Bastou uma criança habitar a casa para o problema vir à tona: o monstro do quarto bagunçado. Não é para menos, é nesse cantinho totalmente seu que elas ouvem música, navegam pela internet, conversam, se divertem e, de vez em quando, fazem a lição de casa. No entanto, quase sempre, para desespero dos pais, deixam o quarto totalmente de cabeça para baixo. Parece que um furacão acabou de passar por ali. Gavetas abertas, roupas jogadas, brinquedos, revistas, CDs e outras bugigangas espalhadas pelo chão. O conselho de especialistas é de que, antes de abrir a porta e sofrer um chilique, os pais relaxem e mantenham a calma.
Alguns pais preocupam-se com a possibilidade de um quarto bagunçado preparar caminho para uma vida adulta desorganizada. Conforme a psicóloga Célia Carta Winter, essa é uma questão nem um pouco provável, já que muitas crianças e adolescentes totalmente desorganizados se tornam adultos conscientes das suas atribuições e obrigações. ?Eles aprendem mais com atitudes coerentes e pelos bons exemplos dos pais?, atesta.
Processo em construção
Tudo porque, na maioria das vezes, o senso de organização dos adolescentes é bem diferente do repassado pelos pais. ?O que, para o adulto, significa lixo, representa, para eles, o seu universo?, explica a psicóloga Maria Helena Fávero. Por isso é que, se os pais resolverem arrumar o quarto a seu modo, sem a ajuda e conhecimento dos filhos, estarão sujeitos a reclamações. Essa arrumação pode ser considerada uma intromissão e poderá fazer com que o relacionamento entre as partes se torne mais complicado.
?Um pouco de desorganização não faz mal nenhum?, admite Célia Winter. Para ela, eles podem estar querendo definir os seus espaços e essa transformação implica em ajustes que devem ser avaliados ao longo do tempo. Do mesmo modo, o excesso de organização aponta para um alvo semelhante. Em qualquer um dos casos, é importante que os pais observem atentamente seus filhos para identificar e tentar corrigir os excessos. Para a especialista, o mais importante de tudo é ir construindo com eles esse processo, fazendo com que participem e assumam a sua parcela de responsabilidade.
Geralmente, crianças torcem o nariz para as tarefas domésticas. Maria Helena Fávero diz que uma alternativa é deixar claro o que você espera deles, explicar o porquê de forma objetiva, o que ela chama de contingência positiva, ou seja, é preciso mostrar que às vezes temos de encarar tarefas de que não gostamos, mas que precisam ser realizadas. ?A idéia de que, mesmo não gostando de uma tarefa, é preciso fazê-la, é uma lição valiosa que um pai pode ensinar ao filho?, reconhece a especialista. O bom senso sempre deve prevalecer. Antes de colocar uma restrição ou revalidar uma regra, sempre é bom refletir se vale a pena brigar por ela.
OLHO: Quando há excesso de normas ou quando os pais reclamam de tudo, o jovem pode não reconhecer o que é realmente importante.