Esta parte é a mais difícil do tratamento do fumante: evitar a recaída, fazer com que ele se mantenha sem fumar, apesar de todos os apelos e situações que irão fazê-lo balançar na sua opção de permanecer como ex-fumante. Todo momento ele será testado, fustigado a experimentar, a dar só uma ?tragadinha? para relembrar os bons momentos que passaram juntos.

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A tentação é tanta que se o fumante não estiver bem preparado emocionalmente, motivação em alta, decidido mesmo a não mais fumar, ele poderá ser traído pelo vício. Esta situação geralmente aparece quando o fumante não mais estiver em uso dos medicamentos que o ajudaram a controlar a fissura. Aí é que mora o perigo!

A recaída é o grande problema de todos os métodos de parar de fumar. Todos nós já vimos propagandas que tal método tem quase 100% de sucesso, que supera os concorrentes. Tudo mentira! Não existe nenhum método para fumantes pesados que atinja mais de 50%, se for analisado o tempo que o fumante fica sem fumar. Muitos métodos funcionam somente por determinado tempo, de três a seis meses. Após este período o fumante tem as suas recaídas. Bom, qual é dica para se evitar as recaídas?

Sabemos que as recaídas acontecem por diversos motivos e situações, cada fumante tem as suas peculiaridades. De modo geral, aquele que se preparou com afinco, elevou a sua motivação ao máximo, valorizou o seu bem-estar físico e mental, trocou hábitos deletérios pelos mais saudáveis, deixou de beber demais, praticou exercícios físicos de forma prazerosa, tem muito mais chance de suportar os desafios que o ex-fumante atravessa. Por outro lado, aqueles que se apegaram somente aos medicamentos de parar de fumar vão fracassar com mais freqüência, pois já pararam de usar a medicação.

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Muitos pacientes se apegam muito aos medicamentos e não nos passos iniciais: motivação alta e marcar o dia ?D?, tendo várias recaídas. Possivelmente não fizeram o ?dever de casa?, e não adianta nada prescrever quaisquer outras medicações para ele. Tem que começar tudo de novo, e desta vez de maneira correta. Reforçar a motivação é primeiro passo, dizendo que a recaída é um evento esperado, que não é nenhuma vergonha isto que aconteceu, que ele tem que tentar novamente. Procurar descobrir outras formas de prazer que não o lembre do cigarro, que o coloque em segurança, sem os estímulos para fumar. Certo paciente disse-me que começou a pintar quadros, como maneira de não fumar. Enquanto ela estava pintando, dentro da sua viagem onírica, e concentrada naquele ato de criação, ela estava liberando as mesmas substâncias do prazer que a nicotina, é por isso que ele não sentia falta do cigarro.

Nas situações de possíveis recaídas, o fumante tem que voltar a conversar com o seu médico, para que ele avalie a necessidade ou não do uso de medicamentos, ou apenas reforçar a sua motivação. O ex-fumante em risco de recaída tem que ser franco com o seu médico e confessar as suas dificuldades, o que está colocando em risco o tratamento, só assim o profissional que está orientando-o poderá decidir a melhor forma de ajudá-lo.

Sobre o autor

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Professor titular da Faculdade de Ciências Médicas e do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva, da Universidade Federal de Mato Grosso. Doutor em Medicina – Pneumologia – pela Escola Paulista de Medicina / Unifesp, em 1991.

Autor dos livros Você também pode parar de fumar (Editora Adeptus) e A dinâmica psicológica do tabagismo (Editora Entrelinhas) e de vários artigos sobre o tema publicados em revistas especializadas.

Dr. Clovis Botelho

fbotelho@terra.com.br –  65. 3637 1471 e  65. 9982 6368