Uma das principais dificuldades para se tratar as doenças reumáticas é o espaço de tempo entre o surgimento da doença e o seu diagnóstico efetivo. Isso porque, até o paciente chegar ao consultório de um reumatologista, o especialista indicado para cuidar desses distúrbios, ele já perambulou por consultórios de outros médicos, entre ortopedistas, traumatologistas e clínicos gerais. Esse é um dos principais temas discutidos no Congresso Brasileiro de Reumatologia, que terminou nesta terça-feira no Rio de Janeiro.

“Em benefício dos pacientes, precisamos eliminar de vez esse verdadeiro rali”, declarou o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Caio Moreira. O médico acredita que a falta de informação é o principal obstáculo para se reverter a situação. As pessoas precisam saber que “se aquela dorzinha numa articulação persistir por seis semanas, é um bom sinal para que um especialista seja consultado”. O mesmo serve, segundo ele, para os médicos de outras especialidades, que precisam receber informações atualizadas dos novos consensos sobre as doenças reumáticas e seus tratamentos, além de se inteirar sobre a nova gama de medicamentos que combatem eficazmente a doença.

Exame clínico

Para Geraldo Castelar, professor de Reumatologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o diagnóstico precoce é de suma importância para o controle da maioria das doenças reumáticas, pois consegue evitar complicações que podem incapacitar os pacientes de forma definitiva. “O exame clínico, realizado em consultório, é eficaz para a identificação das doenças em cerca de 80% dos casos”, assegura. Em alguns casos, é necessária a solicitação de exames complementares para auxiliar na investigação e diagnóstico da doença.

Para a detecção precoce da artrite reumatóide, uma das doenças reumáticas mais incapacitantes, foi apresentado no congresso um novo tipo de exame de sangue, conhecido por Anti-CCP, altamente específico para o prognóstico da doença e ainda pouco difundido no Brasil. O reumatologista paranaense Acyr Rachid Filho explica que artrite é um termo amplo usado para designar diversas condições da doença e que pode ser percebida por meio de uma dor intermitente, inchaços e calor nas juntas. “A artrite reumatóide, por exemplo, pode causar danos nas cartilagens, ossos, tendões e ligamentos, se tornando extremamente incapacitante”, enfatiza.

Avanços consideráveis

Gestos simples, como abrir uma torneira, pentear o cabelo ou amarrar os sapatos, para os portadores da doença se tornam verdadeiros suplícios. Apesar de não ser referida como uma doença exclusivamente feminina, ela ataca três vezes mais mulheres do que homens, tendo um efeito devastador na qualidade de vida dos portadores. A artrite reumatóide causa deformidades físicas, cansaço e uma causa importante de aposentadoria precoce. Talvez seja por isso que a crença popular se refere ao reumatismo como uma doença de velho, fato prontamente contestado por Rachid, que diz ser justamente o contrário, o reumatismo pode ser considerado uma doença da infância, já que a manifestação dos sintomas pode acontecer nos primeiros anos de vida.

A artrite reumatóide é uma doença que requer tratamento para toda a vida e pode diminuir consideravelmente a expectativa de vida do portador. Segundo os especialistas, o grande dano estrutural causado pela doença ocorre nos primeiros dois anos do seu surgimento. Neste período, se não tratados, os pacientes podem ter uma incapacidade moderada que pode se acentuar com o decorrer dos anos e se tornar total. A principal preocupação dos médicos é de que os pacientes estejam atentos aos sintomas e sejam encorajados a procurar ajuda médica especializada. “O mais cedo possível”, frisa Geraldo Castelar.

O tratamento da doença vem conseguindo excelentes resultados, fruto da evolução da biotecnologia. No Brasil, está disponível o Humira, o primeiro anticorpo monoclonal totalmente humano indicado para o tratamento de artrite reumatóide (AR) de pacientes adultos. Segundo extensos estudos clínicos, o medicamento reduz os sintomas e inibe a progressão da doença. O novo medicamento possibilita uma melhora significativa naqueles pacientes que não responderam à terapia convencional, permitindo um prognóstico evolutivo bastante favorável. Pelas suas características, é o medicamento de maior sucesso nos 115 anos de história da Abbott, segundo avaliação do próprio laboratório. O Humira não está a venda em farmácias e deve ser indicado pelo médico reumatologista. Em alguns estados, o medicamento faz parte da lista de medicamentos excepcionais e pode ser obtido gratuitamente nas secretarias estaduais de saúde.

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