Menopausa, depressão, tensão pré-menstrual (TPM), câncer de mama, osteoporose, HPV. Esses são apenas alguns dos distúrbios que deixam as mulheres de cabelos em pé, quando a questão é a manutenção de uma vida saudável. Isso sem falar da celulite, das estrias, da gordura localizada e do envelhecimento precoce. Mesmo com todas as aflições causadas pelas doenças predominantemente femininas e, nem sempre, fáceis de resolver, elas vão em frente, enfrentando o desafio de manter funcionando essa máquina engenhosa que é o corpo da mulher. Nos consultórios médicos e clínicas elas são maioria.
A boa notícia é que, nos dias de hoje, os avanços da medicina fazem com que a prevenção e o tratamento de diversas doenças e a resolução das principais questões de saúde estejam ao alcance de todas, ou melhor, quase todas. Os avanços obtidos ajudam a mulher a cuidar-se melhor. Além disso, nunca as mulheres receberam tantas informações sobre hábitos preventivos, muitos deles bastantes simples, mas que, no fim das contas, resultam em grandes benefícios na tão desejada qualidade de vida.
Ao longo da vida o organismo feminino passa por constantes alterações. E nem tudo é culpa da TPM. Os hormônios se agitam e, de tempos em tempos, transformam tudo. Para cada novo ciclo, uma nova etapa a ser cumprida. Assim como a primeira menstruação dá adeus à infância e inicia a capacidade de procriação, a gestação traz aquilo que é considerado sublime entre as mulheres: a oportunidade de poder gerar uma vida. Por seu lado, com o passar dos anos, a menopausa avisa que a batalha contra o envelhecimento está preste a começar. Por tudo isso, é compreensível que a saúde da mulher, tão distinta e abrangente, exija um acompanhamento personalizado e exclusivo.
Direito à saúde
?A mulher tem exigências específicas e precisa de um atendimento diferenciado?, resume Maria Helena Bastos, especialista em ginecologia e obstetrícia, que desenvolve um trabalho de saúde integral da mulher. Ela lembra que nem sempre médicos, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais da área da saúde estão capacitados para entender a fundo as características femininas. ?É preciso compreender, por exemplo, o quanto as alterações hormonais influenciam o comportamento psicológico e como essas disfunções repercutem nas reações físicas do organismo feminino?, afirma a médica.
De maneira geral, algumas regras valem para todas as mulheres, o que não quer dizer que a atenção à saúde deva ser igual para todas. Uma das regras básicas indica que, assim que se inicie o ciclo menstrual, a mulher deve procurar um ginecologista, tornando essa visita um hábito freqüente. De acordo com a médica, existem indicados para cada idade que ajudarão a investigar possíveis doenças. Exames como o papanicolau, auto-exame de mama e a mamografia são capazes de detectar o câncer, por exemplo, em seu início, a tempo de curá-lo totalmente. No Brasil, conforme dados do Inca – Instituto Nacional de Câncer, de cada 100 mil mulheres, quase a metade sofrerá de câncer de mama. Quanto ao câncer de colo do útero, a introdução da vacina contra o HPV pode ajudar a diminuir a incidência da doença, que atinge, aproximadamente, cerca de 20 mil mulheres.
Todo cidadão tem direito à saúde, conforme está escrito no artigo 6.º da Constituição Federal do Brasil. Mas nem tudo o que está na lei é cumprido. A médica Ana Maria Costa, especialista em atenção integral à saúde das mulheres, revela que, apesar dos inúmeros avanços, o atendimento ainda é deficiente pelo sistema público de saúde. A especialista analisou dados de 5.500 municípios brasileiros (95% do total de municípios) e as informações revelam que a situação da atenção à saúde das mulheres é preocupante.
Tratamento para poucas
No estudo da especialista, foram avaliados dados como o acompanhamento do pré-natal, planejamento familiar, prevenção de DSTs e exames como o papanicolau e a mamografia. A pesquisadora comprovou as enormes desigualdades regionais na oferta de atenção. Identificou ainda que as políticas municipais de saúde da mulher excluem as mulheres negras, índias, mulheres da zona rural e de assentamentos. Para essas mulheres não há um atendimento de fácil acesso e muito menos adequado às diversidades culturais desses grupos presentes de forma significativa em regiões brasileiras. A gerente de Atenção à Saúde da Mulher, Alessandra Fontana, reconhece que não adianta criar políticas públicas sem ter uma rede bem definida e estruturada, para que possa absorver as demandas que, com certeza irão surgir.
Com efeito, em muitos locais há possibilidade de diagnóstico, mas os tratamentos indicados só podem ser realizados em outras localidades. Para se ter uma idéia da precariedade no atendimento à mulher, em mais de 70% dos municípios não existe o aparelho específico para a mamografia. Em relação à prevenção do câncer de colo de útero, a situação é um pouco melhor: cerca de 60% dos municípios oferecem a cobertura. ?Se a prevenção é razoável, a oferta do tratamento é insuficiente, chegando a apenas 14% dos municípios?, comprova.
Na questão do planejamento familiar, de acordo com a pesquisadora, fica clara a perda da autonomia das mulheres na escolha do método anticoncepcional. A camisinha e a pílula anticoncepcional são distribuídas em 60% dos municípios. Ambos os métodos preventivos são os mais oferecidos pelo SUS. O ideal é que as opções estivessem disponíveis homogeneamente em todos os cantos do país, pois assim mulheres teriam a chance de optar pelos métodos que melhor lhes conviessem. Essa e outras questões tornam prioritários os investimentos na saúde da mulher, fato que repercute não só para elas, mas também para suas famílias, suas comunidades e para a sociedade como um todo.
Cuidados em todas as idades
Ao longo da vida, a mulher passa por profundas transformações, físicas e emocionais. Cada fase tem suas necessidades específicas. Por isso, adotar hábitos saudáveis pode fazer a diferença para que ela vivam mais e melhor.
Aos 20 anos
Período ideal para adquirir hábitos saudáveis para a vida inteira. Nessa etapa, o ginecologista deve receitar o anticoncepcional que mais se adapte ao seu organismo. Época de produção hormonal intensa. Não se deve deixar sintomas genitais sem tratamento.
É nessa época também que o organismo responde rápido a dietas e exercícios. É bom iniciar os auto-exames das mamas.
Aos 30 anos
A prática de exercícios nessa faixa etária ajuda a não desenvolver doenças relacionadas com os fatores hereditários, como diabetes e hipertensão. É época de começar a prevenir a osteoporose. A partir dos 30 anos a mulher deve começar a medir com mais assiduidade, os seus níveis de colesterol, triglicerídeos, hormônios e glicose.
A visita anual ao ginecologista é indispensável.
Aos 40 anos
O climatério começa a se manifestar por meio das irregularidades menstruais. O processo de envelhecimento se anuncia com mais nitidez. É hora de saber tudo sobre a reposição hormonal. Exames complementares, como o eletrocardiograma de esforço, para diagnosticar arritmias cardíacas e obstruções nas artérias, devem fazer parte da rotina anual. É tempo de densitometria óssea para detectar a osteoporose.
Aos 50 anos
Tempo de ficar preocupada com os efeitos do tempo sobre corpo e mente. Não deixar de ir ao oftalmologista anualmente. Investir em uma dieta saudável. Consulte um dermatologista para avaliação das manchas que começam a surgir e de eventuais lesões permanentes. Mantenha a rotina anual dos seus exames de sangue, que devem incluir testes de glicemia, tireóide e hormonal.
Aos 60 anos
Fique atenta aos sinais da depressão, que costumam ser comum nessa idade. Hora de reavaliar os medicamentos até então em uso. Aumentam as possibilidades de catarata e glaucoma, portanto, reforce os cuidados com a visão. Prefira os alimentos ricos em cálcio, desnatados, menos gordurosos. Se já passou dos 65, vacine-se anualmente contra a gripe e, se houver necessidade e assim o médico prescrever, contra a pneumonia. Previna quedas, fraturas e manchas roxas mantendo, à noite, uma luz fraca acesa. Tire tapetes e móveis do seu caminho.
Aos 70 anos
Continue mantendo os cuidados pessoais, evite situações que possam levá-las ao estresse e à depressão. Converse com seu médico sobre a continuação da TRH. Continue com as caminhadas.
Fique de olho nas pintas que mudam de cor ou que aparecem, inesperadamente, de forma saliente. Medir a pressão arterial constantemente. Atentar para possíveis sinais de demência, incontinência urinária, déficits de percepção (audição, visão).
Fonte: José Alexandre Portinho, ginecologista e especialista em gerenciamento da Saúde.