Rio de Janeiro – O aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses de vida pode ser uma forma de prevenir o câncer. Essa é uma das conclusões apresentadas no relatório financiado pelo Fundo Mundial para a Pesquisa em Câncer divulgado nesta terça-feira (27), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca). Para a coordenadora da área de alimentação e saúde do Inca, Sueli Couto, essa é uma das maiores novidades do estudo.
Segundo ela, as pesquisas apontam evidências muito fortes da relação entre a amamentação e o câncer.
?O aleitamento materno evita a desnutrição infantil, que aumenta os riscos de obesidade na idade adulta, e a obesidade está intimamente relacionada com o desenvolvimento do câncer?, explicou Couto, lembrando que a amamentação também previne os tumores de mama nas mães.
De acordo com a nutricionista, 30% dos casos de câncer poderiam ser evitados, com estilos de vida mais saudáveis, já que vários tipos da doença – como os de estômago, boca, esôfago, mama, intestino e próstata – estão diretamente relacionados à alimentação, nutrição e atividade física.
Ela destacou, no entanto, que as mudanças de hábitos são difíceis, pois envolvem vários fatores, simbólicos e culturais, que vão além da informação sobre a exposição aos riscos da doença.
?É um misto de fatores. A informação é importante, mas não é suficiente para mudar comportamento, para alterar os hábitos alimentares. Se fosse suficiente, profissionais de saúde não adoeceriam", disse a nutricionista.
"Na verdade, o alimento vem cheio de simbolismo e da influência do ambiente, da mídia, da cultura local. Existem muitos fatores que influenciam o comportamento do indivíduo?, argumentou.
Para Couto, essa realidade aponta a necessidade do desenvolvimento de ações de prevenção voltadas ao estímulo da alimentação saudável desde o início do ciclo de vida.
?Com o aumento da expectativa de vida, cresceu a incidência de câncer, porque as pessoas começaram a viver mais. Hoje, há uma preocupação com alimentação adequada desde os primeiros dias de vida. É preciso influenciar a gestante para que ela tenha uma gravidez saudável e faça a amamentação exclusiva até o sexto mês", defendeu a especialista.
"Além disso, também é importante a introdução dos alimentos para o bebê depois desse período e, mais tarde, a alimentação escolar, quando a criança está numa fase de adquirir bons hábitos. Essas são medidas importantes para evitar o desenvolvimento do câncer na idade adulta?, explicou.
De acordo com ela, promover a alimentação saudável não é uma questão exclusiva da área da saúde. Por esse motivo, o Inca vem buscando articular parcerias, tanto dentro do governo federal, como nos níveis estadual e municipal de gestão.
Couto lembrou iniciativas que já vêm sendo desenvolvidas neste sentido, no âmbito do governo federal, como o projeto de cantinas escolares saudáveis do Ministério da Saúde, o programa de alimentação escolar do Ministério da Educação e, ainda, uma resolução, em elaboração pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para regulamentar a propaganda de alimentos voltadas ao público infantil.
?É uma conjugação de esforços na direção da adoção de hábitos mais saudáveis da população?, definiu.
