As mulheres aproveitaram as transformações ocorridas no final do século passado, conquistaram direitos sociais e políticos, passaram a ocupar importantes postos de trabalho nas empresas e importantes cadeiras nas universidades.
Essa mudança de postura as obrigou a mudar consideravelmente o estilo de vida, fazendo-as enfrentar as agruras do estressante mercado de trabalho.
Nessa incursão, elas tiveram comprometidos o bem-estar, a qualidade de vida, a saúde e, até mesmo, a longevidade.
Com efeito, as mulheres nunca estiveram tão expostas ao infarto, doença tradicionalmente masculina.
De acordo com o cardiologista Eduardo Zen, entram como vilões nessa história a péssima qualidade na alimentação, a falta de uma atividade física regular, o estresse e o tabagismo.
A incidência de doenças cardiovasculares entre elas está aumentando. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC) são as principais causas de morte em mulheres com mais de 50 anos no Brasil. Apesar de o risco de câncer de mama ser a principal preocupação das mulheres, sabemos que a maior incidência de morte se refere às doenças cardiovasculares, um índice de 53% quando comparado aos 4% do câncer de mama.
Dados da American Heart Association demonstram que cerca de 60% das mulheres não têm conhecimento suficiente sobre doenças cardiovasculares, embora mais de 90% delas reconheçam que atividade física regular, redução de peso, controle do estresse e hábitos alimentares mais saudáveis, com redução de sal e colesterol na dieta, são medidas importantes para a redução do risco cardiovascular.
Exames preventivos
Conforme Alexandre Cury, cardiologista do Curitiba Santa Casa/Dasa, um melhor entendimento dos fatores de risco, como hipertensão, diabetes, colesterol, história familiar, tabagismo, obesidade, estresse e depressão, pode ajudar a controlar o aparecimento e a progressão dessas doenças, principalmente se a prevenção começar o mais precocemente possível.
Para o médico, seria ideal que a mulher adotasse hábitos saudáveis e preventivos desde cedo, de modo que ela apresentasse menos fatores de risco quando chegasse aos 50 anos.
“Ela poderia ter um risco menor de doença cardiovascular e uma vida notadamente mais longa e saudável”, assegura o especialista.
O médico revela que as mulheres apresentam os mesmos fatores de risco da doença coronariana que os homens e esses fatores podem afetá-las de maneira diferente.
“Devido à diferença no risco entre homens e mulheres, os esforços para prevenção e educação tradicionalmente foram direcionados aos homens”, reconhece Cury.
No entanto, está ficando cada vez mais evidente que a doença coronariana afeta significativamente as mulheres.
Ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, as mulheres morrem mais que os homens de doenças cardíacas. A confirmação vem da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Para piorar, grande parte delas não realiza exames preventivos com frequência, desconhecendo, por exemplo, o índice de sua taxa de colesterol. “Muitas não fazem nem idéia de que estão correndo risco de sofrer um ataque cardíaco”, lamenta Eduardo Zen.
Na infância
As recomendações que assustam os homens – mesmo que apenas um número ínfimo busque os check-ups preventivos -parece que, entre as mulheres, não encontram a mesma ressonância.
O resultado desse pouco caso é comprovado por pesquisas divulgadas pela SBC: a doença cardiovascular é a principal causa de morte em mulheres com mais de 35 anos.
O cardiologista José Roberto Barreto explica que um infarto costuma ser construído ao longo dos anos. “Ele é resultante da obstrução coronariana causada pelo excesso de gordura – colesterol e triglicérides – no sangue”, esclarece.
Assim, as placas de ateromas – camadas de gordura depositadas nas paredes arteriais – impedem que a irrigação san,guínea e o oxigênio cheguem ao coração, ocasionando assim a morte de uma parte do miocárdio.
“O quadro piora se a paciente, por exemplo, sofre de diabetes, tiver antecedentes familiares de doenças cardíacas ou sofrer de estresse crônico”, complementa o especialista.
Para Eduardo Zen, a mulher deve começar a se preocupar com o coração a partir dos 35 anos, quando os problemas se tornam mais evidentes. Muitas pacientes de alto risco não têm sintomas e não sabem que correm perigo.
Para ele, a prevenção de doenças cardiovasculares pode e deve começar na infância. Dá para começar combatendo pelo menos dois fatores de risco importantes: o sedentarismo e a obesidade.
Todas as mulheres, mesmo antes de passar pela menopausa – onde os problemas se agravam, devem colocar na sua agenda uma visita anual ao cardiologista. “Sempre é tempo de modificar hábitos e viver de forma sadia”, finaliza o especialista.
Números vermelhos
* Mulheres têm o dobro de risco que os homens de morrer após uma cirurgia de ponte de safena.
* Um terço das mulheres apresentam sintomas cardiovasculares atípicos, por isso não reconhecem nem tratam os sintomas dessas doenças.
* 38% das mulheres morrem após um ano de sofrer o primeiro ataque cardíaco.
* 35% das sobreviventes ao primeiro ataque têm outro em seis anos, em média.
* A maioria das mulheres só busca auxílio médico quando a situação já se tornou grave.
Fatores de risco
* Fumo
* Anticoncepcional
* Colesterol elevado
* Diabetes
* Obesidade
* Sedentarismo
* Pressão arterial elevada