Há três anos, a luta contra o câncer ganhou mais um aliado: a quimioprevenção. Seu princípio é iniciar um tratamento à base de drogas em mulheres que apresentam pré-disposição à doença, mas antes do seu aparecimento. O Tamoxifeno foi a primeira substância aplicada com sucesso para se evitar o câncer de mama em mulheres nessa condição, com respostas positivas na casa dos 47%. De acordo com o médico Alexandre Vicente de Andrade, mastologista, oncologista ginecológico e professor da disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina da PUC-SP, outras pesquisas mundiais estão em fase de conclusão e, muito provavelmente, em pouco tempo teremos novas drogas para prevenir outros tipos de câncer.
O uso do Tamoxifeno vinha sendo pesquisado por cinco instituições internacionais localizadas na Inglaterra, Itália e Estados Unidos. A primeira a apontar a efetividade do medicamento foi a NSABP (National Surgical Adjuvant Breast and Bowel Project), dos Estados Unidos, cujo estudo foi concluído e publicado em 1998. “A conclusão do trabalho apontou que o uso desse medicamento reduz em até 47% o surgimento de tumores malignos em mulheres com pré-disposição à neoplasia mamária”, comenta o dr. Alexandre Vicente. Um outro aspecto positivo é que o Tamoxifeno, hormonioterápico que não apresenta efeitos colaterais severos, como náuseas fortes ou perda de cabelos e pêlos.
Mesmo diante dos dados animadores, ainda existem dúvidas quanto ao uso do Tamoxifeno como elemento de prevenção do câncer de mama. “Ficou convencionado que o medicamento seria ministrado durante cinco anos a essas mulheres, mas não sabemos, ainda, por quanto tempo a droga age eficazmente no organismo e, por isso, ainda discutimos o quê fazer depois desse período”, relata o dr. Alexandre. “Também sabemos que esse medicamento aumenta o risco da pessoa desenvolver o câncer do endométrio. Porém, é uma neoplasia com baixa incidência e morbilidade”, pondera.
Alguns outros estudos envolvendo novas drogas mostram índices de sucesso ainda maiores na prevenção do câncer. Uma dessas pesquisas testa o poder do Raloxifeno no combate ao câncer de mama, cujos primeiros índices apontam para 74% de sucesso. “Atualmente, podemos afirmar que não oferecer a quimioprevenção para pacientes com pré-disposição à doença não é uma boa prática médica”, finaliza.
Quanto antes melhor
Novas tecnologias ajudam a identificar tumores em estágios cada vez maisprimários. Com isso, aumentam os índices de sucesso nos tratamentos.
Há uma equívoco conceitual nas campanhas de prevenção do câncer de mama. O auto-exame das mamas, as mamografias e outros tipos de exames são, na verdade, formas de diminuir os riscos de morte pela doença e não técnicas de prevenção propriamente ditas. A distorção não reduz de forma alguma a importância dessas ações. Muito pelo contrário. “As chances de se tratar com sucesso um tumor maligno, aumenta na exata proporção em que são diagnosticados mais precocemente”, afirma o médico Alexandre Vicente de Andrade, mastologista, oncologista ginecológico e professor da disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina da PUC-SP.
AVANÇOS – Nesse campo ? o da detecção precoce da doença -, a medicina comemora alguns avanços. Nos últimos anos surgiram novas tecnologias que já se incorporaram ao arsenal que os médicos têm à disposição para a batalha. Uma dessas novas armas é a mamotomia, indicada para lesões assintomáticas (não palpáveis) com menos de dois centímetros de diâmetro. Segundo o dr. Alexandre Vicente, a técnica pode ser considerada como o melhor agente atual para investigar alterações observadas através do ultra-som ou das mamografias.
A mamotomia tem conquistado a simpatia dos médicos de todo o mundo pelo fato de ser mais precisa que a punção aspirativa ? método pelo qual se extrai células mamárias por meio de uma agulha de injeção ? e menos drástica que a biópsia cirúrgica. O procedimento é inteiramente teleguiado a partir de uma imagem da lesão, que tanto pode ser obtida pelo ultra-som quanto pela mamografia. A partir desse guia, o médico faz uma pequena incisão na mama (anestesiada localmente) e introduz a agulha do mamotome (aparelho necessário para o exame). Por meio dela são coletados os fragmentos do tecido mamário suspeito que seguirão para biópsia. “Na prática, o procedimento evita cirurgias desnecessárias”, conta o médico.
Infelizmente, nem todos os centros dispõem desse recurso. “O aparelho custa cerca de R$ 150 mil e cada agulha, utilizada uma única vez, custa R$ 800, aproximadamente”, revela. O fator custo impede, também, que a maioria dos convênios médicos permita o exame cujo custo médio é de R$ 1,5 mil.
Dr. Alexandre Vicente de Andrade, formado pela PUCSP, professor da disciplina
