A Fundação Getúlio Vargas divulgou no início do ano os números do IPC-3 (Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade), que é a inflação medida entre os itens mais utilizados pelos idosos do nosso País. O valor acumulado do ano foi de 2,26%, enquanto a inflação ao consumidor geral ficou em 2,06%, no mesmo período. O principal vilão foi o aumento nos custos dos serviços de saúde, que para os idosos têm um maior peso em relação à medida da inflação das famílias em geral.
Isso mostra como os brasileiros da terceira idade, depois de muito trabalhar para manter uma vida digna e tranqüila durante a aposentadoria, têm muita dificuldade para conseguir um serviço de saúde barato e eficiente.
Com o serviço público, é difícil contar. As filas e a espera por uma consulta ou um exame minam ainda mais a saúde de quem já quase não a tem. Muitas medicações, que teriam de ser distribuídas pelos postos de saúde gratuitamente, vivem em falta. Há pouquíssimos exemplos de locais onde a saúde pública funciona como deve ser.
Quando o idoso tem mais condições financeiras pode apelar para os convênios de assistência médica. Mas o que seria uma solução, muitas vezes acaba servindo como uma fonte de dor de cabeça para o associado. Uma regra que deveria ser praticada por toda empresa é: tratar bem o seu cliente para não perdê-lo para a concorrência. Infelizmente, no ramo dos convênios médicos, esse preceito básico do mercado nem sempre acontece.
Um exemplo real: um paciente de 87 anos, com dificuldade de locomoção, tem uma solicitação para realizar um exame chamado Ecocardiograma com Doppler, uma espécie de ultra-sonografia do coração. O convênio do paciente não autorizou o procedimento porque o médico não colocou a palavra ?colorido? na solicitação médica e o hospital para onde o paciente se dirigiu só realizava o exame colorido. Esse pequeno detalhe inviabilizava a sua autorização.
O que dizer a um paciente nessas condições? Pois o paciente teve que marcar o seu exame para uma data posterior a fim de ter tempo de solicitar uma autorização mais ?completa? com o seu médico. Quanta diferença fez essa palavrinha, não? Os mais de R$ 600,00 que ele paga ao convênio médico por mês não foram suficientes para cobrir um exame que não vai ter um custo final maior do que R$ 200,00 sem a necessidade de ter um ?pedido médico mais completo?.
Segundo dados do IBGE, mais de 20% dos idosos são responsáveis por perto de 90% da renda familiar. Por isso, concluímos que essa faixa da população merece ainda mais respeito e consideração.
Cláudio Boriola (foto), consultor financeiro e especialista em economia doméstica e direito do consumidor.