que trabalha e convive com a dura realidade e sofrimento dos pacientes. Em menos de dois anos 800 fumantes foram abordados para trocaram o tabaco pela saúde. “Apenas o fato de fumantes terem a iniciativa de participar do grupo já é uma conquista”, comenta coordenadora Ana Luísa Coelho.
Assim como a auxiliar, muitas outras mulheres frequentam os encontros, reforçando os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que confirmam que apontam a preocupação com o fumo entre as mulheres. Esse índice já chega a 20% dos fumantes no mundo, mas o número cresce em alguns países.
A OMS pretende conscientizar a sociedade de que além de problemas cardíacos, enfisema e câncer de pulmão, o uso do cigarro pelas mulheres pode acarretar outras questões, como maiores taxas de infertilidade, problemas no parto, nos ossos e menopausa precoce.
Fumantes passivos
Não é para menos que o tabagismo é considerado como a principal causa de morte evitável no mundo. Por ano, são cerca de 4,9 milhões de óbitos em função do consumo de tabaco.
A OMS mantém esforços para reduzir o número de fumantes com iniciativas como o incentivo à adesão de países aos ambientes livres de tabaco e conscientização da importância do tratamento dessa epidemia, que mata, conforme a organização, uma pessoa a cada 6 segundos. Atualmente o tabagismo é associado a 90% dos casos de câncer de pulmão, neoplasia de letalidade altíssima.
Outro aspecto de extrema importância é que o cigarro prejudica, e muito, a quem não fuma. Os fumantes passivos também estão propícios a sofrerem câncer de pulmão.
Os dados mostram que 25% a 46% das mulheres e de 13% a 37% dos homens que morrem de câncer de pulmão não fumam, mas adquiriram a doença com a convivência com fumantes. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 300 pessoas morrem por dia no Brasil em consequência do hábito de fumar.
Durante o consumo do cigarro, a pessoa introduz no organismo mais de 4.700 substâncias tóxicas, incluindo nicotina (responsável pela dependência química), monóxido de carbono (o mesmo gás venenoso que sai do escapamento de automóveis) e alcatrão, que é constituído por aproximadamente 48 substâncias pré-cancerígenas, como agrotóxicos e substâncias radioativas (que causam câncer).
De acordo com o oncologista Alexandre Chiari, além do câncer de pulmão, outras doenças são causadas pelo cigarro, como os cânceres de colo uterino, de laringe, de boca, de pâncreas, bexiga, esôfago, estômago e rim.
Ajuda especializada
“O tabaco também pode ser associado ao infarto e às doenças vasculares, como o derrame cerebral”, ressalta o especialista. As pesquisas demonstram também que o fumo é a causa principal de bronquites crônicas e enfisemas pulmonares. “O cigarro aumenta em seis vezes o risco de infarto em mulheres jovens e também a probabilidade de aborto, parto prematuro e nascimento de criança com baixo peso”, afirma a cardiologista Jaqueline Scholz Issa, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor de São Paulo e autora do livro Deixar de fumar ficou mais fácil (MG Editores). Na obra, ela explica o mecanismo de dependência da nicotina e ensina como se livrar dele.
A cardiologista lembra que a cobrança exagerada e “dedo em riste” só atrapalham aqueles que querem deixar de fumar. Ela aconselha os fumantes a não se deixar pressionar com argumentos convencionais, que os fazem se sentir culpados e anti-sociais, lembrando, também, que não é necessário sofrer sozinho. “Existe ajuda especializada e o dependente deve procurá-la”, enfatiza.
Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira d,e Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) alerta, no entanto, que 80% dos que pararam, acabam retornando ao hábito de fumar.
Para ele, durante o tratamento, é fundamental o tabagista ter apoio para conseguir vencer o vício, pois a nicotina age muito rápido no cérebro e causa maior dependência, superior ao álcool, por exemplo. “Basta um mês de uso contínuo de cigarros para acionar o gatilho da dependência”, adverte.
Combinação perigosa
O cigarro é um grande vilão para a saúde da mulher. Tanto é verdade que neste ano, o tema da campanha da OMS para o Dia Mundial sem Tabaco, foi “Os sexos e o tabagismo: a promoção do cigarro destinada às mulheres”.
Nas mulheres, além dos distúrbios já relatados, o vício do fumo se complica quando entra em cena o anticoncepcional, pois quando esses dois elementos se juntam, os efeitos se potencializam enormemente.
De acordo com Denise Franco, mestre em endocrinologia, o anticoncepcional, quando associado ao tabagismo, aumenta em dez vezes o risco de trombose, em 39 vezes o de doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio, e em 22 vezes o de acidente vascular cerebral (AVC) quando comparado a mulheres não fumantes.
“Mulheres que fumam estão mais sujeitas a iniciar a menopausa antes dos 45 anos de idade, o que pode aumentar o risco de osteoporose e doenças cardíacas”, alerta.
Normalmente, a mulher torna-se fumante na adolescência, ao mesmo tempo em que inicia sua vida sexual. Essa perigosa combinação faz parte da gênese e progressão de várias doenças que podem comprometer o aparelho reprodutor feminino como as vulvovaginites e o câncer de colo uterino – que é de duas a sete vezes mais prevalente entre as fumantes.
Além disso, o cigarro pode acelerar o envelhecimento da pele e reduzir a expectativa de vida da mulher. “Para retomar uma vida mais saudável é necessário parar de fumar e praticar exercícios físicos de forma rotineira, além de manter uma dieta equilibrada com frutas e verduras para enriquecer o cardápio”, recomenda Denise Franco.
Efeito instantâneo
A fumaça do tabaco, durante a tragada, é inalada para os pulmões, distribuindo-se para o sistema circulatório e chega rapidamente ao cérebro, entre sete e nove segundos.
Além disso, o fluxo sanguíneo capilar pulmonar é rápido e todo o volume de sangue do corpo percorre os pulmões em um minuto. Dessa forma, as substâncias inaladas pelos pulmões espalham-se pelo organismo com uma velocidade quase igual a de substâncias introduzidas por uma injeção intravenosa.