Imagine suas artérias e seus delicados e ramificados vasos capilares tornando-se mais estreitos e rígidos – uma consequência dos sedentarismo, do estresse, do excesso de peso e da alimentação rica em gorduras e açúcar.
Por dentro, sem ser visto nem sentido, seu sangue move-se como um rio que se espreme em um desfiladeiro pedregoso, batendo com tanto vigor contra as paredes das artérias, podendo danificá-las ou enfraquecê-las.
Tal pressão pode romper os vasos do cérebro (causando um AVC) ou do abdome (aneurisma abdominal).
Ela pode, também, provocar a dilatação e o enfraquecimento do coração. Não é a toa que a hipertensão é uma das culpadas diretas pela aterosclerose nas artérias coronárias, estágio anterior ao ataque cardíaco.
Para o cardiologista Marcos Bubna, do Hospital Cardiológico Costantini, de Curitiba, a pressão alta é vista como o mais importante de todos os fatores de risco cardiovascular e, por não apresentar sintomas na fase inicial, pode ser considerada como uma “assassina silenciosa”.
Os critérios médicos definem a hipertensão quando o paciente apresenta pressão arterial acima dos 140 por 90 mmHg. “Na verdade, qualquer resultado acima de 120 por 80 mmHg ou 12×8, como é popularmente conhecida a medida, já requer mais cuidados”, alerta o especialista.
Cenário preocupante
No Brasil, um estudo conduzido em 2008, com médicos de todas as regiões, investigou 2.810 pessoas em tratamento da hipertensão arterial, buscando avaliar o controle da doença.
O trabalho Controlar Brasil, liderado por Fernando Nobre, presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), contou com a participação de mais de 300 médicos.
Na análise total, independentemente da condição a que se enquadravam os pacientes, 53,3% deles apresentava-se com pressão arterial maior que 140 x 90 mm Hg, bem acima do valor tolerado. Para pacientes de alto risco, o controle da doença não passa dos 35%.
Conclui-se, portanto, que mais de 45% deles não estavam com a pressão adequadamente controlada. O estudo dividiu os indivíduos avaliados em quatro grupos pré-definidos de risco crescente.
O controle da pressão arterial segundo em cada grupo foi, respectivamente: Grupo A = 61,7%; Grupo B = 42,5%; Grupo C = 41,8% e Grupo D = 32,4 %. Os índices mostram um cenário ainda mais grave, pois os pacientes de maior risco e que, portanto, necessitam de controle mais intenso eram exatamente os que menos apresentavam a pressão arterial controlada.
Sintomas silenciosos
Índice que representa em torno de 17 milhões de portadores da doença. Por isso, é necessário aferir a pressão frequentemente, já que não detectar ou não tratar a pressão alta aumenta muito o risco de morte.
Walmor Lemke, cardiologista do Hospital Vita, explica que, geralmente, a hipertensão arterial é uma doença que não apresenta sintomas alarmantes, e é justamente isso que a torna perigosa e nociva. Com efeito, muitas pessoas ignoram que sofrem de hipertensão.
Em muitos casos, o aumento da pressão arterial não se enquadra nos critérios de crise hipertensiva e não necessita de internação.
Outras vezes, entretanto, pode ser necessário atendimento imediato e hospitalização.
“As elevações ocasionais da pressão podem ocorrer com exercícios físicos, nervosismo, preocupações, drogas, alimentos, fumo, álcool e café”, esclarece o especialista.
Determinação
Pessoas com histórico familiar, doenças cardiovasculares, fumantes, obesos e com colesterol alto estão entre os principais grupos de risco da doença. Para Lemke, é importante cuidar da qualidade de vida, pois fatores como estresse e má alimentação (principalmente, o excesso de sal) contribuem muito, para o aumento da pressão arterial ou desencadeamento de uma crise hipertensiva. É necessário buscar atendimento médico imediatamente para avaliação do quadro e diagnóstico.
O endocrinologista Mauro Scharf do Frischmann Aisengart/DASA dá dicas sobre como diminuir o consumo de sal. São elas: retirar o saleiro da mesa, controlar o uso do sal no cozimento, preferir sempre alimentos frescos, evitar os temperos, sopas prontas, embutidos, conservas salgadas, salgadinhos e queijos gordos. “Não esqueça também de sempre ler os rótulos dos alimentos e escolher as versões com pouco sódio”, completa o médico.
Para o tratamento da hipertensão é necessário muito esforço e determinação dos pacientes. Apesar de não ter cura, com um controle e seguindo as orientações médicas é possível ter uma boa qualidade de vida. Segundo Charles Cardoso de Paulo, cardiologista do Hospital Nossa Senhora das Graças, é fundamental seguir alguns cuidados.
“O hipertenso deve diminuir ou abandonar o consumo de bebidas alcoólicas, combater o sobrepeso, incluir atividade física em sua rotina, não fumar, controlar o estresse, e principalmente, verificar a pressão arterial regularmente”, ressalta.
O inimigo é o sal
Um primeiro passo antes do uso de medicação é reduzir a quantidade de sal na comida, pois o sal retém água no corpo, mas somente algumas pessoas com hipertensão são extremamente sensíveis a ele, portanto esse procedimento não corrige totalmente o problema.
O sal pode ser “enxotado” das paredes das artérias – e assim do organismo – com dieta de restrição de sal por muito tempo (alguns anos) ou com o uso regular de diuréticos.
Betabloqueadores são associados frequentemente aos diuréticos por diminuírem a frequência e a intensidade das contrações cardíacas. Ambas as ações bombeiam menos fluídos por minuto nos vasos.
É muito provável que no decorrer dos anos, a maioria das pessoas com mais de 60 anos recebam a indicação de tomarem, como rotina, uma medicação para pressão – como inibidores ECA ou betabloqueadores, a fim de prevenir danos decorrentes da pressão alta.
Correm riscos
* Aqueles que abusam do álcool
* Os fumantes
* Os portadores de diabetes
* Quem não mantém uma alimentação saudável
* Quem tem caso de hipertensão na família
* Os gordinhos
* Quem utiliza muito sal na alimentação
Principais sintomas de uma crise hipertensiva
* Sensação de mal-estar ou falta de ar
* Intensa dor de cabeça ou nuca
* Ansiedade ou agitação
* Tontura
* Visão “borrada”
* Dor no peito