Um dos principais problemas decorrentes do diabetes é o pé diabético, que provoca cerca de 70% das amputações dos pés e da parte inferior das pernas, porque o paciente perde a sensação de dor, frio ou vibração. Diante dessa realidade, o tema foi escolhido para lembrar, este ano, o Dia Mundial do Diabetes. A doença acomete mais de 150 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que 50% desconhecem serem portadoras. Somente no Brasil, estima-se que 11 milhões de pessoas têm diabetes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, para 2025 a previsão é que 300 milhões de pessoas no mundo sofrerão com a doença.
Muita gente não sabe, mas o diabetes mal controlado é o maior responsável pelas amputações de membros inferiores no mundo. Com o passar dos anos, o paciente com diabetes mal controlado tem a circulação nos pés prejudicada e perde sensibilidade. ?Assim, não sente pequenas feridas nos pés, que, se não forem tratadas, podem se tornar úlceras, infecções e gangrena, exigindo a amputação do membro?, explica o endocrinologista Marcus Vinícius Salazar, do Hospital Vita Curitiba.
Principais cuidados
Ana Cristina Lima Brandini, técnica em podologia e responsável pelo Serviço de Orientação ao Pé Diabético da Fundação Pró-Renal, destaca que se o paciente souber realizar um controle preventivo e intensivo dos seus pés pode reduzir em mais de 85% os problemas de infecções, úlceras, gangrenas e amputações. O pé diabético é uma das decorrências das alterações anatomopatológicas do diabete mellitus. A neuropatia ? perda gradual da função do nervo devido à doença – e suas alterações têm sido as maiores responsáveis pelo aparecimento dessas lesões de difícil tratamento e de prognóstico reservado. Elas acometem o corpo como um todo e de várias formas, principalmente na região de transição da perna ao tornozelo e no pé propriamente dito.
Dentre os principais cuidados, Ana Brandini adverte que a pessoa deve enxugar bem os dedos para evitar fissuras, micoses e outras doenças infecciosas; calçar sapatos macios, forrados, que não tenham saltos ou bicos finos e usar meias de algodão, que facilitam a respiração da pele. Além disso, a podóloga avisa que certos curativos ainda em uso devem ser evitados, pois podem prejudicar o tratamento, entre eles, o uso de povidine e de água oxigenada, ?que pode inclusive queimar células de cicatrização?, frisa.
Além do pé diabético, a doença requer cuidados especiais, pois pode trazer conseqüências agudas e crônicas, como cegueira, insuficiência renal, hipertensão arterial, infarto do miocárdio e problemas de circulação.
Prevenção do diabetes
Milhões de pessoas diabéticas, hoje, já têm alterações que possibilitam o diagnóstico precoce da doença, mas não sabem. Não há sintomas. Os exames têm alterações muito sutis e o açúcar sangüíneo em jejum é geralmente normal. ?Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais precocemente o paciente poderá estar livre das complicações crônicas que a doença traz?, afirma a endocrinologista Ellen Simone Paiva.
Conforme a especialista, podemos comemorar uma era muito promissora na prevenção e tratamento do diabetes. A dieta passou a ser menos restritiva e mais opções de alimentos saudáveis e saborosos passaram a compor a dieta do diabético. No entanto, a médica diz que não existe como ser flexível em relação à obesidade. ?Contra ela, todo o empenho, todo o envolvimento e esforço, pois sabemos que é a grande vilã no desencadeamento da doença, nas pessoas susceptíveis?, diz Ellen Paiva.
Além da dieta, para combater a obesidade, no mercado, já estão disponíveis novos medicamentos, todos com evidências concretas de efetividade na prevenção da falência progressiva da produção de insulina. Para a endocrinologista, cabe o envolvimento de mais especialidades médicas e profissionais de saúde e a necessidade de uma intervenção contundente e precoce nesses casos de pessoas que se acham imunes à doença. ?Com um olhar mais atento podemos antever o diabético de amanhã com facilidade?, conclui.
Outros cuidados
Além dos pés, os diabéticos devem prestar atenção nos olhos. A retinopatia diabética, doença que causa pequenos sangramentos no fundo da retina, pode levar até mesmo à cegueira. ?É importante informar-se com seu médico e visitar um oftalmologista com freqüência?, frisa o endocrinologista Marcus Salazar.
Outro grupo que deve prestar atenção às taxas de glicose no sangue são as gestantes. O diabetes gestacional é a alteração das taxas de açúcar no sangue que aparece ou é detectada pela primeira vez na gravidez. ?Pode persistir ou desaparecer depois do parto?, relata a endocrinologista Adriane Rodrigues. De acordo com a médica, se bem acompanhada por um obstetra, a doença não prejudica o bebê. Além disso, pode ser necessário o acompanhamento de um nutricionista, para organizar uma alimentação apropriada.
PESQUISA
Estudo inédito mostra que controle reduz complicações
Pela primeira vez uma pesquisa comprovou cientificamente uma tese que diversos médicos já defendiam no tratamento do diabetes: a automonitorização da glicose no sangue reduz significativamente as taxas de mortalidade e morbidade de pacientes com diabetes tipo 2. O estudo RoSSO (Retrolective Study Self-Monitoring of Blood Glucose and Outcome), realizado em Düsseldorf, Alemanha, baseou-se nos dados de mais de 3 mil pacientes que receberam o diagnóstico de diabetes tipo 2 na segunda metade da década de 90. O RoSSO mostrou que o risco de complicações em decorrência da doença, como problemas cardíacos, renais, amputações, cegueira, entre outros, foi reduzido em cerca de um terço no grupo que realizou a automonitorização; já a taxa de mortalidade foi reduzida à metade.
O estudo também revelou que o subgrupo de pacientes não dependentes de insulina – tratados apenas com medicação oral – tiveram o risco de morbidade reduzido em um terço, e o de mortalidade em cerca de 40%. "Os dados referentes aos pacientes medicados apenas oralmente mostram que, quanto mais cedo a automonitorização for iniciada, menor o risco de desenvolvimento das complicações relacionadas à doença", diz Luiz Turatti, endocrinologista do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Automonitorização
Outros dados da pesquisa mostram que, durante o período estudado, dos 9% de pacientes que apresentaram complicações, dois terços eram do grupo não monitorado; o mesmo se verifica em relação aos pacientes que morreram (3,7%). Em outras palavras, o dobro de pessoas do grupo não monitorado ou apresentou complicações ou faleceu, em comparação com o grupo monitorado. ?Isso mostra a importância da automonitorização na prevenção de complicações e mortes em decorrência do diabetes", diz Turatti.
O estudo foi feito a partir de um protocolo de vigilância epidemiológica: um banco de dados que armazena informações clínicas dos pacientes por longos períodos, e as coloca à disposição para análises estatísticas. O projeto desse estudo também possibilita avaliar os fenômenos associados ao tratamento, do tipo que ocorre realmente no controle de pacientes não internados, sob condições do dia-a-dia.