Começamos a sentir algum tipo de dor quando as terminações nervosas existentes sob nossa pele e nos músculos recebem um estímulo nocivo. Essa ?mensagem? é levada pelos nervos sensitivos até a medula, onde há uma resposta motora. Enquanto algumas pessoas sofrem muito e gritam com uma batida na ponta da mesa, por exemplo, outras podem não dar tanta importância, se incomodando apenas com dores bem mais fortes.
Talvez esteja aí a explicação de que a dor física também tem um sentido psíquico, pois de acordo com os especialistas, a dor é sempre subjetiva, pois é criada por alguns ?receptores especializados? presentes em nosso organismo, que são traduzidos em uma resposta emocional a esse estímulo. Outro ponto em que os médicos concordam é que a dor é uma questão de sofrimento que pode (e deve) ser evitada. Para o anestesista Carlos Martins, trata-se de uma questão de cidadania: todos os cidadãos devem ter acesso ao controle da dor crônica e aguda e aos cuidados paliativos.
Imperativo ético
O médico considera que diminuir o sofrimento da dor é um imperativo ético e que todos os serviços devem ser colocados a disposição das pessoas para que o sofrimento não exista ou seja minimizado. Um dos aspectos que também merece atenção tem a ver com o diagnóstico. Como revela Martins, mais de 60 por cento das pessoas com dor crônica não conhecem a causa dessa dor. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 30% da população do planeta sofre com dores crônicas. No Brasil, estima-se que em torno de 40 milhões enfrentem o problema.
O neurogeriatra e especialista em dor Luiz Carlos Benthien, diz que as entidades médicas mundiais reconhecem a importância de se registrar e mensurar a dor tanto aguda quanto crônica. Assim, recomendam que os pacientes, já na sua admissão para tratamento, sejam questionados sobre qual o grau da dor que estão sentindo. Em outras etapas da evolução clínica do tratamento a mesma pergunta deve ser repetida. ?O não-tratamento da dor pode ser considerado uma negligência médica, e todos os pacientes merecem respeito e esforço para que tenham a sua dor amenizada?, completa o especialista.
Com receita médica
A divulgação de pesquisas dando conta sobre o risco de problemas cardiovasculares ligados ao uso de antiinflamatórios deixou a classe médica e, principalmente, os pacientes em alerta. Hoje, os médicos, tendo conhecimento mais profundo dos efeitos colaterais, prescrevem tais medicamentos com mais cautela e segurança. ?Para quem necessita realmente, desde que não possua histórico de doenças renais, gástricas ou cardiovasculares?, comenta Leopoldo Piegas, diretor geral do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo.
A reumatologista Sonia Maria Anti foca a necessidade de se individualizar o tratamento da dor. ?Uma das opções é prescrever menores doses de antinflamatórios, prolongando o tempo de duração do processo terapêutico, a fim de minimizar as conseqüências ao organismo?, assegurou. Para o supervisor de clínica médica do Hospital do Coração de São Paulo, Abrão Cury, a maior preocupação passa a ser com a automedicação, ?uma verdadeira mania nacional?.
Uso indiscriminado
No entender de Cury, as pessoas só devem tomar antiinflamatórios sob prescrição médica, acabando com o que ele chama de ?receitas do doutor vizinho?. Para ele, não existe medicação sem qualquer tipo de risco, todas devem ser prescritas por médicos que avaliará os riscos e benefícios de cada droga. ?Só um médico é capacitado para decidir pela tomada do remédio, por quanto tempo e qual a dose necessária?, enfatiza.
Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo, salienta que cada droga tem uma absorção diferente e, por isso, reage diferentemente em cada organismo. ?Umas reagem melhor com a pessoa de estômago vazio, outras com ele vazio; umas são absorvidas rapidamente outras de forma mais lenta?, explica. Leopoldo Piegas acredita que uma opção seria os antiinflamatórios serem vendidos somente com receita, pois há um exagero por parte dos consumidores. ?O uso é indiscriminado?, atesta. Para ele, os pacientes que fazem uso contínuo de antiinflamatórios em razão de doenças crônicas, devem estar acompanhados por um médico e fazer exames periódicos para verificar existência de algum problema associado ao uso da droga.
Mulheres sofrem mais
Costuma-se dizer que os homens sentem mais dor do que as mulheres. Essas estariam muito mais acostumadas com dores, especialmente por terem que enfrentar episódios como trabalho de parto e cólicas menstruais. Segundo uma pesquisa inglesa, as mulheres não apenas reclamam mais de dor durante suas vidas, como também sofrem de episódios com freqüência e duração maiores e em mais áreas do corpo do que os homens. Enquanto as mulheres tendem a focar os aspectos emocionais, os homens se concentram nas sensações físicas. Como esses aspectos são sempre negativos, nelas o quadro se torna ainda mais grave.