Saúde da mulher: Avanços da medicina não chegam a todas

Menopausa, depressão, tensão pré-menstrual (TPM), câncer de mama, osteoporose, HPV. Esses são apenas alguns dos distúrbios que deixam as mulheres de cabelos em pé, quando a questão é vida saudável. Por falar em ?cabelos em pé?, não podemos esquecer da celulite, das estrias, da gordura localizada e do envelhecimento precoce. Mesmo com todas as aflições causadas pelas doenças predominantemente femininas e, nem sempre, fáceis de resolver, elas vão em frente, enfrentando o desafio de manter funcionando essa máquina engenhosa que é o corpo da mulher.

Ainda bem que, nos dias de hoje, a medicina nunca esteve tão preparada para responder aos diversos questionamentos que afligem as mulheres nas questões de saúde. Os avanços obtidos ajudam a mulher a cuidar-se melhor. Além disso, nunca as mulheres receberam tantas informações sobre hábitos preventivos, muitos deles bastantes simples, mas que, no fim das contas, resultam em grandes benefícios na tão desejada qualidade de vida.

Como é difícil entender as mulheres! Não é que essa justificativa, na maioria das vezes preconceituosa, não é tão infundada assim? E nem tudo é culpa da TPM. Ao longo da vida o organismo feminino passa por constantes alterações. Os hormônios se agitam e, de tempos em tempos, transformam tudo. Para cada novo ciclo, uma nova etapa a ser cumprida. Assim como a primeira menstruação dá adeus à infância e inicia a capacidade de procriação, a gestação traz o gostinho ? doce e amargo – de poder gerar uma vida. Com o passar dos anos, a menopausa avisa que a batalha contra o envelhecimento vai começar. Uma saúde tão distinta exige um acompanhamento exclusivo.

Atendimento diferenciado

?A mulher tem exigências específicas e precisa de um atendimento diferenciado?, defende Cíntia Rodacki, coordenadora do curso de pós-graduação em Saúde da Mulher, do UnicenP – Centro Universitário Positivo. Ela lembra que nem sempre médicos, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais da saúde estão capacitados para entender a fundo as características femininas. ?É preciso compreender, por exemplo, o quanto as alterações hormonais influenciam o comportamento psicológico e as reações físicas?, afirma a especialista.

De maneira geral, algumas regras valem para todas as mulheres, o que não quer dizer que a atenção à saúde deva ser ?pasteurizada?. Uma das regras básicas indica que, assim que se inicie o ciclo menstrual, a mulher deve procurar um ginecologista freqüentemente. Há exames adequados para cada idade que ajudarão a prevenir doenças. Exames como o papanicolau, auto-exame de mama e a mamografia são capazes de detectar o câncer a tempo de curá-lo totalmente. No Brasil, em 2005, segundo o Inca ? Instituto Nacional de Câncer, de cada 100 mil mulheres, quase a metade sofrerá de câncer de mama e mais de 20 mil terão câncer no colo do útero.

Dados preocupantes

Todo cidadão tem direito à saúde, conforme está escrito no artigo 6.º da Constituição Federal do Brasil. Mas nem tudo o que está na lei é cumprido. A prova disso é uma pesquisa de doutorado da médica Ana Maria Costa, sobre atenção integral à saúde das mulheres, que revelou um atendimento ainda bastante deficiente pelo sistema público de saúde. A especialista analisou dados de 5.500 municípios brasileiros (95% do total de municípios) e as informações revelam que a situação da atenção à saúde das mulheres é preocupante.

Foram avaliados dados como acompanhamento do pré-natal, planejamento familiar, prevenção de DSTs e exames como o papanicolau e a mamografia. A pesquisadora comprovou as enormes desigualdades regionais na oferta de atenção. Identificou ainda que as políticas municipais de saúde da mulher excluem as mulheres negras, índias, mulheres da zona rural e de assentamentos. Para essas mulheres não há um atendimento de fácil acesso e muito menos adequado às diversidades culturais desses grupos presentes de forma significativa em regiões brasileiras.

Investimentos prioritários

Em muitos locais há possibilidade de diagnóstico, mas o tratamento só pode ser feito em outra cidade. A disparidade é tão grande, que em 81% dos municípios não existe o aparelho específico para a mamografia. Em relação à prevenção do câncer de colo uterino, a situação é um pouco melhor: 68% dos municípios oferecem essa cobertura; no entanto, se a prevenção é razoável, Ana Maria atesta que o tratamento é oferecido em apenas 14% dos municípios.

Na questão do planejamento familiar, de acordo com a pesquisadora, fica clara a perda da autonomia das mulheres na escolha do método anticoncepcional. A camisinha é distribuída em 53% dos municípios e a pílula, em 47%. Ambos os preventivos são os mais oferecidos pelo SUS. Em contrapartida, os métodos hormonais injetáveis já são entregues em 13,4% dos municípios, algo preocupante, comenta a médica, pois mostra a influência da indústria farmacêutica nas ações de governo. O ideal é que as opções estivessem disponíveis homogeneamente em todos os cantos do país, pois assim mulheres teriam a chance de optar pelos métodos que melhor lhes conviessem. Essa e outras questões tornam prioritários os investimentos na saúde da mulher, fato que repercute não só para elas, mas também para suas famílias, suas comunidades e para a sociedade como um todo.

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