Socialização recupera dependentes químicos

Com um trabalho desenvolvido há sete anos na Região Metropolitana de Curitiba, a Casa Terapêutica Água da Vida (Cravi) – uma organização não-governamental situada em uma chácara de 48 mil metros quadrados em Almirante Tamandaré – vem conseguindo bons resultados na recuperação de dependentes de álcool e drogas. Um dos diferenciais do trabalho é a socialização, onde os residentes têm saídas mensais da casa para o contato com a família e amigos. Além disso, as famílias também passam por um trabalho de recuperação para poder receber os ex-dependentes.

Essa diferença no tratamento é que chamou a atenção de Luiz Roberto Monteiro Mourão, 39 anos, que está há dois meses e meio em recuperação na Cravi. Dependente químico há 23 anos, Luiz já passou por três clínicas. Acredita que o tratamento não teve sucesso porque ficou seis meses sem contato com o meio externo. Outro fator importante da casa terapêutica é que todos os dirigentes são ex-dependentes. “Quando eles falam de uma situação estão falando com a propriedade de quem já viveu a dependência e venceu. Então, isso é um grande estímulo para quem está em tratamento”, afirmou.

Para Keller Millani da Silva, 19 anos – e em tratamento há três meses -, o mais importante da recuperação tem sido a conscientização e a socialização. Nos últimos quatro anos em que se tornou dependente químico, ficou internado em clínicas três vezes, e acredita que a falha no tratamento também foi o confinamento. “Eu ficava seis meses fechado, sem ver ninguém, sem ter contato. Quando saía, levava um choque e acabava recaindo”, comentou.

Doze passos

O diretor administrativo da Cravi, Carlos Eduardo Dias Ferretto – ex-dependente de cocaína – conta que os fundamentos da casa são a responsabilidade, a responsabilização e o senso de utilidade. O trabalho de recuperação é feito em duas fases: a primeira é a conscientização, onde num período de dois meses, junto com o apoio de um psicólogo, os residentes passam por um processo de reconhecimento do seu problema. Na segunda fase, que dura sete meses, é feita a socialização. Eles participam de atividades em grupo, recebem orientação espiritual, participam de palestras e podem deixar a casa duas vezes por mês.

A metodologia utilizada, conta Carlos, é baseada nos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos. “A recuperação está na mudança de comportamento”, definiu. Além do trabalho de conscientização, a Cravi também envolve os residentes em atividades de manutenção da casa e outras tarefas ocupacionais, como horta e artesanato. Através de parcerias com empresas e instituições de classe, são ministrados cursos profissionalizantes, e disciplinas dos ensinos médio e fundamental através da educação à distância. Paralelo a isso, as famílias dos residentes também recebem apoio psicológico e participam de atividades em grupo.

Entidade tem dificuldades financeiras

Atualmente estão na Cravi 47 pessoas em tratamento. A unidade de Almirante Tamandaré atende exclusivamente homens acima de 18 anos – o centro também possui uma unidade feminina no Bairro Alto, em Curitiba, e outra masculina na cidade de Curitibanos (SC). De acordo com o diretor administrativo, a maior parte dos residentes tem entre 18 e 26 anos e é dependente de crack, ou alcoólatras entre 40 e 60 anos. A Cravi tem capacidade para abrigar até 60 pessoas, porém esbarra na dificuldade financeira.

Do total de residentes, 40% são carentes. “A família que pode contribuir ajuda com no máximo um salário mínimo e uma cesta básica, e nós também contamos com a colaboração esporádica da comunidade com doações de alimentos e material de limpeza”, contou Carlos. Segundo ele, o apoio de órgãos governamentais, através do repasse de verbas, seria fundamental para que a casa ampliasse o atendimento.

O diretor administrativo ressaltou que a Cravi está aberta para que a comunidade conheça o trabalho, assim como gostaria de contar com o apoio de voluntários das áreas de saúde e educação. (RO)

Serviço

– Quem quiser mais informações sobre a Casa Terapêutica Água da Vida pode acessar o site www.cravi.org.br, ou ligar para os telefones (41) 352-0771, 699-0154 ou 9967-4961.

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